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Governo terá de fazer o mercado acreditar que o arcabouço fiscal se manterá vivo, diz Kinea
Em um mundo no qual os juros reais de longo prazo dos Estados Unidos beiram os 2%, o governo brasileiro “não tem mais opções” e terá de “fazer o mercado acreditar que o arcabouço fiscal ainda se manterá vivo”. A avaliação é defendida pela Kinea Investimentos, que adota um viés bastante defensivo em seu portfólio em relação aos ativos brasileiros, ao defender que o cenário mais provável passa por medidas que ganhem mais tempo para o governo, mas que não resolvem o problema fiscal brasileiro como um todo.
Em carta referente a junho, antecipada ao Valor, a Kinea diz ter posições táticas moderadas em Brasil, com foco nos juros de curto prazo, ao ver como improvável uma elevação da Selic já nas próximas reuniões do Copom, o que a curva de juros tem embutido nos preços. Para julho, a gestora espera um contingenciamento maior de despesas para o Orçamento deste ano e uma transição na diretoria do Banco Central que ocorra sem surpresas.
“Mas o mais importante seria o envio de um projeto de lei para o Congresso com cortes entre R$ 20 bilhões e R$ 30 bilhões de gastos permanentes, cuja resistência no governo é maior”, afirmam os profissionais da Kinea.
Na avaliação de Roberto Elaiuy, gestor de renda fixa da casa, o estresse recente nos mercados domésticos mostra que os agentes estão esperando “um posicionamento bem mais forte e mais claro do presidente Lula em relação ao fiscal”. “Não basta apoiar o [ministro da Fazenda Fernando] Haddad; é preciso apoiar o plano. Estamos em um ponto em que o próprio Congresso deveria abraçar o plano da equipe econômica. O Brasil está sendo colocado em xeque pelos investidores, e não são apenas os locais”, diz.
Para Elaiuy, o motivo da piora dos ativos é “claramente fiscal” e é necessária uma resposta convincente. “Enquanto isso não aparece, o mercado vai continuar testando os limites”, afirma. Nesse sentido, ele nota que rumores em torno de que o relatório de receitas e despesas a ser divulgado em julho pode indicar um contingenciamento mais tímido que o esperado pelo mercado têm afetado os preços.
“As expectativas fiscais estão piorando muito desde a mudança da meta [de resultado primário de 2025, em abril]. A dinâmica do mercado claramente mudou e isso só vem se agravando. Nesse contexto, os comentários do presidente não ajudam.”
Assim, embora concorde que os ativos brasileiros estão em níveis baratos, Elaiuy ressalta que não existe confiança no mercado para uma recuperação mais significativa dos preços. “E, sem confiança, não existe preço. Você só não quer continuar com as posições independentemente do nível”, diz. A Kinea, nesse sentido, não tem posições em real e reduziu sua exposição aos juros, tendo apenas como referência a ponta curta da curva doméstica.
“Temos a sensação de que o governo sabe de tudo isso, mas não deseja fazer nada até o momento por não achar que seja extremamente necessário. E, por isso, o mercado pode testar níveis piores, até achar um nível de desvalorização do real que seja o gatilho para alguma ação”, afirma o gestor. “O mercado entrou em uma dinâmica de pensar sobre qual será o patamar de preço que fará este governo fazer alguma coisa.”
Com informações do Valor Econômico
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