Putin invadiu a Ucrânia, mas fará o que com o país?
Costuma-se dizer que tomar um país é fácil, o difícil é sair. Soviéticos, americanos (e antes deles, os ingleses) viveram isso no Afeganistão. O que a Rússia fará com a Ucrânia depois de invadir e ocupar o país (ou parte dele)?
Essa questão provavelmente vai atormentar o presidente Vladimir Putin nas próximas semanas, meses, talvez anos. À seguir, as principais alternativas.
Ocupar o país permanentemente
Isso implicaria que a Rússia teria de manter uma presença militar importante e por um tempo indeterminado na Ucrânia. É arriscado, pois possivelmente surgiria uma resistência, que faria uma guerra de guerrilha contra os ocupantes. E exigiria manter dezenas de milhares de soldados russos na Ucrânia, o que é caro. Haveria um governo fantoche, possivelmente liderado por algum ucraniano de confiança de Moscou. Protestos seriam reprimidos com apoio russo, o que estenderia o desgaste diante do mundo. Possivelmente haveria uma migração em massa de ucranianos para o exterior. Haveria sanções ocidentais a esse novo regime, e a economia não se recuperaria. As sanções à Rússia continuariam.
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Retirar-se, deixando um governo fantoche
É pouco provável que um governo pró-Rússia sobreviveria por muito tempo sem o apoio militar russo. No Afeganistão, o governo local caiu antes mesmo de as forças americanas deixarem o país. Dificilmente as forças de segurança ucranianas reprimiriam protestos de ucranianos. O país poderia entrar em guerra civil. Provavelmente haveria sanções ocidentais e a economia não se recuperaria. As sanções à Rússia continuariam.
Retirar-se, deixando o governo atual
Nesse caso, a Rússia destruiria a capacidade militar da Ucrânia e, em seguida, retiraria suas tropas, permitindo a permanência do atual governo, do presidente Volodymir Zelensky. Possivelmente, Putin só faria isso depois de obter garantias de que a Ucrânia não vai aderir à Otan, a aliança militar ocidental.Mas a capacidade militar ucraniana pode ser reconstruída, especialmente se houver apoio ocidental.
E, mesmo fora da Otan, a Ucrânia poderia aos poucos ser absorvida na área de influência do Ocidente. Esse cenário é descrito como a “finlandização” do país (a Finlândia não faz parte da Otan, é neutra em termos de segurança, mas mantém laços econômicos e políticos fortes com o Ocidente, sendo membro da União Europeia). Mas isso seria um ganho pequeno para Putin em relação ao custo que a operação militar e as sanções ocidentais terão para a Rússia. Ele possivelmente poderia ter obtido isso por meio de negociações. Seria o caminho mais curto para o fim das sanções ocidentais.
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Anexar a Ucrânia à Rússia
Todo o discurso recente de Putin questiona a legitimidade da Ucrânia, isto é, o próprio direito do país de existir. A Ucrânia é parte histórica da Rússia, foi uma criação artificial dos líderes soviéticos, nunca existiu como país independente e depende de potências estrangeiras, o que mina a segurança da Rússia, alega Putin.
Mas anexar a Ucrânia traria uma série de problemas. Parte da população certamente rejeitaria e haveria resistência, talvez armada. A Rússia teria de regularmente reprimir protestos, com desgaste grande perante o mundo. Haveria êxodo de ucranianos, especialmente os mais capacitados, o que seria um golpe à economia. Além disso, anexar a Ucrânia estenderia a fronteira da Rússia até o território da Otan, que é exatamente o que Putin diz querer evitar.
O conceito de área de influência prevê justamente criar um espaço controlado entre a Rússia e seus inimigos. Anexando a Ucrânia, a Rússia ficaria frente a frente com a Otan na Polônia, na Romênia e na Hungria. A anexação não seria reconhecida por boa parte do mundo, como já ocorre hoje com a Crimeia. As sanções continuariam.
Dividir a Ucrânia
Nesse caso, Putin poderia ocupar apenas a parte leste da Ucrânia mais próxima da Rússia, onde a população de origem russa é majoritária, criando um novo país. Seria algo parecido com a divisão da Alemanha entre Ocidental e Oriental, durante a Guerra Fria. Putin manteria um governo fantoche na parte leste, talvez com possível presença permanente de forças russas, pois haveria menos risco de elas serem hostilizadas. Essa opção parecerá provável se as tropas russas não se moverem para ocupar a parte oeste da Ucrânia. Por enquanto, as operações militares russas estão concentradas no centro e no leste do país.
Nesse caso, o governo Zelensky poderia continuar na parte oeste. Isso exigiria, porém, delinear fronteiras novas, o que é sempre complexo e criaria disputas que durariam décadas. Possivelmente levaria a um processo de limpeza étnica, com ucranianos deixando o leste. E haveria o dilema do que fazer com Kiev, que fica numa região majoritariamente ucraniana, mas é uma cidade ligada historicamente à Rússia. Além disso, as sanções ocidentais à Rússia possivelmente continuariam. E esse novo país não seria reconhecido por boa parte do mundo.
Com Valor Econômico.