Sur: quais são as vantagens e as desvantagens da moeda comum para o Brasil e a Argentina?
Proposta existe desde os anos 1980, mas não foi adiante
Já tem alguns dias que um assunto tomou conta das mídias, e claro, das rodas de conversas: a moeda Sur. A proposta, então, é criar uma moeda comum entre Brasil e Argentina que iria facilitar as transações comerciais e financeiras entre os dois países.
Aliás, as discussões sobre uma moeda comum para negociações entre Brasil e Argentina não são uma novidade. Essa proposta já foi mencionada desde os anos 1980. Porém, até agora, a ideia nunca foi adiante.
Receba no seu e-mail a Calculadora de Aposentadoria 1-3-6-9® e descubra quanto você precisa juntar para se aposentar sem depender do INSS
“Importante salientar que aquilo que temos na mesa hoje é uma intenção. Por enquanto, a moeda única não existe e pelo menos no curto prazo (próximos 2 ou 3 anos) acredito que não existirá”, argumenta Vicente Guimarães, CEO da VG Research.
Quais são as vantagens e desvantagens do Sur?
Para responder esta questão, nós convidamos Pedro Raffy, professor de ciências econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo e Fernanda Melo, economista da Inteligência Financeira.
Enquanto o professor abordará as vantagens do Sur, nossa economista apresentará as desvantagens do uso desta moeda comum.
Vantagens do Sur
“Considerando que o Sur é uma moeda que será utilizada nas transações entre os dois países, uma das vantagens seria a não necessidade do dólar. (Ou seja), a não necessidade de se fazer o câmbio entre real dólar e dólar peso”, aponta Raffy.
Dessa forma, a não utilização do dólar tende a reduzir custos de transações financeiras. “E isto é algo positivo. Afinal de contas, ao substituir o dólar, aumenta-se o poder de barganha dos países em negociações internacionais, mesmo a moeda estando restrita às transações comerciais entre Brasil e Argentina”, acredita o professor.
Além disso, para o Brasil exclusivamente, o uso do Sur poderia fazer com que o país aumentasse as exportações para Argentina. E isto, claro, faz o poder econômico do nosso país aumentar.
“Já para a Argentina, uma possível vantagem adicional é que o Sur poderia resolver a questão da escassez de dólares que o país enfrenta. Mas, ao mesmo tempo, a Argentina precisa ajustar a sua economia, ou então, com o passar do tempo, o país passará pelo mesmo problema: a falta de moeda Sur em circulação”, afirma o professor.
Desvantagens do Sur
“O problema da implementação (da moeda comum) é que o Brasil pode acabar absorvendo a reputação ruim da Argentina. (Afinal de contas), o cenário é bem diferente de quando os países europeus se apoiavam por meio do Sistema Monetário Europeu, em que tinha um referencial no marco alemão. Antes de o Brasil querer ser a Alemanha do bloco, é preciso ter uma política fiscal arrumada, algo que ainda estamos caminhando”, afirma Fernanda.
A economista da IF aponta que existem outros temas mais urgentes na nossa economia. “Tal como a necessidade de ‘desburocratização’ tributária e o teto de gastos. Então, priorizar o Sur no lugar de projetos mais urgentes significa, por exemplo, manter o Brasil sem a reforma tributária que precisamos. E isto afeta diretamente as empresas e as pessoas”, diz.
Além disso, para Fernanda, não existem desvantagens da moeda comum para a Argentina.
O que pode acontecer com o real e o peso argentino?
Absolutamente nada! “O real continuará a ser utilizado como moeda corrente no Brasil. E até mesmo quando o brasileiro viajar para a Argentina, ele levará seus reais para trocar por pesos”, esclarece Guimarães.
Portanto, vale reiterar que se o Sur entrar em vigor em algum momento, o impacto será sentido pelas companhias. “(Afinal de contas), a ideia inicial é facilitar o pagamento de operações comerciais entre as empresas dos dois países”, afirma Bruno Mori, economista e sócio fundador da consultoria Sarfin.
Desse modo, o Sur seria uma forma de reduzir a dependência do dólar para transações internacionais e impulsionar o comércio regional entre Brasil e Argentina.
Qual seria o impacto do Sur para o Brasil?
De acordo com o CEO da VG Research, a depender da forma que a nova moeda for configurada, ela poderá facilitar as exportações do Brasil para a Argentina.
E isto é muito bom, já que o país vizinho é um dos nossos principais parceiros comerciais. Inclusive, o Brasil registrou um saldo comercial positivo de US$ 2,2 bilhões no comércio com a Argentina em 2022.
Dessa forma, a hipótese é a de que o Sur poderia aumentar ainda mais essa relação comercial entre os países, e claro, beneficiando o Brasil. Isto porque, como já dito, o nosso país poderia conseguir aumentar as exportações para a Argentina. Ou seja, mais dinheiro entrando por aqui.
E para a Argentina, qual seria o impacto da moeda comum?
Basicamente, o mesmo que o Brasil: “facilitar as exportações da Argentina para o Brasil. Reduzindo custos e a burocracia na transação”, diz Guimarães.
Afinal de contas, hoje, o peso argentino está muito desvalorizado em relação ao dólar. Tanto que existe escassez de dólares e de divisas cambiais por lá, o que já levou o governo argentino a limitar transações internacionais no passado. E isto pode vir a acontecer novamente.
“A escassez de dólares pode se torna uma barreira às importações de produtos de empresas brasileiras”, alerta o CEO.
Quando o Sur começará a circular?
Como dito, a moeda comum entre Brasil e Argentina ainda é uma proposta. “O projeto ainda está em fase de analise e estudos, sem data para ser implementado”, comenta Mori.