Bola de Ouro: por que o prêmio é importante para o futebol?
É fundamental que haja uma mudança na forma de pensar o negócio, e isso nasce com a definição de uma cultura esportiva
Na segunda-feira (30) teremos a cerimônia de entrega da Bola de Ouro. O prêmio é da revista francesa France Football para destaques do mundo do futebol da temporada.
Nasceu em 1956 e consolidou-se entre 2010 e 2015 como o prêmio The Best da FIFA. Eles acabam sendo premiações diferentes, pois a Bola de Ouro reconhecem os atletas que jogam na Europa. Já o The Best é, teoricamente, de alcance mundial.
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Premiação individual para esportes coletivos é sempre algo que se pode questionar aqui ou ali, especialmente dentro do futebol.
Mas é inegável que no coletivo imaginário os torcedores sempre pensam e debatem sobre o melhor isso, o melhor aqui, o melhor de hoje, o melhor de sempre, o melhor que viu jogar, e por aí vamos. É parte da brincadeira e do que faz o futebol ser o negócio que é.
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O que esperar aqui
Meu ponto nesta coluna não é saber se o vencedor da Bola de Ouro será Messi, pelo que fez na Copa do Catar, ou o início do reinado de Mbappé, ou a consagração de um novo astro como Haaland.
Meu ponto é pensar na premiação como resultado de um tema que é importante em qualquer indústria, fundamental no futebol, mas normalmente negligenciado pelos gestores esportivos: cultura.
Não farei comparações com outros esportes, pois cada um tem sua mecânica e demanda algo específico de cada atleta. Vamos, obviamente, focar no esporte que trato com frequência, que é o futebol.
E o futebol é um esporte de tomada de decisão. Habilidade nata, habilidade construída, condição física perfeita ou menos, mais ou menos conhecimento tático, tudo isso é parte de um processo em que o final é sempre a tomada de uma decisão: corta para a direita, para a esquerda, dribla, passa, cobre uma marcação, adianta-se ou não. Decisões individuais que definem partidas.
Entretanto, para se chegar à possibilidade de tomar uma decisão individual, é preciso lembrar que o atleta faz parte de uma equipe principal. Que é parte de um elenco maior. E tem um treinador a pensar em como organizar o time. Que foi – ou deveria ter sido – escolhido junto com os atletas, porque é capaz de praticar um jogo cujo conceito é da cultura esportiva que o clube espera praticar.
O atleta é a ponta do iceberg. Até chegarmos ao momento de decidir a jogada, o processo de construção teve início bem antes, na fase de montagem do elenco. Ou melhor, na fase de definição de qual cultura esportiva o clube quer praticar.
Podemos fazer um paralelo com qualquer outra empresa, de qualquer outro segmento. Todos possuem sua Missão, Visão e seu Valores, que se traduzem na definição de uma cultura corporativa. As boas casas divulgam, praticam, contratam e mantém profissionais baseados nesse conjunto de regras e comportamentos esperados. Não se engane, pois vale a mesma coisa para o futebol dentro de campo.
Formas de chegar ao resultado
A cultura parte da definição de qual o tipo de jogo que se espera ver em campo. Não há certo ou errado, melhor ou pior. Há formas diferentes de se obter resultado. Mais defensivo, mais reativo, mais agressivo, de posse de bola, com ligação direta, entre tantas outras possibilidades. Definir esta forma de jogar é o pontapé inicial do processo.
A partir daí escolhe-se o treinador e os atletas que tenham perfil para que este modelo idealizado de jogo seja praticado.
Então, tem o elenco com atletas com mais velocidade, mais força, melhor qualidade de passe e que terão um treinador que seja capaz de implantar o modelo de jogo.
Entender este processo ajuda numa série de coisas, como ser eficiente na formação do elenco. Na Europa as equipes costumam disputar a temporada com 25 a 28 atletas profissionais, e utilizar as categorias de base quando há uma necessidade pontual.
Clubes que têm restrição orçamentária e consciência de que a sustentabilidade do negócio está em gastar menos do que se arrecada, pensam e agem dessa forma. Logo, é fundamental um treinador que tire o máximo de um elenco enxuto.
Erros do futebol brasileiro
Aliás, é um erro comum no futebol brasileiro: elencos inchados, desconexos, comandados por treinadores com características que não combinam com os atletas, e dirigentes perdidos, à espera de milagres.
Quando falamos em reconstrução de clubes, não basta transformá-los em SAF. É fundamental que haja uma mudança profunda na forma de pensar o negócio, e isso nasce com a definição e implantação de uma cultura esportiva.
Com toda a estrutura ciente do que se espera praticar em campo, o trabalho do treinador é organizar a equipe para que seus atletas tenham a maior quantidade de oportunidades para tomarem decisões.
Se a cultura está enraizada e corretamente implantada, a parte tática servirá para auxiliar os atletas a decidirem de maneira mais serena e direta qual a melhor jogada, qual o melhor posicionamento.
Treinamento e aplicação de uma cultura esportiva permitem que os atletas se movimentem e ajustem seus posicionamentos para lhes dar tranquilidade de decisão. A cultura corporativa é um conjunto de regras que permite aos colaboradores tomarem decisões corretas para aquele ambiente de trabalho.
Movimento coletivo, oportunidade individual
Da mesma forma que, para cada ocorrência num ambiente corporativo o profissional deve saber o que fazer e como agir, no futebol a cultura esportiva aplicada indicará que determinado movimento coletivo pode gerar uma oportunidade individual, para que o atleta tome a decisão correta, baseado em suas habilidades específicas. Um driblador, um finalizador, uma cobertura, uma retomada de bola.
Por isos, é natural que listas de premiações como a Bola de Ouro relacionem talentos individuais a conquistas coletivas.
Geralmente, as listas de indicados contêm vários atletas cujas equipes conquistaram títulos, porque a cultura esportiva foi aplicada da forma mais eficiente. E, asism, permitiram que individualmente os atletas tivessem a oportunidade de tomar melhores decisões individuais.
Para que Mbappé decida por um drible, Haaland por um chute, Vinícius Jr por uma movimentação, Ederson por uma saída do gol, o caminho foi bem longo.
E quanto melhor for construída e implementada a cultura esportiva, mais vezes veremos os talentos decidindo partidas.