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Fundos terão regra de risco e preço para criptoativos
Os fundos de investimento locais terão que reportar informações padronizadas sobre risco para aplicar em criptoativos. A novidade, que deve ser implementada já no início do segundo semestre, faz parte da agenda de autorregulação da Associação das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), que prevê inclusive criar uma metodologia de precificação própria para ativos digitais.
A ideia é que, já na primeira fase da autorregulação, as informações consideradas mais sensíveis sobre fatores de risco façam parte também do material publicitário ao qual o público tem acesso com mais frequência, além de constar nos prospectos e nos regulamentos dos fundos de investimento.
“Abrimos uma frente para criar algumas regras específicas para os fundos de investimento quando aplicarem em ativos digitais. Sentimos a necessidade de atuar rapidamente na autorregulação, principalmente olhando para a proteção do investidor. Temos o investidor de varejo com acesso a um ativo ainda bem desconhecido por ele. Nosso objetivo é padronizar para não criar assimetrias que prejudiquem os investidores”, disse Zeca Doherty, superintendente-geral da Anbima.
Desde o ano passado, a Anbima estuda a evolução da regulação em diferentes países e tem um grupo de trabalho que discute propostas de autorregulação para permitir que os associados invistam com segurança e também se beneficiem da nova tecnologia que chega com os criptoativos. A associação contratou uma consultoria externa para ajudar os associados a compreenderem a chamada criptoeconomia e identificarem oportunidades que surgem com ela.
“No período da pandemia, cresceu muito o interesse da indústria de investimentos no mundo de criptoativos. Começamos a debater internamente como deveríamos abordar esse assunto do ponto de vista da autorregulação”, explicou.
Num segundo momento, a Anbima pretende estabelecer diretrizes para explicitar as práticas de gestão dos fundos de investimento em relação aos ativos digitais. A expectativa é que essa fase da autorregulação seja implementada logo depois da primeira, em meados do segundo semestre deste ano.
“Qual é a prática de gestão dentro do portfólio que a asset vai ter em relação a um criptoativo? É a mesma política que tem para crédito e para investimento? O gestor está preparado para isso? Como será essa preparação? Também estamos colocando esse assunto na nossa certificação”, disse Doherty.
O terceiro momento da autorregulação, considerado o mais crítico e polêmico, diz respeito à precificação das cotas dos fundos, possivelmente por meio de uma marcação a mercado específica, que leve em conta a taxa de câmbio, se for o caso, e faça sentido para os criptoativos.
Para começar, os gestores de investimentos que se aventuraram nessa seara se depararam com um mercado ininterrupto, de altíssima volatilidade, que funciona 24 horas por dia, sete dias por semana – muito diferente do que acontece com ações e renda fixa, que têm um momento de respiro para calcular as cotas.
Normalmente, as gestoras especializadas no segmento, como a brasileira Hashdex, estabelecem um horário de corte para fechamento da cota do dia – por exemplo, às 15h. No caso das gestoras especializadas em criptoativos, a categoria seguida é a de investimentos no exterior.
O problema maior nem diz respeito aos produtos “puro-sangue”, que só investem em ativos digitais e que podem seguir as práticas de mercado mais comuns no segmento. A complexidade pode ser maior em fundos multimercados, que misturam diferentes tipos de ativos com parâmetros de marcação a mercado diferentes e até divergentes entre si.
Nessa fase também deve ser discutido como os fundos farão a gestão de liquidez. Por exemplo, se o fundo terá resgate em D+1, D+10, assim por diante. Novamente, os produtos mistos podem enfrentar mais dificuldade nesse tipo de gestão. Isso porque enquanto crédito privado e gestão ativa de ações pedem horizontes mais longos de investimento, a volatilidade de criptomoedas pode exigir respostas mais rápida dos gestores e dos cotistas.
Doherty disse que espera começar 2023 com essas três fases da autorregulação implementadas. “Temos muitas questões em aberto. O desafio é grande, mas estamos na mesma página que os demais reguladores e autorreguladores do mundo”, disse.
Por Toni Sciarretta, do Valor Econômico, São Paulo.
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