Ray Dalio alerta que EUA podem enfrentar ‘ataque fulminante’ de crise fiscal em três anos

'Não posso dizer exatamente quando isso vai acontecer. É como um ataque cardíaco', diz fundador da asset Bridgewater sobre recessão fiscal nos EUA

Ray Dalio, o bilionário fundador da Bridgewater Associates, a gestora dos fundos de hedge mais lucrativos do mundo, alertou que os EUA podem em breve enfrentar uma “crise de dívida total”. Isso, se o governo Trump não tomar medidas imediatas para controlar os gastos deficitários.

O gestor americano compara os impactos da crise fiscal americana a um colapso cardíaco: que tende a ser fulminante.

“Não posso dizer exatamente quando isso vai acontecer. É como um ataque cardíaco”, disse, em entrevista ao podcast Odd Lots, da Bloomberg, publicado nesta segunda-feira (03).

“Você está chegando mais perto (do estouro da crise). Meu palpite seria de três anos, mais ou menos um ano, algo assim”, disse o gestor.

Ray Dalio aponta dinâmica conhecida no Brasil

Para Dalio, o apetite dos compradores estrangeiros pela dívida dos EUA é, provavelmente, a principal métrica de sustentabilidade fiscal. Ele traça um panorama de médio prazo para o tesouro americano que um gestor de recursos no Brasil conhece de cor e salteado.

Em um certo ponto, diz, se tudo continuar como hoje, os grandes investidores começarão a ter dúvidas sobre a compra de mais títulos. Isso deverã fazer com que os rendimentos dos títulos dos EUA disparem. E, assim, afirma, provavelmente empurrará a economia dos EUA para uma recessão.

“Quando você chega à parte do ciclo em que precisa pedir dinheiro emprestado para pagar o serviço da dívida, os detentores desses títulos dizem que é uma situação arriscada. No mercado de dívida privada, chamamos isso de espiral da morte da dívida”, afirmou Dalio.

De quem é o problema?

Embora os EUA não tenham acumulado mais de US$ 36 trilhões em dívidas da noite para o dia, qualquer partido que esteja no poder terá que lidar com o retrocesso político quando o problema chegar, disse Dalio.

Ele defendeu um compromisso imediato do governo para reduzir o déficit para apenas 3% do PIB.

“Se você não fizer isso, então você será o dono (da crise). Você tem que assumir a responsabilidade pelas consequências”, disse Ray Dalio.

“Quando a economia e esse tipo de ataque cardíaco vierem, você vai descobrir que os eleitores não ficarão muito felizes. Então você será o dono (da crise fiscal).”

Espiral da crise, segundo Ray Dalio

O déficit fiscal dos Estados Unidos ultrapassou US$ 1,8 trilhão durante o ano fiscal de 2024, que terminou em 30 de setembro, de acordo com dados do governo federal. Isso foi equivalente a 6,4% do PIB, um nível que foi excedido apenas seis vezes desde 1946.

Se os esforços de redução do déficit não derem certo, o que pode ser feito para salvar a dívida? O fundador do fundo de hedge disse que seu melhor palpite seria que o governo federal poderia usar sanções como pretexto para reter pagamentos de dívidas. Ou poderia forçar uma reestruturação.

“O governo dirá que vai reestruturar a dívida. Eles não vão portanto dizer que é um calote. Eles vão dizer ‘sob esta política (de reestruturação), ficaremos melhores’. Não mudaremos o que você vai receber, mas vamos espalhar isso por mais anos”, disse ele.

Essa não foi a primeira vez que Ray Dalio tratou publicamente dos receios que nutre sobre a trajetória fiscal dos Estados Unidos. Recentemente, ele tentou, sem sucesso, puxar esse assunto pelo X, ex-Twitter, com Elon Musk. Essa história você relembra aqui.

Novo livro do gestor

Ray Dalio está publicando um novo livro, “How Countries Go Broke” (Como os países quebram, em tradução livre). Nele, o gestor da Bridgewater explica como os ciclos de dívida de longo prazo funcionam. E, doravante, como os riscos que podem surgir a partir da falha em projetar uma desalavancagem do governo federal dos EUA.

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