Dobra o número de empresas do Ibovespa com prejuízo no quarto trimestre
Parte da deterioração pode ser creditada aos resultados financeiros, que incluem a conta dos juros das dívidas das companhias
O número de empresas com prejuízo no principal índice da bolsa brasileira mais que dobrou o quarto trimestre, de oito para 22, na comparação com mesmo período de 2021. Nos doze meses, foram 15 com prejuízo, comparado a nove em 2021.
O levantamento feito pelo Valor inclui 77 companhias não financeiras que faziam parte da carteira do Índice Bovespa em 31 de março. Se forem consideradas as instituições financeiras, a soma vai a 84, mas não muda o resultado de perdas e ganhos.
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Na amostra, 18 passaram do azul para o vermelho, três aumentaram o prejuízo e uma reduziu as perdas. O lucro caiu para 28, aumentou para 23 e quatro reverteram o prejuízo no trimestre.
No ano, oito passaram do lucro para prejuízo, três aumentaram as perdas e quatro reduziram. O lucrou foi menor para 36, foi maior para 24 e duas reverteram o prejuízo.
Parte da deterioração pode ser creditada aos resultados financeiros, que incluem a conta dos juros das dívidas das companhias. Das 77 empresas, 57, ou 74%, pioraram seu desempenho financeiro — receitas menos despesas financeiras — no quarto trimestre.
Em valores, a soma foi uma despesa financeira líquida de R$ 28,3 bilhões, cerca de 10% acima do mesmo período de 2021.
Mas o financeiro sozinho não explica o quadro. O resultado operacional antes do financeiro e dos impostos também veio pior, reflexo do aumento de custos — um problema recorrente nos últimos trimestres.
Da amostra, 12 empresas fecharam o período com prejuízo operacional, o dobro na comparação com o quarto trimestre de 2021. No ano, seis ficaram no vermelho, ante quatro em 2021.
Mais uma vez, a maioria das empresas, 54, ou 70%, conseguiu aumentar a receita de vendas e serviços no trimestre (58 no ano). No entanto, só 21 reduziram seus custos (15 no ano), que aumentaram 15% no trimestre e 22% no ano.
A piora nos resultados das empresa de capital aberto no último trimestre de 2022 é mais um indicativo da tendência de desaceleração da economia. Dados divulgados no começo de março pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que Produto Interno Bruto (PIB) recuou 0,2% no quarto trimestre, comparado ao terceiro trimestre. Foi a primeira queda depois de cinco trimestres de alta. Em 2022, o PIB avançou 2,9%.
O valor de mercado somado das 77 empresas no fim de dezembro foi 4% menor em relação a dezembro de 2021. A relação entre valor de mercado e lucro líquido caiu de 6,78 para 6,44 no período.
Com relação ao fechamento de sexta-feira, a redução do valor de mercado chega a 11% e a relação é de 5,95.
Por Nelson Niero