Reino Unido abandona corte em imposto de renda para os mais ricos
O governo do Reino Unido disse nesta segunda-feira que não prosseguirá com a remoção de uma alíquota máxima de 45% do imposto de renda, removendo um elemento-chave de um plano anunciado no final do mês passado que provocou turbulência nos mercados financeiros do país e uma intervenção do governo Banco da Inglaterra (BoE, banco central).
A decisão de manter a alíquota do imposto sobre rendas altas foi anunciada durante a conferência anual do Partido Conservador, na qual vários legisladores expressaram sua oposição à medida. Mas o governo estava defendendo a medida ainda no domingo.
O governo anunciou planos para realizar grandes cortes de impostos e aumentos de gastos em 23 de setembro, um pacote financiado por empréstimos que alarmou os investidores.
O plano levou a dias de turbulência nos mercados financeiros do Reino Unido, fazendo com que a libra caísse, o custo dos empréstimos aumentasse para o governo do Reino Unido e o BoE lançasse um programa de emergência para comprar títulos do governo para acalmar os mercados.
“A taxa de 45% foi simplesmente uma grande distração de um conjunto muito forte de medidas”, disse Kwasi Kwarteng, chefe do Tesouro do Reino Unido, em entrevista à British Broadcasting Corp.
Como muitos governos europeus, o Reino Unido prometeu grandes subsídios para residências e empresas para protegê-los de preços de energia muito mais altos neste inverno. Mas, ao contrário de outras nações, a nova primeira-ministra Liz Truss também apoiou os maiores cortes de impostos em um único ano desde 1972, o que significa que o governo receberá menos dinheiro mesmo gastando mais, financiando a diferença com dívidas.
Na sexta-feira, a agência de classificação de risco S&P reduziu sua perspectiva para a dívida soberana do Reino Unido para negativa, citando riscos para a economia do país decorrentes do plano.
O governo pretende avançar com outras medidas anunciadas em seu miniorçamento, incluindo uma redução na alíquota mais baixa do imposto de renda que os economistas estimam que custaria muito mais do que a remoção da alíquota mais alta em receitas perdidas.
“Esta medida é bastante simbólica, sendo menos sobre a quantidade de dinheiro que vai economizar e mais sobre o mau sinal que deu de cortes ideológicos de impostos”, disse Chris Turner, analista do ING Bank. “A medida parece motivada por uma reação de seu próprio partido e talvez pela ameaça de um rebaixamento do rating soberano.”
Preocupações com o impacto dos cortes de impostos sobre os empréstimos do governo ajudaram a elevar drasticamente os rendimentos dos títulos do governo no início da semana passada. Na quarta-feira, o BoE interveio para interromper o aumento e a ameaça de danos significativos a alguns fundos de pensão, anunciando que compraria até 65 bilhões de libras em títulos do governo em uma série de leilões diários.
Essa medida ajudou a acalmar os mercados de títulos e impulsionar uma recuperação da libra, mas uma série de pesquisas de opinião apontaram para uma grande perda de apoio ao Partido Conservador entre os eleitores à medida que se aproximava de sua reunião anual em Birmingham.
“Vimos as reações das pessoas, estávamos conversando com eleitores, estávamos conversando com toda uma gama de interessados”, disse Kwarteng. “E sentimos que a questão dos 45% estava abafando um forte pacote de intervenções.”
Kwarteng disse que seu governo conversou com eleitores e legisladores e disse que a questão da alíquota mais alta desviou o foco do pacote. “Eu entendo”, disse ele à BBC.
Os legisladores conservadores têm feito fila para criticar a abolição do imposto que deixaria os mais ricos ainda mais ricos, já que muitas pessoas enfrentam cortes salariais reais. No domingo, Michael Gove, ex-ministro sênior do gabinete, disse que era moralmente errado. A crescente lista de rebeldes significava que o governo provavelmente teria dificuldades para aprovar o corte de impostos no parlamento.
No entanto, Truss e Kwarteng mantiveram seu plano fiscal por mais de uma semana. Kwarteng deve fazer um discurso esta tarde na conferência anual do Partido Conservador. “Vamos realizar o curso”, deve dizer Kwarteng de acordo com um trecho antecipado do discurso.
A conferência, que normalmente é uma demonstração de três dias de devoção servil ao líder do partido, está se transformando em um evento mais sombrio, já que os conservadores veem sua popularidade cair nas pesquisas.
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