Guerra abre espaço para aço do Brasil nos EUA
Brasil poderá suprir parte da oferta de placas semiacabadas no lugar da Rússia
O corte na oferta de aço na esteira da guerra entre Rússia e Ucrânia, dois grandes fornecedores desses produtos para mundo, criam oportunidades para as exportações brasileiras, tanto em preço quanto em volume. Hoje o Brasil é o maior fornecedor de placas de aço – material semi-elaborado – para os Estados Unidos. Em segundo lugar está o México e, logo depois, a Rússia, como o terceiro maior exportador desse material para os EUA.
É justamente na venda de placas semiacabadas de aço, preferencialmente para o mercado americano, que está a maior oportunidade para o Brasil. Outro mercado a ser atendido é o europeu, que pode barrar a entrada de aço russo e sofre com a interrupção da cadeia produtiva da Ucrânia uma vez que a maior parte das usinas siderúrgicas ucranianas está localizada a leste do país, em zonas de conflito ou já dominadas pelos russos.
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Representantes dos fabricantes de aço e especialistas no assunto ouvidos pelo Valor afirmam que, em ambos os casos, a siderurgia brasileira poderia suprir a demanda, pois hoje opera hoje com capacidade ociosa de 35% a 40%. A maior barreira é o protecionismo.
Nos Estados Unidos, desde 2018, há sobretaxa de 25% ao aço importado. Brasil, Argentina e Coreia do Sul negociaram cotas máximas de importação livres do imposto. No caso das placas de aço, o Brasil pode exportar até 3,5 milhões de toneladas livres dessa taxa para os EUA por ano. Como as exportações brasileiras têm alcançado ou ficado próximas a esse limite nos últimos anos, qualquer aumento dos envios depende de ampliação ou extinção da cota.
Uma missão comercial brasileira, com negociadores do governo e representantes do setor, deve ir aos EUA até abril, diz o presidente do Instituto Aço Brasil, Marco Polo Lopes. “Nosso pleito com os americanos é para excluir os semiacabados do acordo, deixá-los livres [do imposto e da cota]. Se não for possível, vamos pedir uma aumento da cota desses semiacabados”, afirma Lopes.
Além das placas, contam de maneira residual nesse grupo de produtos os blocos e tarugos. As placas representam entre 80% e 85% das exportações brasileiras de aço aos EUA e funcionam como matéria-prima para a indústria siderúrgica local, que a transforma em produtos acabados – laminados ou chapas galvanizadas usadas pela indústria de máquinas e equipamentos, automobilística e de eletrodomésticos.
Professor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e especialista em indústria siderúrgica com pós-doutorado na Universidade de Oxford, Germano Mendes de Paula afirma que as indústrias brasileira, russa e ucraniana, especializaram-se em semiacabados de aço e concorrem entre si, embora não liderem a produção no mundo. De acordo com a associação Worldsteel, o Brasil é o nono maior produtor de aço no mundo, com 36 milhões de toneladas produzidas em 2021. A Rússia é o quinto maior produtor, com 75 milhões de toneladas e a Ucrânia é o 14, com 21 milhões de toneladas.
Dados do Departamento de Comércio dos EUA compilados por Mendes de Paula indicam que, os embarques de placas de aço da Rússia em 2021 totalizaram 1,1 milhão de toneladas. O especialista diz que a produção extra de placas de aço para atender o mercado americano e, eventualmente o europeu, deve sair da unidade da Ternium, no Rio, com capacidade para produzir 5 milhões de toneladas por ano; da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), negócio da Vale (50%) com as sul-coreanas Dongkuk (30%) e Posco (20%), com capacidade para produzir 3 milhões de toneladas de placas ao ano; e da ArcelorMittal Tubarão, no Espírito Santo, com capacidade de 7,8 milhões de toneladas em produtos de aço, entre placas e laminados.
O presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), Carlos Loureiro, também considera Ternium, ArcelorMittal e CSP como possíveis fornecedoras de placas para os EUA no lugar da Rússia. “Os Estados Unidos vão ter que substituir fornecedores. O Brasil tem disponibilidade para exportar”, diz Loureiro. Por enquanto, o principal impacto da guerra foi o aumento nos preços das placas de aço, que passaram de uma média de US$ 700 por tonelada para US$ 1 mil. “O mercado está sorridente para o Brasil. O país pode exportar produto acabado também para a Europa”, diz Loureiro.