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Não é nosso foco agora o timing do corte de juros, diz diretora do BC
Em um ambiente que continua a ser marcado por uma incerteza acima do usual, o Banco Central (BC) vê sinais em indicadores econômicos e em dados de crédito de que a atividade econômica começa a refletir o ajuste realizado na política monetária. A avaliação é da diretora de Assuntos e Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos do Banco Central, Fernanda Guardado, que reforçou que o foco da autoridade monetária não está, neste momento, no “timing” para reduzir a Selic, hoje em 13,75%.
Em evento online organizado pelo UBS Brasil, Guardado notou que o cenário de referência do BC, que utiliza as projeções de juros do Boletim Focus, mostra que, com cortes de juros que tenham início em junho, a estratégia é compatível com a convergência da inflação para a meta no segundo trimestre de 2024 e no fim de 2024. Ela, porém, enfatizou que as incertezas têm sido elevadas nos últimos dois anos e têm diminuído a confiança nas projeções de longo prazo nos modelos.
“Existe incerteza sobre a persistência dos choques que temos vivido, sobre mudanças estruturais globais e domésticas… Precisamos de um pouco mais de tempo para ter confiança no processo de desinflação”, afirmou a diretora. Ela, inclusive, lembrou que há um debate sobre o nível do hiato do produto no Brasil e apontou que, caso o hiato esteja mais próximo da neutralidade, os impactos sobre a inflação tendem a ser mais persistentes. “Essa é outra fonte de incerteza e o BC tem incorporado no seu balanço de riscos e nas suas análises”, disse a dirigente.
Guardado, porém, afirmou que a autoridade monetária tem confiança de que a direção do hiato do produto nos próximos trimestres é de maior abertura, dado o ajuste relevante feito na política monetária. Ela, assim, enfatizou que o BC seguirá atento às incertezas e aos desenvolvimentos prospectivos e continuará com uma postura vigilante e serena.
Sobre as discussões fiscais e tributárias no Brasil, a diretora disse que a ênfase dada pelo BC na janela de seis trimestres à frente para a convergência da inflação está ligada à incerteza sobre a reintrodução ou não de impostos e que é condicional a esse cenário. Além disso, questionada sobre a política fiscal do governo eleito, Guardado apontou que ainda há muita incerteza nesse front e que o BC tem falado da necessidade de reformas que melhorem a produtividade para que o Brasil possa crescer mais e de forma sustentável. “Vamos ver as decisões que são efetivamente tomadas e incorporar no nosso cenário”, afirmou.
Apesar do destaque dado ao nível fora do usual de incertezas, a diretora apontou, logo no início do evento, que algumas têm se dissipado, como a guerra da Ucrânia, cuja duração é mais longa e tem impacto nos preços de grãos; o processo inflacionário global, que se mostra mais persistente; e o fato de que o mundo aprendeu a conviver com o novo coronavírus. “Percebemos também que parte dos deslocamentos de oferta têm diminuído ao longo dos últimos meses”, afirmou a dirigente, que também lembrou que os preços de commodities têm apontado para alguma acomodação.
Ainda em relação à economia global, Guardado destacou que vários países têm visto uma aceleração da inflação de serviços ao estarem imersos em um ambiente de mercado de trabalho aquecido, o que sugere um processo inflacionário com maior inércia. “Isso exige das autoridades monetárias uma ação mais contundente”, reforçou a diretora. Ela, assim, apontou que o ambiente global tem mudado para um cenário de juros mais altos por mais tempo, com taxas contracionistas e bem mais altas do que as observadas antes da pandemia.
A diretora observou que países emergentes, como o Brasil, saíram na frente no processo de ajuste monetário. Ela, porém, ressaltou que a autoridade monetária brasileira está mais alinhada com o mundo de que será necessário mais tempo para domar as pressões inflacionárias e para garantir a convergência da inflação para as metas. “A mensagem que os bancos centrais de países avançados têm tentado trazer é a de que os riscos e os custos de se voltar atrás em um processo de aperto monetário antes do tempo são grandes”, afirmou.
Ela, inclusive, apontou que tem visto um aumento na volatilidade nos mercados e que diversos emergentes passam por um processo acentuado de depreciação cambial. “Isso complica os esforços de convergência da inflação”, enfatizou. No entanto, ao pensar no médio e no longo prazo, a diretora afirmou que o ajuste monetário e uma desaceleração da economia global, em especial da economia americana, podem ajudar o Brasil. “Dá mais confiança ao nosso processo de convergência.”
Questionada sobre a possibilidade de recessão econômica nos Estados Unidos, Guardado afirmou que “é difícil pensar na contenção de um processo inflacionário global sem ter ajuste na demanda”, mas ressaltou que a economia americana tem “boas chances” de sofrer uma recessão que não seja muito profunda, dado o ponto de partida elevado.
Por Victor Rezende
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