Euro e títulos alemães sobem juntos: fuga de capitais para a Europa?
Turbulência na guerra comercial leva investidores a buscarem refúgio em ativos seguros europeus, impulsionando o euro e os títulos do governo alemão, contrariando a tendência usual.

A alta simultânea do euro e dos títulos do governo alemão neste mês sugere uma fuga de capitais para a dívida de referência da zona do euro como refúgio diante da turbulência da guerra comercial, dizem investidores.
Normalmente, os títulos alemães e o euro se movem em direções opostas, pois o otimismo em relação à economia — que impulsiona a moeda — reduz a demanda pela dívida, que é o ativo seguro do bloco do euro. Esse padrão se manteve após o acordo histórico de gastos do país no mês passado, que fez o euro disparar e os Bunds caírem.
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Mas neste mês o euro subiu cerca de 5% em relação ao dólar, mesmo com o aumento da diferença nas taxas de retorno dos títulos entre os dois lados do Atlântico, o que elevou o prêmio oferecido pelos Treasuries. Os custos de empréstimo dos EUA para dois anos estão agora cerca de 2 pontos percentuais acima dos da Alemanha, ante cerca de 1,7 ponto percentual no início de março.
A correlação usual entre o euro e as taxas relativas “se rompeu completamente nas últimas duas semanas, já que tanto os Bunds quanto o euro se beneficiaram das preocupações do mercado induzidas pela política dos EUA”, disse Mike Riddell, gestor de fundos de renda fixa da Fidelity International. Isso foi “sintomático de uma fuga de capitais”, acrescentou.
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A queda simultânea dos Treasuries dos EUA e do dólar, que normalmente se movem em direções opostas, deixou Wall Street em alerta. Mas, na Europa, os investidores também foram surpreendidos pela disparada nos preços dos Bunds alemães e do euro.
“Os mercados cambiais não se importam mais com a dinâmica das taxas de juros”, disse Benoit Anne, estrategista da MFS Investment Management, acrescentando que um grande aumento relativo nas taxas de juros do mercado dos EUA “tradicionalmente desencadearia um forte sinal de alta [para o dólar]”.
Mudanças na alocação global diante de instabilidade nos EUA
“Parece haver algumas mudanças em curso na alocação global de ativos, com investidores globais buscando se diversificar em relação aos EUA e vendo a Europa e o restante do mundo como lugares mais atraentes para investir”, acrescentou ele.
Especialistas em renda fixa dizem que investidores globais estão reavaliando a atratividade dos Treasuries como ativo de refúgio em meio a preocupações com a formulação de políticas nos EUA.
Os investidores estão buscando fora dos EUA um “governo seguro, com estado de direito e no qual se possa confiar, com uma economia bem administrada”, disse April LaRusse, chefe de especialistas em investimentos da Insight Investment.
Ela apontou para a maior volatilidade dos Treasuries nos últimos anos. O índice Ice BofA Move, que mede as expectativas dos investidores de renda fixa sobre a volatilidade futura dos Treasuries, tem se mantido em níveis elevados desde 2022. Na semana passada, o índice atingiu o maior patamar em mais de um ano.
Mas ainda existem grandes barreiras para os Bunds alemães substituírem os Treasuries como o ativo seguro global preferido, já que o mercado de Bunds é apenas uma fração do mercado de títulos do governo dos EUA, que chega a quase US$ 30 trilhões. A escassez histórica de Bunds fez com que eles fossem negociados por longos períodos com rendimento abaixo de zero.
O status dos Treasuries como o ativo de reserva global preferido também está ligado ao papel dominante do dólar nas finanças e no comércio global, mesmo que especialistas digam que isso está sendo desafiado por uma crise de confiança na formulação de políticas nos EUA.
Steven Major, chefe global de pesquisa em renda fixa do HSBC, disse que as alegações de uma mudança secular longe dos Treasuries não consideram que “o comprador marginal de Treasuries tem sido cada vez mais investidores domésticos”, enquanto estrangeiros reduzem suas participações.
Mas há sinais, dizem os gestores de fundos, de que grandes investidores globais estão, de fato, buscando diversificar seus ativos seguros, com os Bunds sendo um dos principais beneficiários, à medida que a Alemanha aumenta a emissão de títulos para financiar seus planos de gastos.
Os rendimentos dos Bunds de curto prazo se estreitaram ainda mais na quinta-feira, após o Banco Central Europeu cortar as taxas e os agentes financeiros apostarem em mais cortes por vir. O euro teve pouca variação.
“Há alguns investidores olhando para a Europa de uma maneira que realmente não tinham feito antes”, disse LaRusse, da Insight.
*Com informações do Valor Econômico