Copom pode ter que interromper ciclo de cortes com a Selic a 10%, avalia Banco do Brasil
Em relatório, banco coloca no radar a chance de a taxa básica de juros continuar em dois dígitos
Até onde vai a queda da Selic? Em relatório, o economista-chefe do Banco do Brasil, Marcelo Rebelo, avalia que o patamar de juros nos Estados Unidos pode limitar a redução da taxa no Brasil em 2024.
Rebelo sustenta a visão do banco de Selic a 8,5% no fim do atual ciclo de cortes, mas reconhece que, no momento, o risco de os juros básicos encerrarem 2024 em dois dígitos foi elevado.
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“Em nosso cenário base, consideramos que o Banco Central manterá o ritmo de 50 pontos-base por quase todo ano de 2024, o que levaria a taxa básica de juros a 8,5% no final do próximo ano, nível que consideramos de equilíbrio para a economia brasileira”, escreve.
“Contudo, nas últimas semanas, alguns acontecimentos elevaram o nível de incerteza em torno desse nível terminal. Em que pese parte da incerteza estar associada a elementos domésticos, em que se destacam os riscos em relação ao cumprimento das metas fiscais para o próximo ano, avaliamos que a maior parte das incertezas derivou do cenário global, mais especificamente acerca do nível das taxas de juros nos Estados Unidos no futuro”, acrescenta.
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Por que os juros podem cair menos no Brasil?
Conforme o relatório, o mercado começou a projetar os juros americanos mais altos por mais tempo, o que levou a repercussões significativas nos preços dos ativos ao redor do mundo. A taxa definida pelo Fed (Federal Reserve, banco central do país) está atualmente no intervalo de 5,25% a 5,50%.
“Segundo nossos cálculos, caso a taxa básica de juros dos EUA ao final do próximo ano passe de 4,25% para 5,25%, isso levaria a um maior nível de risco no cenário global, o que e diminuiria o nosso diferencial de juros com os EUA. Esse movimento levaria a uma redução da atratividade de investimentos em carteira de renda fixa no Brasil e provocaria uma saída de capitais”, aponta Marcelo Rebelo.
“A combinação desses acontecimentos levaria, de acordo com nossas estimações, a uma desvalorização em torno de 7% da taxa de câmbio, com a projeção passando de R$/US$ 5,10 para R$/US$ 5,45 ao final de 2024. Com uma taxa de câmbio mais elevada, observaríamos uma pressão adicional nos preços dos produtos, levando a taxa de inflação medida pelo IPCA a sair de 3,8% e caminhar para mais próximo do teto da meta do próximo ano, a saber, 4,5%”, prossegue no texto o economista do BB.
Ademais, o especialista sinaliza qual movimento que o Copom deveria fazer caso quisesse neutralizar o efeito inflacionário provocado pela posição mais restritiva dos juros americanos.
“De acordo com os nossos modelos, para anular a desvalorização da nossa moeda (manter a cotação cambial em torno de R$/US$ 5,10), o Copom poderia continuar com o processo de 50 pontos-base de redução da Selic, mas deveria encerrar o ciclo bem antes do contemplado hoje em nosso cenário”, avalia.
“Em nossa visão, para chegar aos mesmos 3,8% de IPCA em 2024, o Copom precisaria interromper o ciclo de cortes da taxa básica de juros quando a Selic alcançasse aproximadamente 10,0%, e não mais os 8,5% atualmente considerado no nosso cenário”, aponta.
Relaxamento monetário nos EUA
Por fim, ainda no relatório, Marcelo Rebelo mantém a visão de que a economia dos EUA entrará em desaceleração mais intensa na virada de 2023 para 2024. “O que levaria o Fed a ter um comportamento menos duro em relação à política monetária do que o atualmente projetado pelos seus membros”, comenta.
“Outro ponto de atenção nesse ambiente global mais conturbado se refere ao início do conflito no Oriente Médio. Em linhas gerais, as primeiras reações do mercado vão na linha de uma atividade econômica sendo negativamente impactada, o que restringiria a necessidade de juros muito altos por muito tempo. Isso posto, reforçamos nosso cenário base mais parcimonioso em relação à taxa de juros dos Estados Unidos”, completa o economista do BB.