PIB Resiliente: veja que fatores contribuíram para resultado acima do esperado

A economia brasileira cresceu 0,9% no segundo trimestre, na comparação com os primeiros três meses do ano – bem acima das projeções de mercado

As academias de ginástica fazem parte do setor de serviços (Foto: Danielle Cerullo/Unsplash)
As academias de ginástica fazem parte do setor de serviços (Foto: Danielle Cerullo/Unsplash)

A economia brasileira continuou a crescer no segundo trimestre. O Produto Interno Bruto (PIB) avançou 0,9% no período, na comparação com os primeiros três meses do ano – bem acima da mediana de 0,3% projetada pelo mercado. O dado foi divulgado pelo IBGE nesta sexta-feira, 1º. Na comparação com o mesmo trimestre de 2022, a alta foi de 3,4%.

Apesar de o ritmo de crescimento ter sido menor do que o apurado nos primeiros três meses do ano – de 1,8%, dado que foi revisado pelo IBGE -, os economistas viram “resiliência” na atividade econômica. “Ficou melhor do que era esperado até há alguns meses, o que mostra que existe uma resiliência”, afirmou Alessandra Ribeiro, sócia e economista da consultoria Tendências.

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Avaliação do mercado: cenário pode mudar

Esse cenário, porém, tende a mudar nesta segunda metade do ano. Na avaliação do mercado, se o primeiro semestre foi marcado por crescimento, o segundo deverá ser de desaceleração, com a possibilidade até de leve recuo. “Eu trabalho com uma economia bem de lado neste segundo semestre”, disse Alessandra. “Esse contexto para a economia brasileira é de desaceleração. Estamos vendo a economia global perder força, e a economia brasileira deve sentir esse efeito”, completou Felipe Salles, economista-chefe do C6 Bank.

Um outro ponto para a desaceleração tem a ver com o aperto monetário. A queda da taxa básica de juros (Selic) leva um período para beneficiar a economia, e deve resultar em algum alívio para a atividade apenas no ano que vem. “É uma economia que deve esfriar (no segundo semestre) para depois começar a retomar ao longo de 2024”, afirmou Salles.

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No ano

Ainda assim, o mercado anunciou uma onda de revisões para cima das projeções para o PIB fechado em 2023. Entre outros fatores, essa mudança leva em conta o chamado carregamento estatístico (quando o resultado de um trimestre causa um impacto positivo nos seguintes, assumindo variação nula nesses períodos seguintes). Esse número já é de 3,1%, aumentando as chances de um número maior do que os 2,9% de 2022.

Pesquisa do Projeções Broadcast mostrou que a mediana para o PIB de 2023 subiu de 2,4% para 3%. As estimativas agora vão de 1,5% a 3,3%. Para o PIB do terceiro trimestre, na margem, a mediana passou de estabilidade (0%) para recuo de 0,1%. Já a projeção intermediária para o quarto trimestre saiu de queda de 0,1% para estabilidade.

Indústria e serviços puxam resultado

Pelos números do IBGE, a alta de 0,9% do PIB no segundo trimestre se deve, em grande parte, ao desempenho da indústria e do setor de serviços. No recorte da indústria, a alta foi de 0,9% ante os primeiros três meses do ano – a variação mais acentuada desde o segundo trimestre de 2022, quando o segmento havia crescido 1,2%.

Já os dados referentes ao setor de serviços indicaram uma alta de 0,6%. Já são 12 trimestres sem variações negativas no segmento. Esse avanço foi disseminado entre os segmentos, com destaque para atividades financeiras (2,30%), transporte e armazenagem (0,90%) e construção (0,70%).

Com uma safra concentrada no primeiro trimestre, a agropecuária recuou 0,9%, mas essa queda veio mais branda do que as projeções apontavam. Na comparação com o segundo trimestre de 2022, a alta continuou forte – de 17%.

Pela ótica da demanda, o consumo das famílias cresceu 0,9% no segundo trimestre ante o primeiro, o que representou o maior avanço desde o segundo trimestre de 2022 (1,6%), enquanto o consumo do governo marcou alta de 0,7% na mesma base de comparação.

Ao longo dos últimos meses, os dados divulgados de comércio, serviços, indústria e mercado de trabalho foram deixando claro os sinais de resiliência da economia. Com isso, parte das projeções que apontavam para uma queda do PIB no segundo trimestre, na comparação com os primeiros três meses do ano, passou a ser revisada para uma expansão.

Fatores internos e externos

Essa resiliência pode ser explicada tanto por fatores internos quanto externos.

Internamente, o aumento da transferência de renda pelo governo por meio do Bolsa Família, o reajuste acima da inflação do salário mínimo e a antecipação do 13.º salário para os aposentados ajudaram a compensar o aperto monetário em vigor no País – atualmente, a taxa básica de juros está em 13,25% ao ano. Na cena internacional, a atividade global mostrou sinais de força, sobretudo nos Estados Unidos, contribuindo para as exportações do País.

“A composição do PIB foi até melhor (do que no primeiro trimestre)”, afirmou Silvia Matos, pesquisadora do Ibre/FGV.

Com informações do jornal O Estado de S. Paulo.

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