Verde alerta para cenário sem corte do Fed e eleição de Trump nos Estados Unidos
'Mundo pode ir de um choque a outro', diz economista-chefe da gestora
Se a resiliência da inflação não permitir o corte de juros nos Estados Unidos e ainda o republicano Donald Trump ganhar a corrida à Casa Branca, com “políticas inflacionárias e disruptivas” para a cadeia global de comércio, “a gente pode entrar em um mundo que sai de um choque para outro choque, e é um mundo que nunca alivia”, afirmou Daniel Leichsenring, economista-chefe da Verde Asset.
A inflação americana, que vinha cedendo com força, passou a demonstrar dados piores no começo do ano, observou Leichsenring durante evento anual da gestora nesta terça-feira (7) em São Paulo.
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Algumas métricas rodam em 4% anualizadas e, na média de seis meses, estão perto de 3%. “Não é muito alto, mas claramente a inflação deixou de cair”, afirmou.
Sem considerar o aluguel, no entanto, o núcleo da inflação ao consumidor voltou para 2%, na média de seis meses, notou Leichsenring.
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“Não é nenhuma catástrofe. Às vezes, você vê as notícias e parece que a inflação está saindo do controle, mas acho que é muito longe de ser o caso”, disse.
Leichsenring afirmou ter “muita convicção” de que a inflação do aluguel nos EUA vai voltar a ceder ao longo dos próximos meses. “Estou um pouco mais confortável com essa tese”, disse.
Ainda que a economia americana como um todo esteja mostrando resiliência e surpreendendo para cima, Leichsenring mostrou dados indicando que as pequenas e médias empresas americanas estão sentindo os efeitos da política monetária apertada.
Pesquisas sobre a intenção de contratação entre as empresas desse porte são um bom antecedente para o comportamento do mercado de trabalho dos Estados Unidos, segundo Leichsenring.
“Quando o plano [dessas empresas] para ampliar o emprego cai bastante, está associado a altas relevantes de desemprego”, observou.
Essas empresas, segundo Leichsenring, operam como se a taxa de desemprego estivesse na casa de 5,5% a 6%, bem mais do que a taxa observada no agregado da economia.
“Essas empresas são responsáveis por 42%, 43% do emprego nos Estados Unidos. Não é razoável achar que elas vão ficar mal por um período indefinido e o mercado de trabalho permanecer bem”, afirmou.
Diante desse cenário e de alguns fatores mais temporários que estão sustentando a economia americana, Leichsenring disse achar “mais razoável que a gente, de fato, se engaje num ciclo de corte de juros adiante”, e não apenas nos Estados Unidos.
Ainda que esse ciclo seja menor do que o previsto anteriormente, reconheceu Leichsenring, o mundo, no fim desse período, vai ter uma cara melhor do que atualmente, quando se encontra no auge do aperto monetário.
Essa revisão do ciclo “não muda muito a figura pensando um ano, um ano e meio adiante”, disse Leichsenring.
Biden favorito?
Os riscos para esse cenário nos Estados Unidos envolvem não apenas o quadro fiscal frágil do país, mas também as perspectivas para a eleição presidencial deste ano, apontou o economista-chefe da Verde.
Por enquanto, a Verde tende a ver possibilidade de o democrata Joe Biden conseguir a reeleição, mas Leichsenring admitiu que o caminho não é fácil e que o resultado deve ser apertado.
A partir de algumas pesquisas sobre os eleitores, Leichsenring apontou que “a sociedade americana está sendo mais ‘republicanizada'” e disse que os democratas, para enfrentarem essa situação, vão precisar se mover mais ao centro.
“Pode ser que isso faça diferença já nesta eleição e nossos modelos [indicando possibilidade de vitória de Biden] estejam furados”, ponderou Leichsenring.
‘Brasil está gastando tudo e mais um pouco’
A Verde Asset segue esperando um ciclo de afrouxamento monetário pelo mundo que deve beneficiar países desenvolvidos e emergentes, como o Brasil, ainda que os níveis desses juros possam ser maiores do que se esperava até pouco tempo atrás.
O risco, segundo o economista-chefe Daniel Leichsenring, é o banco central americano não poder cortar juros em uma primeira janela.
Por causa da resiliência da inflação, e, depois, Donald Trump ser eleito com políticas disruptivas e essa outra janela de corte também passar.
“Isso significaria um dólar muito mais forte, o que, provavelmente, acarretaria surpresas de crescimento para baixo no Brasil e não para cima”, disse Leichsenring durante evento da Verde hoje em São Paulo.
Além disso, o Brasil se beneficiaria desse cenário de corte de juros pelo mundo, “mas a gente está gastando tudo e mais um pouco”, disse Leichsenring a respeito do tema fiscal no país.
“Tem a deterioração do externo e estamos em um período de gastança desenfreada no Brasil”, afirmou.
A melhora “muito boa” recente da percepção do mercado para o crescimento do Brasil “não ajudou em nada as pessoas a preverem um déficit público melhor, pelo contrário”, observou Leichsenring.
“A gente gastou um crescimento a mais muito maior, gastou de fato, com dinheiro, e o nosso déficit acaba sendo pior do que aquilo que a gente imaginava mesmo com o crescimento maior”, afirmou.
Popularidade de Lula
Leichsenring também observou que há um “divórcio” entre as condições econômicas de fato “muito boas” e a popularidade baixa do presidente Lula.
“Não consegue capturar a melhora econômica na popularidade e daí começa a fazer coisas cada vez mais bizarras de fiscal, parafiscal, crédito, para ver se lá na frente consegue ganhar a eleição”, disse.
“Nesse governo do PT tem coisas boas e coisas novas. O problema é que as coisas boas não são novas e as coisas novas não são boas.”
Em termos de atividade, ainda tem “uma história boa” no mercado de crédito para acontecer, aponta Leichsenring. “O problema é o quanto isso vai acarretar de inflação”, ponderou.
Novas surpresas com o crescimento também devem depender, agora, mais do cenário internacional do que das próprias capacidades do Brasil, na avaliação de Leichsenring.
“Do ciclo de política monetária do mundo, tanto desenvolvidos quanto emergentes, dá para esperar um futuro melhor, com mais apoio ao crescimento, especialmente se a gente, de fato, tiver, nos EUA, convergência da inflação para baixo como a gente espera ao longo dos meses”, afirmou.
Esse cenário “ainda está válido, apesar de, obviamente, com níveis piores do que a gente imaginava antes”, disse.
Com informações do Valor Pro, serviço de notícias em tempo real do Valor Econômico