Por que a oferta de Elon Musk pelo Twitter não é uma maluquice

Caso o Twitter aceite o acordo, os tuítes anteriores de Musk contêm algumas pistas para outras mudanças futuras

Elon Musk, CEO da Tesla - Foto: Mike Blake/Reuters
Elon Musk, CEO da Tesla - Foto: Mike Blake/Reuters

Elon Musk ofereceu US$ 54,20 por ação para comprar o Twitter — e você não precisa fazer uma análise de fluxo de caixa descontado para saber como ele chegou a esse preço.

A partir do preço de fechamento do Twitter de US$ 45,85 na quarta-feira, US$ 54,20 é simplesmente o preço mais baixo que inclui “420”, uma referência favorita de Musk e uma alusão à cultura da maconha. Ela supostamente remonta ao início dos anos 1970 e a um grupo de estudantes do ensino médio da Califórnia que se reunia às 16h20 para fumar.

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Você deve se lembrar de um aceno semelhante no tuíte de 2018 que colocou Musk na mira do xerife do mercado de capitais: “Estou pensando em fechar o capital da Tesla por US$ 420. Financiamento garantido”. Desta vez, Musk anunciou sua oferta por meio de uma carta mais tradicional ao conselho do Twitter, que foi publicada em um comunicado oficial.

E o financiamento, neste caso, parece bastante garantido. A oferta gira em torno de US$ 48 bilhões, e o patrimônio líquido de Musk recentemente superou US$ 250 bilhões.

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Isso levanta a questão do por quê, e o que viria a seguir. Na carta de oferta, Musk chama a liberdade de expressão de “um imperativo social para uma democracia em funcionamento” e escreve que o Twitter “não prosperará nem servirá a esse imperativo social em sua forma atual”. Divida isso em duas partes: prosperar e servir.

O Twitter foi um fracasso no mercado de ações. Ele abriu seu capital em 2013 por US$ 26 e terminou seu primeiro dia de negociação perto de US$ 45. Antes da semana passada, quando as compras de ações de Musk vieram a público, eram negociadas a US$ 39 e uns trocados.

Mas a empresa está longe de ser um desastre financeiro. Um novo executivo tem um plano ambicioso para atingir US$ 7,5 bilhões em receita até 2023, uma duplicação em três anos. O fluxo de caixa livre é escasso agora, mas os otimistas acreditam que ele chegue a US$ 1 bilhão até 2024.

Numa conta de padeiro, assuma US$ 10,5 bilhões em receita até 2025, que está um pouco acima da estimativa de consenso atual, e uma margem de caixa livre melhor do que a trajetória atual do Twitter, para cerca de 11% até 2024, mas também bem aquém dos 21% estimados que a gigante do setor Meta Platforms deve alcançar no próximo ano. Digamos que seja 15%, o que daria US$ 1,6 bilhão em fluxo de caixa livre até 2025.

Isso significa que Musk está oferecendo 30 vezes o fluxo de caixa livre estimado em 2025, o que, para uma empresa que ainda pode aumentar as receitas entre 15% e 20%, não está distante da realidade. Há suposições cor-de-rosa embutidas aqui, incluindo que o Twitter irá reavivar o crescimento de usuários e lucrar mais plenamente com seu tráfego. Mas a questão é que a oferta de Musk está dentro das regras do capitalismo, não é apenas uma ação social.

O BofA Securities tem um preço-alvo de US$ 54 para o Twitter. Não há referência à cannabis nesse caso, mas está perto.

Quanto ao que vem a seguir, o Twitter provavelmente aceita o acordo ou pede mais dinheiro. A empresa carece de uma forte defesa contra aquisições, sem fundadores que possuam grandes quantidades de ações e sem ações com supervoto. Musk na proposta chama sua oferta de “melhor e final” e diz que “não está jogando o jogo de vaivém”.

A administração não está em uma posição firme para convencer os acionistas de que pode gerar um valor maior por conta própria. Quanto a outros concorrentes em potencial, os atores de mídia social não têm escala ou atrairiam o escrutínio dos reguladores. O executivo da Salesforce, Marc Benioff, considerou comprar o Twitter anos atrás, mas decidiu que não era uma boa opção.

Então, supondo que Cheech & Chong [dupla de comediantes que parodia a cultura hippie e sua adoração à maconha] não se unam a um investidor de private equity em uma oferta “spoiler” de US$ 64,20, o Twitter pode ter dificuldade em dizer não. “Esperamos muitas reviravoltas nas próximas semanas, à medida que o Twitter e Musk trilham esse caminho de de casamento”, escreveu o analista da Wedbush, Dan Ives, em uma nota de quinta-feira aos investidores.

Caso o Twitter aceite o acordo, os tuítes anteriores de Musk contêm algumas pistas para outras mudanças futuras. O Twitter certamente terá um botão de edição para as mensagens. Provavelmente haverá serviços expandidos para clientes pagantes do Twitter Blue, incluindo pular para a frente da fila para verificar o status, com o selo azul. A empresa pode transformar toda ou parte de sua sede em San Francisco em moradia para os sem-teto.

E — este é mais um palpite — um certo ex-presidente que foi expulso do Twitter pode já estar esquentando seus polegares.

Texto originalmente publicado Por Dow Jones Newswires — Nova York.

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