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Percepção de risco fiscal piora após fala de Haddad e taxas de juros avançam
Os juros futuros encerraram a segunda-feira em forte alta, dado o aumento do risco de mudança da meta fiscal, após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não ter defendido, pelo menos com a contundência esperada, o compromisso de zerar o déficit primário no ano que vem. Na sexta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia colocado o objetivo em xeque. Em outra frente, o governo finalmente anunciou os indicados para as duas diretorias do Banco Central, com o nome do coordenador do IPC-S da Fundação Getulio Vargas (FGV), Paulo Picchetti, sendo bem recebido.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) janeiro de 2025 fechou em 11,155%, de 10,977% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2026 subiu de 10,79% para 11,05%. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 11,22% no fechamento da sessão, de 10,94% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2029 avançou de 11,35% para 11,60%.
Já na sexta-feira, havia causado estragos na curva a avaliação de Lula sobre a área fiscal, ao dizer que a meta de primário “não precisa ser zero”, citando, na sua percepção, um custo alto demais, como a necessidade de cortes em investimentos, e que ela dificilmente seria atingida.
Nesta segunda-feira, após reunir-se com Lula, Haddad chamou uma entrevista coletiva. Disse ter apresentado a Lula várias alternativas para buscar o equilíbrio fiscal e, que, se tiverem o aval do presidente, serão apresentadas ao Congresso, incluindo a possibilidade de antecipação de medidas que eram previstas só para 2024. Mas quando questionado pelos jornalistas sobre a questão da meta de déficit zero propriamente dita, ele respondeu que “a ‘minha meta’ está mantida para buscar equilíbrio fiscal de todas as formas justas e necessárias”, antes de deixar o auditório enquanto ainda era questionado pelos repórteres.
Não passaram despercebidos o uso da primeira pessoa, o que para alguns analistas foi lido como um sinal de isolamento do ministro dentro do governo, nem a irritação de Haddad na entrevista. “Estava nitidamente desconfortável, adotando tom mais ríspido em suas respostas aos jornalistas, algo que destoa do modo cortês do ministro da Fazenda”, destaca Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos. “Algo mais profundo está velado nesse quebra-cabeça, visto que há uma clara mudança de ‘modus operandi’ do Executivo junto ao Legislativo.”
Até as taxas curtas, que em semana de Copom oscilavam perto da estabilidade na primeira etapa, passaram a subir efetivamente à tarde, dado o impacto na precificação das apostas para o ciclo da Selic. Por volta as 16 horas, o corte de 50 pontos-base nesta quarta-feira estava amplamente precificado, mas para o Copom de dezembro a curva apontava -42 pontos, ou seja, 30% probabilidade de desaceleração do ritmo para 25 pontos. Para o fim de 2023, a projeção estava entre 11,75% e 12,00%, enquanto a precificação de Selic no fim de 2024 estava pouco abaixo de 11%.
Sobre os indicados para o BC, agradou bastante o nome de Picchetti para a diretoria de Assuntos Internacionais no lugar de Fernanda Guardado, cujo mandato expira em 31 de dezembro. Havia algum receio de que a diretora, considerada da ala mais hawkish, fosse substituída por alguém de perfil heterodoxo e, por isso, a indicação do professor foi recebida com alívio. Doutor em Economia pela University of Illinois e mestre em Economia pela USP, especializado em econometria, Picchetti é uma das maiores autoridades do País no tema da inflação e, na avaliação do mercado, é um nome de perfil técnico para o Copom, uma vez aprovado pelo Senado.
Para a diretoria de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta no lugar de Mauricio Moura, que também deixa a pasta no fim do ano, o governo indicou Rodrigo Teixeira, antigo funcionário do BC e que trabalhou com Haddad na prefeitura de São Paulo, e também no governo federal. Hoje, está na Casa Civil.
Com informações do Estadão Conteúdo.
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