Queda do dólar pode ter vida curta; entenda

Alguns elementos, como o processo de aperto monetário nos Estados Unidos e uma possível amenização da guerra na Ucrânia, além das eleições presidenciais, trazem riscos de alta para o dólar à frente

A forte tendência de valorização que o real tem experimentado desde o início do ano pode não se sustentar por muito mais tempo. Nesta semana, o dólar registrou baixa de 5,37%, ao fechar a sexta-feira negociado a R$ 4,7466 e, assim, acumulou queda de 14,86% no ano. Profissionais ouvidos pelo Valor observam que os fundamentos continuam a apontar para uma moeda brasileira ainda mais apreciada.

No entanto, alguns elementos, como o processo de aperto monetário nos Estados Unidos e uma possível amenização da guerra na Ucrânia, além das eleições presidenciais, trazem riscos de alta para o dólar à frente.

“O real deu prosseguimento a seu forte desempenho”, observa a estrategista Gisela Brant, do J.P. Morgan, em relatório sobre mercados de câmbio enviado a clientes. “O nível das taxas de juros e o vento favorável das commodities, em meio a uma redução significativa do prêmio de risco em relação ao ano passado, explicam a movimentação do real”, avalia a profissional.

Para ela, embora a moeda brasileira possa continuar bem apoiada nos níveis atuais, o modelos da casa “começam a indicá-la em território caro”.

Como nota a profissional do J.P. Morgan, a guerra na Ucrânia tem favorecido países exportadores de commodities, como o Brasil, diante da pressão gerada sobre os preços das matérias-primas nos mercados internacionais. Além disso, os ativos brasileiros andavam bastante descontados, em especial o real, durante a pandemia, diante dos riscos fiscais elevados e do patamar baixo da Selic, que chegou à mínima histórica de 2% ao ano em 2020.

O economista Carlos Lopes, do banco BV, avalia que os motivos que dão apoio ao real neste momento não devem continuar atuando fortemente ao longo do ano.

“Não é esperada uma alta contínua das commodities. Nós entendemos que houve uma mudança de patamar e isso favorece o real. Do outro lado, o fluxo financeiro também não tem razões para continuar vindo, uma vez que a gente já viu alguma correção nos valores dos ativos por aqui”, completa.

Lopes nota, ainda, que a retirada de estímulos no exterior vem trazendo um visível enxugamento de liquidez nos mercados globais, movimento que, somado a altas de juros pelo Federal Reserve, o banco central americano, torna o ambiente mais desafiador para mercados emergentes.

“Os níveis [do dólar] estão próximos dos sugeridos pelos modelos de curto prazo e de médio prazo”, diz Flavio Serrano, economista chefe da Greenbay Investimentos. “Poderia ser sustentável, mas, para isso, precisaremos de preços de commodities sustentados e alívio do lado político.”

O economista acrescenta que uma desaceleração mais acentuada da economia global nos próximos meses, a intensificação da guerra ou problemas políticos domésticos poderiam “levar o dólar a recuperar parte do movimento recente”. Serrano espera que o dólar encerre o ano em R$ 5,15.

O fator eleitoral também é mais um risco para o real. “Devemos ter uma eleição bastante polarizada, trazendo incerteza e fazendo o real desvalorizar próximo da votação”, afirma Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil.

Ele vê o dólar voltando para um patamar acima dos R$ 5,00 em 2022, ficando em torno de R$ 5,20 no fim do ano.

“Acho que, chegando a R$ 4,70, podemos ter uma reversão, com a volta de alguma pressão compradora até por parte dos players do Brasil”, destaca Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos, que projeta o dólar a R$ 5,00 no final do ano.

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