Tarifas de Trump sobre aço podem provocar sobreoferta do produto no mercado brasileiro

Taxa de 25% imposta pelos Estados Unidos pode criar excedente tanto de aço quanto de alumínio; mas indústria pode achar novo parceiro comercial

A tarifa de 25% sobre aço e alumínio anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na noite da segunda-feira (11) pode provocar eventual sobreoferta de aço no mercado brasileiro. A mudança prejudica produtores nacionais, que podem perder um destino óbvio para o aço e os seus componentes derivados. Nesse sentido, 4 a 5 milhões de toneladas de aço exportadas aos Estados Unidos podem sobrar para a indústria brasileira. E isso traz pressão para o lucro.

Qual o efeito das tarifas de Trump para o consumidor brasileiro?

O impacto das tarifas americanas sobre aço e alumínio são diversos no mercado brasileiro. Mas existe um mais evidente. É a sobreoferta.

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O Brasil hoje exporta 62,2% de todo aço que produz para os Estados Unidos, segundo dados do Instituto Aço Brasil referentes ao terceiro trimestre de 2024. No total, entre aço semiacabado, placas de aço e laminado, os americanos importaram do País 5,6 milhões de toneladas do metal.

Assim, no total o aço representa 8% de todas as exportações brasileiras aos EUA.

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Enquanto o consumidor americano é o primeiro a sofrer os efeitos das tarifas de Trump por meio da alta de inflação, o brasileiro pode até ver bens industriais mais baratos, argumenta o professor da Fundação Vanzolini, da Escola Politécnica da USP, Michael Roubicek.

Ao contrário do mercado americano, onde a procura pelo aço supera a produção local – e por isso os EUA importam aço de Brasil, Canadá e México – o Brasil não tem uma forte demanda pela commodity. Portanto, há excedente de aço.

“Hoje as empresas que compram aço no Brasil tem demanda constante, mas passamos longe de uma explosão na demanda”, diz Roubicek.

Isso em tese pode refletir até na queda de preço dos produtos da indústria de transformação. Geladeiras, motores de automóveis e máquinas de linha de produção podem ficar mais baratos. “Para o consumidor brasileiro, é positivo; para os produtores é ruim.”

Gabriel Boente, analista da consultoria de commodities Mind, avalia que pode haver de fato uma sobreoferta de aço com as tarifas de Trump.

No setor de maquinário agrícola, por exemplo, o Brasil tem montadoras locais fortes que podem se beneficiar da tarifa na produção de equipamento para safra. “Boa parte do aço utilizado é brasileiro”, diz Boente.

“Pode ser que tenhamos sobreoferta de aço por aqui. É ruim para siderúrgicas e companhias de silo. Mas é bom para as empresas de maquinário.”

Amcham apela para o governo brasileiro

Entidades do setor de aço e de comércio externo se manifestaram a respeito das tarifas de Donald Trump.

A Amcham (Câmara Americana de Comércio para o Brasil) disse em comunicado que as tarifas de aço e alumínio “tem o potencial de afetar significativamente as exportações brasileiras desses setores”.

A câmara de comércio apela para que os governos brasileiro e americano “busquem uma solução negociada para preservar o comércio bilateral”.

Já o Instituto Aço Brasil se disse surpreso pelo anúncio de Trump. A instituição relembrou que o presidente americano taxou o aço brasileiro com alíquota idêntica em 2018.

O instituto ainda solicitou ao governo a criação de nove cotas-tarifas registradas no Mercosul de produtos de aço para taxar insumos vindos da China. O Brasil importa 53% de todo aço laminado e aço acabado da China.

“O Instituto Aço Brasil e empresas associadas estão confiantes na abertura de diálogo entre os
governos dos dois países, de forma a restabelecer o fluxo de produtos de aço para os Estados Unidos nas bases acordadas em 2018″, disse a instituição em nota.

Já a Anfavea, que representa os fabricantes de veículos no Brasil, informou que 1,8% dos carros são importados dos Estados Unidos – picapes de grande porte e esportivos.

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Dessa maneira, o efeito da tarifa de importação de Trump também pode levar produtores brasileiros a buscarem novos mercados em países vizinhos. Ou na China. Esta última alternativa depende da recuperação da economia local.

A sobreoferta de aço pode não ocorrer se os grandes produtores acharem novos mercados para exportação, diz José Luiz Pimenta, diretor de comércio internacional da BMJ Consultores.

“Tarifas podem encarecer produtos brasileiros? Sim, mas não apenas brasileiros, mas de outros países também”, diz Pimenta em contraponto à possibilidade de aumento de oferta do aço no Brasil.

“O cliente americano vai pagar tarifa. Como isso vai ser repassado no preço, ele vai pedir desconto em relação ao fornecedor brasileiro, porque ele sabe que vai ser cobrado em 25% quando essa mercadoria chegar na fronteira.”

O efeito será repassado diretamente ao produtor brasileiro com a nova barreira tarifária na fronteira dos Estados Unidos, alega Pimenta.

“Acreditar em uma sobreoferta ignora a possibilidade de reorientação nas exportações e utilização no mercado doméstico”, conclui.

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