Entrevista: Privatizada, Sabesp (SBSP3) será maior empresa de saneamento do mundo, diz governo de São Paulo
Secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística de São Paulo, Natália Resende, disse que companhia pode ser maior do que Eletrobras
A Sabesp (SBSP3) está a caminho de se tornar uma gigante mundial do saneamento básico.
Essa é a perspectiva da secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo, Natália Resende, que lidera o processo de desestatização da companhia no governo paulista.
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“Será a maior empresa de saneamento do mundo, considerando o projeto que estamos fazendo”, disse ela em entrevista à Inteligência Financeira.
A tese é de que, uma vez sob controle privado, a companhia terá condições de atuar não só nos processos de concessão fora de São Paulo, como até fora do país.
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Suas declarações ilustram o esforço do governo para conquistar investidores e cumprir uma das principais promessas da agenda do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
A companhia inclusive já contratou BTG Pactual, Bank of America, Citi e UBS BB para coordenarem a oferta de ações, prevista para maio próximo.
Ela deve selar a venda pelo governo paulista de parte de sua fatia atual de 50,3% no negócio, deixando, portanto, a condição de controlador.
Ao final do processo, o governo manterá uma participação de 15% a 30% na empresa, mas mantendo poder de veto em algumas questões.
Água debaixo da ponte
Antes, porém, Natália e equipe ainda terão de vencer uma etapa crítica nos próximos meses.
Com a sanção de Freitas ao projeto de desestatização, logo após a aprovação pela Assembleia Legislativa, no começo de dezembro, em janeiro começam as negociações com municípios.
E a adesão maciça das 375 cidades atendidas pela Sabesp é parte vital do sucesso da privatização, que pode ser a maior do país em 2024.
Destes, 11 são consideradas âncoras, inclusive a própria capital do Estado.
Para tentar convencer os prefeitos, em ano de eleições municipais, o governo acena com compromissos de obras de melhoria em cada um deles até 2060, quando expira a concessão da empresa.
Os valores estimados de investimentos são superlativos.
Como base de comparação, a companhia divulgou neste mês que pretende investir uma média de quase R$ 10 bilhões por ano entre 2024 e 2028.
A expectativa do governo é de que essa média dobre com a privatização, liderada por um grande investidor.
“É complicado para um município ficar de fora de um movimento desse”, disse Natália.
Déficit histórico
Desde a aprovação pelo Congresso Nacional do marco do saneamento, em 2020, governos regionais vêm se movendo para atrair recursos privados para tentar corrigir um déficit histórico do país no setor.
De acordo com a consultoria Trata Brasil, cerca de 100 milhões de pessoas no país não têm acesso à coleta de esgoto.
Embora venham crescendo no país nos últimos anos, os investimentos em saneamento têm evoluído numa velocidade insuficiente para tirar o país de um condição vexatória em termos de universalização do acesso, considerando parâmetros internacionais.
Segundo a Associação e Sindicato Nacional das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon), o Brasil precisará investir quase R$ 900 bilhões para atingir metas de universalização do marco do saneamento.
Assim, a privatização é um dos argumentos para reduzir essa lacuna mais rapidamente.
Mesmo sendo o Estado mais rico do país, São Paulo também tem desafios importantes no setor.
Pelas contas do próprio governo paulista, cerca de 1 milhão de pessoas na região estão totalmente fora do sistema.
Além disso, um em cada cinco cidadãos no Estado não tem acesso ao fornecimento ou tratamento de água, ou ainda à coleta de esgoto.
Para Natália, sendo a maior do país, a Sabesp é a que está mais bem colocada para aproveitar o ciclo esperado de investimentos nas próximas décadas.
“Temos mais potencial de crescimento do que o setor elétrico, a Sabesp será maior do que a Eletrobras“, acrescentou a secretária.
Para efeito de comparação, o valor de mercado atual da Sabesp é de cerca de US$ 10 bilhões, pouco mais de metade do que vale a gigante de energia.
Conquistar mentes e corações
Enquanto contrata bancos para o corpo a corpo com investidores e tenta seduzir prefeituras para o projeto, o governo paulista ainda terá de convencer críticos à privatização da companhia.
Embora o projeto tenha obtido ampla aprovação parlamentar, Natália e equipe ainda têm que vencer uma consulta pública.
Ainda está por ser definida, por exemplo, a relação da companhia com o órgão regulador Arsesp, uma vez que a empresa deixe de ser controlada pelo governo.
Essas e outras questões devem emergir durante uma consulta pública, que deve vir depois do acerto com os municípios.
Um dos alertas mais frequentes de críticos do processo é com a possível aceleração da tarifa para os consumidores.
Para prevenir esse risco, o governo paulista promete que a água vai ficar mais barata após a privatização da Sabesp.
Além disso, propõe estabelecer uma regra que proíba a companhia desestatizada de praticar, em qualquer momento, tarifas superiores às cobradas enquanto estatal.
Isso não tem sido suficiente para acalmar preocupações com a saída estatal do controle de um setor que muitos consideram estratégico.
O tema ganhou especial visibilidade nos últimos meses após falhas da concessionária de distribuição de energia e da operadora de trens metropolitanos, áreas outrora estatais.
Passado e futuro
De acordo com Natália, o governo está ciente de deficiências em modelos de privatização executados nas últimas décadas.
Por isso, acena com um aparato regulatório mais forte para o setor de saneamento básico, com maiores poderes para a reguladora Arsesp.
“Mas o debate às vezes é ideológico e não é isso que a gente quer fazer”, afirmou a secretária.
Segundo ela, outras geografias do país que receberam maiores investimentos privados em saneamento já estão colhendo os resultados.
Como exemplo, citou o caso do Rio de Janeiro, onde o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) detectou queda da poluição das águas e melhora nos índice de balneabilidade nas praias, dois anos após a concessão do serviço ao setor privado.
Para a secretária, em São Paulo, um dos primeiros sinais mais visíveis ao público da melhora do saneamento com a privatização será a despoluição do rio Tietê, trabalho que tem tido pouco progresso, mesmo com décadas de investimentos.
Otimismo do mercado
Entre investidores, o otimismo com a privatização é amplamente majoritário.
Segundo o WSJ Markets, 10 de 11 analistas que analisam a companhia recomendam compra das ações.
Como reflexo desse quadro, em 2023, o papel da Sabesp acumula valorização de 35% na B3, enquanto o Ibovespa avançou cerca de 22%.
Para o BTG Pactual, o potencial de alta do papel depende em parte do modelo de privatização da companhia, que será conhecido nos próximos meses.
“Se a Sabesp conseguir capturar parte dos ganhos de eficiência, isso poderá representar uma enorme vantagem em relação aos preços atuais”, afirmou o banco.