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Protestos na China: empresas de tecnologia se preparam para problemas de fornecimento
Fornecedores de Apple, Google e outras empresas de tecnologia que atuam na China estão se preparando para novas interrupções de produção em meio à incerteza sobre como Pequim responderá aos apelos para encerrar as rígidas medidas da “covid zero” no país.
Manifestantes em toda a China exigiram o fim dos testes em massa e dos lockdowns generalizados impostos como parte da estratégia do país para combater a pandemia.
As fábricas em Shenzhen e Tianjin pertencentes à Foxconn – a maior fabricante terceirizada de eletrônicos do mundo – alertaram os funcionários de que começarão a operar sob gerenciamento de “circuito fechado” esta semana em resposta a medidas locais mais rígidas para lidar com surtos de covid-19, segundo pessoas ligados ao assunto. Sob um sistema de circuito fechado, os trabalhadores da fábrica são obrigados a morar no local para reduzir o risco de infecção.
Casos confirmados em uma fábrica da Foxconn em Tianjin forçaram a interrupção da produção. A Foxconn não quis comentar sobre o assunto.
A Foxconn não está sozinha. Os principais fabricantes de chips do país, como a Yangtze Memory Technologies em Wuhan e as instalações da Semiconductor Manufacturing International em Pequim, iniciaram operações em circuito fechado na semana passada.
Um executivo de uma fabricante de componentes eletrônicos na província de Jiangsu tem dúvidas sobre se a China relaxará sua política de “covid zero”. “Ainda sentimos que a China deve adotar medidas duras contra a covid”, disse a pessoa ao “Nikkei Asia”. “Nossa fábrica tem apenas dois casos confirmados, mas as autoridades locais exigiram que interrompêssemos a produção para higienização e não temos certeza de quanto tempo isso vai durar”.
Outros dizem que a perspectiva de lockdowns generalizados para conter a agitação pública é sua maior preocupação.
“Estamos muito acostumados com o esquema de circuito fechado… Isso pode não ser um problema para nossa produção”, disse um funcionário da Foxconn ao “Nikkei Asia”. “Nossa preocupação é quanto tempo durará as restrições e se haverá consequências dos protestos”.
O setor de tecnologia não é o único que pode enfrentar problemas na cadeia de produção. A vila de Yuangang, no distrito de Panyu, em Guangzhou, abriga vários fornecedores da marca de fast fashion Shein. As autoridades locais sugeriram que fábricas e lojas mandassem trabalhadores para casa no Ano Novo Chinês, daqui a cerca de dois meses.
“O surto não será aliviado nos próximos um ou dois meses”, disseram as autoridades locais em uma carta aberta à vila.
A Shein não respondeu a um pedido para comentar sobre o tema.
A situação mostra poucos sinais de melhora mesmo depois que o Conselho de Estado da China reiterou na terça-feira que os lockdowns não devem ser expandidos “arbitrariamente”.
Funcionários do Conselho de Estado disseram que o governo está sempre monitorando a situação e defenderá os interesses das pessoas e da economia – comentários vistos por alguns como reconhecimento dos grandes protestos do fim de semana. Alguns desses manifestantes chegaram a exigir que o Partido Comunista renuncie por causa de sua política de “covid zero”.
O Conselho de Estado criticou a implementação de certas medidas contra a covid pelos governos locais, embora não tenha anunciado nenhuma punição para lideranças que impuserem lockdowns arbitrários ou excessivamente estritos.
Também há preocupações de que uma mudança para lockdowns localizados em resposta às críticas dos fechamentos em massa possa sair pela culatra.
Ting Lu, economista-chefe da Nomura para a China, disse que os lockdowns totais podem não ser impostos nas principais cidades, mesmo que os casos aumentem, mas que lockdowns parciais em cidades menores podem ser “mais caros”, pois afetariam potencialmente um número maior de fabricantes.
Chi Him Lee, analista da Economist Intelligence Unit, disse que os riscos de interrupções na cadeia de suprimentos nos próximos meses são “altos” e que a política de “covid zero” deve continuar sendo um fator de estresse para as empresas com sede na China durante grande parte de 2023.
“O único fator atenuante para tudo isso pode ser que a demanda comercial global deve desacelerar no próximo ano, então as interrupções na cadeia de suprimentos podem não ser sentidas com tanta intensidade quanto entre 2021 e 2022”, disse ele.
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