Verde está otimista com o Brasil: ambiente extremamente favorável para ativos locais

Daniel Leichsenring, economista-chefe da casa, ponderou que, com juros e dólar mais baixos, a relação dívida/PIB poderia ser estabilizada em um a dois anos

Leichsenring, da Verde: avaliação positiva do cenário macro, após encaminhamento do arcabouço fiscal para o Congresso — Foto: Ana Paula Paiva/Valor
Leichsenring, da Verde: avaliação positiva do cenário macro, após encaminhamento do arcabouço fiscal para o Congresso — Foto: Ana Paula Paiva/Valor

Gestores de recursos que estiveram, nesta quarta-feira, em evento anual da Verde Asset se impressionaram com o viés otimista de parte do time da gestora. Chamou a atenção, sobretudo, a visão de Daniel Leichsenring, economista-chefe da casa, numa rara avaliação positiva do cenário macroeconômico, após o encaminhamento do arcabouço fiscal para o Congresso. Luis Stuhlberger, CIO e CEO da asset, apresentou um tom mais moderado. Para a audiência, ficou a impressão de que a Verde está bastante comprada em ações.

Leichsenring disse que, embora a regra fiscal não resolva o problema para sempre, o Brasil ganha tempo e tira da frente um risco relevante. Para ele, as reformas feitas desde o governo do ex-presidente Michel Temer ajudam a dar algum suporte para a economia. Se, além disso, o real se valorizar, os problemas de curto prazo estariam bem equacionados e a política monetária daria a sua contribuição.

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Pelo relato de um gestor de patrimônio, o economista ponderou que, com juros e dólar mais baixos, a relação dívida/PIB poderia ser estabilizada em um a dois anos. Esse seria um ambiente extremamente favorável para ativos brasileiros.

Elmer Ferraz, novo gestor de estratégias de ações da Verde, egresso da Itaú Asset, comentou que os preços dos ativos estão bastante descontados. A equipe da Verde calcula que a bolsa deveria estar de 15% a 17% mais valorizada. Ferraz mencionou que o spread entre o prêmio da NTN-B longa, parâmetro de juro real, e o da bolsa está no maior nível histórico. Quando olha o “valuation”, as ações estão baratas, e na comparação relativa com a renda fixa também.

Ferraz apresentou exemplos da carteira, com papéis como Rumo, Equatorial, Energisa e Engie no bloco de “empresas de qualidade, com baixo risco operacional e taxas atrativas de retorno real”. Ações sensíveis a taxas de juros e maior correlação com o PIB tendem a se beneficiar de uma melhora dos fundamentos, com a revisão do crescimento e a queda da Selic. Nesse grupo estão nomes como Localiza, Itaú, BTG, Hapvida, XP e Lojas Renner.

Para Leichsenring, a economia brasileira tende a ganhar impulso à medida que o cenário global também mostre avanços — o time da Verde não mostrou preocupações com uma possível recessão.

As oportunidades em estratégias ligadas a juros estão mais escassas para os multimercados. A preferência tem sido a bolsa, estratégia casada com proteção em inflação implícita, pela visão de que os governos do PT tendem a trabalhar com juros reais mais altos, diz um gestor.

Stuhlberger pareceu mais moderado, afirma um alocador, e acha que a inflação lá fora é mais persistente do que Leichsenring deu a entender. O fundador da Verde vê o setor imobiliário apertado, com uma queda de custos de construção que parece temporária, e um mercado de trabalho apertado. A avaliação dele é que há muitas quedas incorporadas na curva de juros americana até 2025, que dificilmente vão se concretizar. Mas não é um mercado para ficar direcional, posições relativas podem dar mais frutos.

Um trade que ainda não deu certo, “e que tem tirado o seu sono”, é uma posição tomada em juros no Japão, sob a leitura de que as taxas estão no lugar errado e precisam cair para tirar a inflação de cena. Stuhlberger disse ter convicção de que o posicionamento, relativamente grande, vai trazer resultados.

O gestor também tem mantido ouro na carteira. Apesar de a avaliação ser que o ativo está caro, as tensões geopolíticas e o aumento dos estoques nas reservas pelos bancos centrais tendem a dar um suporte para a estratégia.

Já Daniel Goldberg, sócio-fundador da Lumina Capital, que acertou em março uma compra de participação minoritária da Verde, disse que nas três últimas crises de crédito nos EUA o investidor de crédito perdia na média 15% do seu ativo. Na janela mais recente, isso não passou de 5%. A dúvida no cenário de crédito americano é se o índice de “default” pode chegar a 10%.

No Brasil, ele comentou que o mercado de fato secou para alguns perfis de dívida. O “high grade”, de melhor qualidade, tem acesso a dinheiro novo, o “high yield” enfrenta mais dificuldade e, para as companhias de classificações mais baixas, não há mais recursos. Goldberg não acha, contudo, que seja um problema sistêmico, ele disse que o Brasil não tem problema de solvência, mas de liquidez. A perspectiva de queda de juros pode dar o tom das oportunidades no mercado de crédito mais estruturado.

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