Raízen (RAIZ4) sobe quase 5%; Alckmin fala em aumentar mistura do etanol na gasolina

A companhia também deu pontapé inicial no uso de caminhões elétricos em abastecimento de aviões

Empresas citadas na reportagem:

As ações da Raízen (RAIZ4) fecharam entre as maiores altas do Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, no pregão desta terça-feira (20). Os papéis da companhia avançaram 4,53%, cotados a R$ 4,15. A valorização no ano se aproxima de 15%.

Mais cedo, o vice-presidente em exercício e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, fez um comentário que é favorável para os negócios da empresa. Dentro do compromisso do governo com a transição energética para o uso de fontes menos poluentes, Alckmin disse que a gestão estuda o aumento do teor obrigatório de etanol na gasolina para 30% nos próximos anos.

Desde 2015, o porcentual obrigatório do etanol anidro ao combustível é de 27,5%.

Abastecimento de aeronave

Além disso, a Raízen também realizou uma operação inédita de abastecimento de aeronave utilizando caminhão 100% elétrico no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos (SP).

A operação foi realizada em uma aeronave da companhia aérea Azul e faz parte de um projeto-piloto para uma transição futura de parte da frota da companhia no segmento de aviação, de forma a contribuir na descarbonização do transporte aéreo, responsável por cerca de 2% das emissões globais de gases de efeito estufa e considerado um dos mais difíceis de descarbonizar.

Segundo vice-presidente de Supply Chain da Raízen, Juliano Tamaso, a ação é “o pontapé inicial” nas iniciativas voltadas para o uso de soluções renováveis para abastecimento de aeronaves, mas também serve como piloto para outras aplicações de descarbonização logística, inclusive na entrega de combustíveis em postos de abastecimento, segmento em que a empresa gerencia 3 mil caminhões por dia.

“Este é o primeiro projeto de muitos outros que vão vir de usar soluções renováveis para abastecimento”, disse o executivo, salientando que a ampliação do uso da solução ainda depende dos resultados da “prova prática na área controlada de um aeroporto”, para confirmar as hipóteses testadas em laboratório.

Ele evitou traçar um cenário provável para o uso ampliado dessa solução. Será utilizado um e-Delivery, primeiro caminhão elétrico desenvolvido e produzido no Brasil, na fábrica da Volkswagen Caminhões e Ônibus (VWCO), em Resende (RJ).

O veículo foi adaptado pela área técnica da Raízen para executar a atividade de abastecimento de aeronaves, com equipamentos montados pela Rucker, de equipamentos de movimentação e armazenagem de carga aérea.

Segundo Tamaso, há seis meses a empresa vem desenvolvendo a solução técnica, com o objetivo também a atender a diversos requisitos técnicos e obrigações, e garantir a segurança da operação. Além de zerar as emissões, o veículo elétrico proporciona uma redução de até 50% nos custos anuais com abastecimento em comparação com o caminhão a combustão e, segundo o vice-presidente de Vendas, Marketing e Serviços da VWCO, Ricardo Alouche, também possui baixo custo de manutenção.

“Quando fazemos a avaliação do custo total de operação ao longo da vida útil do equipamento, prevemos não só a descarbonização, mas uma redução do custo operacional do equipamento, que gera uma economia operacional”, acrescentou o diretor de Soluções de Energia e Renováveis da Raízen, Rafael Rebello.

Ele disse, porém, que atualmente, devido ao peso da bateria, veículos leves – como automóveis ou veículos urbanos de carga (VUC) – são mais viáveis no custo total de operação, enquanto veículos mais pesados, em rotas mais longas, apresentam maior complexidade operacional.

O caminhão será recarregado em uma estação de recarga rápida Shell Recharge, com potência de 60 kW, instalada dentro da área de operações do aeroporto, que permitirá uma recarga completa em cerca de uma hora utilizando energia renovável produzida pela Raízen, já que o aeroporto é cliente livre atendido pela empresa.

A companhia, que tem 1,5 gigawatt (GW) de capacidade de energia renovável de usinas a biomassa, vem realizando movimentos para ampliar sua posição no mercado de energia elétrica, como a compra da comercializadora WX Energy e a joint-venture com a Gera, de geração distribuída.

Além disso, por meio da Shell Recharge, a Raízen tem priorizado a eletrificação de frotas, em especial de empresas com metas de descarbonização e que possuem operações logísticas.

Com dois anos de operação no Brasil, o programa tem atualmente 20 estações de recarga rápida em operação e 15 em construção, com expectativa de instalar pelo menos 100 pontos de recarga rápida pública em 2023. Além disso, a empresa possui pontos de abastecimento dentro das instalações dos clientes, como Ambev e Mercado Livre.

Combustível de aviação

Além da iniciativa de redução das emissões no abastecimento de aeronaves, a Raízen atua também no desenvolvimento da cadeia de produção de combustível de aviação sustentável (SAF, na sigla em inglês) a partir do etanol.

Em julho do ano passado, a empresa firmou uma carta de intenções com a Embraer nesse sentido. A viabilização desse combustível teria um impacto mais relevante para a descarbonização do transporte aéreo do que o simples uso de energia limpa na logística dos aeroportos.

No entanto, os investimentos para o desenvolvimento e produção desse energético são elevados e especialistas apontam que a iniciativa, sozinha, provavelmente não será capaz de atender as metas de neutralidade de emissões líquidas de carbono estabelecidas pelo setor, até 2050.

Uma pesquisa da Bain & Company divulgada em fevereiro sugeriu que uma das medidas que as empresas aéreas precisarão adotar para colaborar na redução das emissões é a ampliação da descarbonização das operações aeroportuárias.

Tamaso e Rebello comentaram que a Raízen tem planos de buscar a eletrificação para todo o transporte interno realizado no Aeroporto de Guarulhos, para colaborar na redução das emissões locais.

Segundo o diretor de Soluções de Energia e Renováveis da empresa, existem projetos em discussão que atendem não só “frotas circulantes”, mas o “ecossistema de Guarulhos”, incluindo empresas logísticas que utilizam também o transporte aéreo.

“Vão vir surpresas à frente que contribuem para descarbonização de outras cadeias do aeroporto, não só a parte de logística”, disse Rebello.

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