Sanções farão economia da Rússia retroceder 15 anos, diz entidade que reúne bancos globais
A deterioração econômica e o descontentamento com a guerra também devem acelerar a emigração do país
As sanções impostas por Estados Unidos, União Europeia e outras nações à Rússia levarão à queda de pelo menos 15% no PIB (Produto Interno Bruto) do país neste ano e a outros -3% em 2023.
A retração sem precedentes no biênio fará com que o tamanho da economia russa volte ao nível de 15 anos atrás, segundo previsão do Instituto Internacional de Finanças (IIF), que reúne 450 bancos e instituições em todo o mundo.
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A deterioração da economia e o descontentamento com a guerra entre muitos russos – além da perseguição contra os que protestam – também devem acelerar a emigração do país, sobretudo daqueles com maior nível econômico e educacional.
O movimento impactará na produtividade futura, que cai desde meados dos anos 2000. Mesmo no setor de óleo e gás, a expectativa é de forte retração nos investimentos. No aéreo, o país pode perder grande parte da frota de aviões.
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Segundo o IIF, a adesão de cerca de 400 empresas privadas às sanções à Rússia vem reforçando a expectativa de retração do PIB. Desde o início dos ataques à Ucrânia, companhias icônicas como McDonalds, Coca-Cola, Pepsi Co. e Ikea anunciaram a suspensão ou o encerramento das atividades.
A previsão aponta para uma queda de 24% no consumo interno só no segundo trimestre, sobretudo por conta da desvalorização do rublo e da disparada da inflação.
Os investimentos do setor produtivo devem cair 23%, com as empresas locais sem caixa em dólares (e com o rublo desvalorizado) para a compra de máquinas e equipamentos. No comércio exterior, a queda das exportações deve atingir 30%; das importações, 34%.
A previsão de encolhimento de 15% no PIB deste ano, segundo o IIF, pode ser considerada otimista. “Acreditamos que é mais provável que o conflito se prolongue e leve a novas sanções, incluindo, potencialmente, as principais exportações, como petróleo e gás natural”, diz o órgão.
No médio e longo prazos, uma eventual recuperação da economia russa estará em xeque com o aumento da chamada “fuga de cérebros”.
“Alguns observadores estimam que cerca de 200 mil a 300 mil pessoas saíram da Rússia nas últimas três semanas e meia. Há voos para a Turquia sendo reservados até 2023 e um terceiro trem diário de São Petersburgo para Helsinki foi adicionado para acomodar a alta demanda”, diz o relatório do IIF.
A fuga de cérebros na Rússia não é fenômeno novo. Após um “período dourado” de expansão econômica e crescimento de dois dígitos da renda real nos anos 2000, a emigração acelerou novamente após o retorno de Vladimir Putin à presidência em 2012 e continuou após a ação militar russa na Ucrânia em 2014 -e da imposição de sanções internacionais à época.
Segundo dados oficiais, quase meio milhão de pessoas deixaram a Rússia em 2020, quase o dobro dos números durante a década de 1990, economicamente conturbada.
A fuga de cérebros -mais os controles de exportação de tecnologia dos EUA e da União Europeia, que impedirão o desenvolvimento tecnológico por anos- devem diminuir a produtividade e o crescimento do PIB ainda mais em relação aos níveis já baixos de hoje.
Nesta quarta (23), Anatoli Tchubais, assessor de Vladimir Putin conhecido como arquiteto das privatizações da Rússia na década de 1990 e que atuava como enviado para o clima, deixou a Rússia.
No vital setor de óleo e gás, desde 2014 empresas estrangeiras já haviam sido proibidas de investir em novos projetos. Mas as multinacionais também abandonaram joint-ventures com empresas russas nas últimas semanas.
Embora isso possa não ter um impacto imediato na produção e exportação, o setor tende a ficar sem investimentos para manter a infraestrutura e explorar novas reservas.
Outra área a ser muito afetada é a aviação. Airbus e Boeing -que representam quase 70% das cerca de mil aeronaves de empresas russas- cancelaram contratos de manutenção e estão interrompendo entregas de peças.
Mais de dois terços dos aviões utilizados no país estão sob contratos de “leasing”, e as sanções determinam que eles sejam rescindidos no final de março.