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Ibovespa acima de 110 mil pontos: índice vai consolidar alta ou perderá fôlego?
O Ibovespa terminou o pregão desta quinta-feira (17) em alta, num dia de maior otimismo doméstico e internacional. Indicadores macroeconômicos e a tramitação do arcabouço fiscal melhoraram o humor doméstico, enquanto no exterior há expectativa de resolução para uma elevação do teto da dívida americana. O principal índice da bolsa brasileira fechou o pregão em alta de 0,59%, aos 110.101 pontos.
Na semana passada, o índice já havia fechado com a maior sequência positiva desde agosto. Foram sete altas seguidas. Buscando uma estabilização acima do patamar de 110 mil pontos, o índice tem tido desempenho melhor que o projetado.
A perspectiva predominante no mercado era de um ano de quedas na bolsa. Isso por conta dos juros altos, que atrai os investidores para a renda fixa, e intempéries políticas, com questões fiscais e tributárias a serem discutidas.
Ainda que essas questões permaneçam incertas, os últimos dias foram de ganhos importantes entre os ativos de risco. Especialistas ouvidos pela Inteligência Financeira explicam por que a bolsa emplacou altas consecutivas e se o movimento deve mesmo se consolidar com uma alta sustentada.
Ibovespa em novo patamar?
O que tem favorecido a bolsa brasileira é o fato de ela estar bastante descontada, ou seja, barata. A afirmação é de Guilherme Paulo, operador de renda variável da Manchester Investimentos.
“Num cenário de menos ruído, como o que está no horizonte, isso acaba sendo benéfico”, avalia Paulo. Para ele, há possibilidade de uma solidificação do Ibovespa em um patamar acima de 110 mil pontos. “Porém, precisamos de um cenário interno e global que ajude”, pondera.
Para o Ibovespa cair a patamares próximos dos 100 mil pontos, seria necessária uma deterioração mais intensa dos preços das commodities, associada à fuga de ativos de risco generalizado. A avaliação é de João Piccioni, analista da Empiricus Research, que vê esse cenário como improvável.
“Já os 110 mil pontos me parecem fazer mais sentido, dado que as expectativas apontam para um ‘fundo’ nos resultados corporativos nesse primeiro trimestre. Assim, o pior teria ficado para trás. Além disso, há sinalizações de que a Selic deve cair no segundo semestre”, diz Piccioni.
O Ibovespa começou o ano próximo dos 100 mil pontos e chegou a cair a 96 mil. “Se não houver eventos exógenos, a bolsa deverá chegar a 110 mil pontos ou até ir um pouco além”, avalia.
Juros futuros apontam para baixo
Para Paulo, da Manchester, a queda dos juros futuros para algo perto de 5% é um indicativo de que o crescimento da bolsa deve se sustentar. Ainda assim, haverá oscilações.
O mercado pode se estabilizar ao longo desta semana, indicando uma provável perda de fôlego no curto prazo por conta de alguns fatores como fim da temporada de balanços, que também ajudou a movimentar o mercado nos últimos dias. “Agora, fica mais fácil visualizar as perspectivas das empresas para 2023”, diz o analista.
Além disso, eventuais notícias relacionadas ao Arcabouço Fiscal também podem fazer preço. Por enquanto, a perspectiva do mercado com relação ao texto é que ele seja mais duro do que o que foi apresentado até agora. “Isso é visto pelo mercado como positivo”, diz Paulo.
Piccioni diz que a expectativa é de que mudanças no texto não ameacem a situação fiscal brasileira. Por isso, a curva de juros de longo prazo foi empurrada para baixo.
“Nem mesmo o IPCA divulgado na sexta-feira (12), que veio acima do esperado, foi suficiente para retirar a visão de que o BC terá espaço para reduzir a Selic”, diz.
Mercado começa a antecipar uma melhora da economia
Felipe Moura, sócio e analista da Finacap Investimentos, avalia que o mercado começa a antecipar a melhora do cenário econômico. “Tudo começa com um corte de juros por parte do Banco Central.”
Apesar do otimismo, Moura diz que esse corte não deve vir tão logo, mas que o mercado se antecipa, assim como fez na queda em 2021, quando a bolsa começou a entrar numa trajetória negativa quando o cenário ainda era bom.
“Nossa bolsa apresenta movimento de queda desde junho de 2021, são praticamente dois anos de baixa. É uma queda de 25% até o final de março de 2023. O mercado começou a cair num cenário ainda muito positivo, as empresas reportando números muito fortes, a taxa de juros ainda era muito baixa, de 4,25%, a inflação não era baixa nem alta. O mercado antecipou toda essa virada. Agora, a gente está vivendo o oposto”, avalia.
Ibovespa descola de Wall Street
Diante disso, a bolsa brasileira descolou dos índices S&P e Dow Jones na semana passada, quando Wall Street fechou em leve queda, apesar do avanço de Nasdaq, por conta do desempenho das ações de tecnologia.
Piccioni diz que há uma certa atitude positiva em direção ao risco que tem estimulado a alocação de recursos em países emergentes.
“Neste sentido, o dólar vem se desvalorizando frente às moedas emergentes, em especial após a sinalização do Federal Reserve em relação à manutenção da taxa básica da economia dos EUA. O Brasil se aproveita dessa inércia e a resposta veio rapidamente nos ativos de risco”.
Dívida americana e investimentos no Brasil
No cenário global, o teto da dívida dos EUA é um dos fatores que também estão no horizonte dos investidores. “Se não chegar a um consenso, vai haver problemas”, ressalta Paulo, da Manchester, sobre as negociações entre o governo Biden e o Congresso para domar o avanço da dívida pública na maior economia do mundo.
O cenário está um pouco mais favorável para o Brasil, mas isso pode virar se houver uma recessão global, principalmente porque cerca de 40% da bolsa brasileira é commodity. Além disso, 10% é banco, e por isso o Brasil também pode ficar exposto a uma crise bancária americana.
Por outro lado, as incertezas com relação aos Estados Unidos podem ser favoráveis ao Brasil. O diretor de finanças corporativas da Kroll no Brasil, Alexandre Pierantoni, diz que o mercado brasileiro de ativos de risco está sendo fortemente suportado pelo investimento estrangeiro.
“O país é atrativo principalmente nesse contexto em que os investidores institucionais têm uma locação global de recursos”, destaca. “Então, eu vejo que o estrangeiro está presente e ele acredita no Brasil”, destaca.
Assim, ele avalia que, após três anos de aumento da percepção de risco no Brasil, de uma “disposição internacional bastante cinza”, o cenário começa a mudar. “Acho que está tomando um rumo diferente agora, obviamente, ainda como muitos desafios”, destaca.
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