PIB: setor de serviços cresce desde 2020, mas ciclo pode estar perto do fim
Serviços crescem há 11 trimestres consecutivos no PIB, mas alta taxa de juros e incertezas podem fazer principal setor da economia desacelerar em 2023
O PIB do primeiro trimestre de 2023 surpreendeu o mercado. Puxado pelo forte desempenho do agronegócio, que cresceu 21,6% na base trimestral, o setor de serviços ampliou sua base em 0,6%. Tido como um dos mais resilistes da economia, a atividade deve desacelerar nos próximos meses, dizem economistas ouvidos pela Inteligência Financeira.
O ramo de serviços, que compõe cerca de 70% do PIB brasileiro, apresenta performance positiva há 11 trimestres consecutivos, mostrou relatório do banco Goldman Sachs na quinta-feira (1). Mas é possível que o setor perca sua sequência de saldo positivo. E os juros altos são parte desta equação.
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Retorno da pandemia manteve setor de serviços no azul
Desde o segundo semestre de 2020, quando registrou queda de quase 10%, o setor de serviços se manteve positivo no PIB. No primeiro trimestre de 2023, o setor cresceu 0,6% e surpreendeu analistas, mesmo com o agronegócio superando a média da economia e puxando o resultado para cima.
Mas a desaceleração do setor, um dos mais resilientes da economia, está sendo mais gradual do que o esperado por agentes especializados. Nos primeiros três meses de 2023, os serviços bateram recorde de máximas históricas na base trimestral, ajustada sazonalmente.
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Mesmo com a pandemia, o setor demonstrou “alta adaptabilidade” às dificuldades impostas pela covid-19, o que explica a sequência positiva, destaca Paulo Silva, economista da Efí Bank.
Ao mesmo tempo em que os serviços contribuem em boa medida para a cesta de inflação do Brasil, os preços da modalidade estão “entre os últimos a baixar” em ciclos de aperto monetário, diz Luca Mercadante, economista da gestora Rio Bravo.
“Nos 11 trimestres em que avançou, a atividade foi impulsionada por políticas públicas do governo federal durante a pandemia, como o Auxílio Emergencial, que depois virou o Auxílio Brasil de R$ 600”, afirma Mercadante. Programas de benefícios fiscais também resgataram o setor durante o isolamento provocado pela covid-19.
Por que o setor de serviços é mais resistente?
Já o resultado positivo dos serviços no PIB do primeiro trimestre pode ser atribuído ao bom desempenho do ramo de “Transportes, armazenagem e correio” e de “Intermediação Financeira e Seguros”. Ambos cresceram 1,2% no primeiro trimestre em relação ao quarto trimestre de 2022.
Há ainda, de acordo com Mercadante, um efeito de spillover do agronegócio nos serviços. Ou seja, a expansão das safras ajudou, por exemplo, com a oferta na área de transportes e maquinário.
Por sua vez, o setor financeiro avançou principalmente pelo aumento dos prêmios de seguros e queda nos sinistros, frisa João Savignon, head de macroeconomia da Kínitro Capital.
“A força do mercado de trabalho e o aumento da renda têm um papel importante nesta dinâmica”, explica. Além dos dados de emprego ainda aquecidos, Savignon destaca que o governo federal continuou com a política de transferência de renda e aumento da população ocupada, “fundamentais para sustentar a elevação da demanda por serviços”.
Expectativa é de queda dos serviços no PIB de 2023?
Mas a expectativa é de que o setor sofra cada vez mais o aperto dos juros. A Selic a 13,75% ajuda a arrefecer a demanda e a expansão do mercado de trabalho. O agronegócio, que puxou os serviços no PIB do primeiro trimestre, costuma ser mais volátil, destaca Mercadante. O volume da oferta pode cair nos próximos meses.
“Daqui para frente o que temos pensado é que o setor não deve desacelerar por conta de nenhum choque, mas sim pela política monetária. É uma atividade que depende mais da força de trabalho, com custo maior nas demissões. Os serviços devem desacelerar”, diz o economista da Rio Bravo.
A gestora espera, nos próximos trimestres, um crescimento mais fraco para a economia. “Temos expectativa de um resultado mais próximo de zero para o setor de serviços no segundo trimestre”, aponta Mercadante.
Sequência pode acabar, diz economista da Rio Bravo
Os serviços também vêm sofrendo com “variáveis que impedem resultados mais favoráveis”, afirma Paulo Silva, da Efí Bank. O economista cita a falta de confiança do empresariado em relação à nova regra fiscal — o chamado Arcabouço fiscal — como um dos fatores.
Outro ponto, claro, é a Selic. “Essa taxa de juros é restritiva porque prejudica a concessão de crédito, onera o orçamento das famílias e, por consequência, reduz o consumo”.
A projeção para a taxa Selic da Efí é 12,25% até o fim deste ano, com o BC sinalizando uma redução somente em setembro.
“Acredito que o setor de serviços vai andar de lado, próximo do patamar de crescimento de 0,6%, até o final do ano”, diz Silva. A atividade só deve se recuperar a partir de março do ano que vem.
Mas, até lá, Mercadante diz que há chances altas de interrupção da sequência positiva de 11 trimestres. Com efeito da política monetária, talvez a atividade tenha saldo negativo até o final de 2023.
“Acho que são altas as chances dessa sequência de serviços acabar, porque ela acabaria, senão no próximo trimestre, ainda neste ano.”