Salariômetro: Trabalhador tem perda real de 0,4% em reajustes negociados em fevereiro
No mês, quase 56% das negociações tiveram reajustes abaixo do INPC
O cenário de negociações coletivas, que já era ruim para o trabalhador em janeiro, ficou um pouco pior em fevereiro, indica o boletim Salariômetro, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).
Com um reajuste mediano negociado de 10,2%, mas um Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) de referência acumulado em 12 meses de 10,6%, houve perda salarial real de 0,4% em fevereiro.
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No mês, quase 56% das negociações tiveram reajustes abaixo do INPC, ante 49% no ano (janeiro e fevereiro de 2022). “Indica que o mês de janeiro não foi tão ruim quanto o de fevereiro”, diz Hélio Zylberstajn, professor da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (FEA-SUP) e coordenador do Projeto Salariômetro. Em janeiro, 36,3% dos reajustes tinham sido inferiores à inflação.
“A inflação continua no mesmo patamar e a atividade econômica não recupera. É um cenário que continua sendo muito ruim para os trabalhadores”, afirma o professor.
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O horizonte não é mais animador, observa ele. Projeções feitas pelos bancos Santander e Itaú Unibanco em março — já considerando, portanto, os efeitos da guerra entre Rússia e Ucrânia, como a disparada do petróleo — sugerem um INPC perto de 11% até maio. O mês é o mais importante para as negociações coletivas, com o maior volume delas e de categorias de peso, como dos transportes.
“O que é mais preocupante é que essas projeções já estão olhando para o fim do ano, começo de 2023 com um INPC na faixa de 6%. É mais do que se esperava um mês atrás”, afirma Zylberstajn.
Em outra seção, o boletim destaca que, nas negociações de fevereiro, 42,4% abordaram reajustes salariais, mas apenas 1,7% continha propostas de pagamentos escalonados, ante 10% de participação nas negociações dos últimos 12 meses. Além disso, apenas 3,8% propunham um teto salarial para aplicação do reajuste, com valor mediano de R$ 3.501. Em 12 meses, 15,3% abordavam o tema, com um teto mediano de R$ 7.000.
“As empresas, em vez de parcelar, resolveram aplicar tetos baixos”, diz Zylberstajn.
Contribuições sindicais de trabalhadores, por sua vez, estavam presentes em 39% das negociações de fevereiro, com um valor anual médio de R$ 515, sendo que, em 12 meses, esse valor era de R$ 1.460.
“Se você juntar todos esses valores e mais a aplicação do teto, o mês de fevereiro foi um mês de categorias com salários muito baixos. Por isso que não se parcela muito, mas o teto, quando é aplicado, é baixo também”, afirma Zylberstajn.