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Ações ligadas à economia global garantem Ibovespa no azul
O mercado financeiro nacional segue brincando de “liga e desliga”. A depender do indicador, acende o alerta de que a economia global pode desacelerar mais forte e rapidamente. Noutros momentos… Epa! A paradeira deve vir, mas ainda é cedo para pânico. E, como sugere o resultado da Bolsa nesta segunda-feira (18), o interruptor dos negociantes pendeu mais a esse segundo sentimento.
Mesmo com a maior parte da carteira teórica no negativo, o Ibovespa subiu 0,38%, a 96.916 pontos. O principal índice da bolsa do Brasil reduziu as perdas parciais do mês a 1,65%. E do ano, a 7,54%.
Dados de emprego por lá dão mostras de resiliência. E, somados à inflação renovando recordes, podem exigir ainda mais esforços do FED para esfriar. No entanto, essas apostas deram uma esfriada. O retrovisor preocupa, mas as coisas deram uma acalmada no horizonte. As expectativas para a inflação caírem levemente nos Estados Unidos. Ou seja, o poder de autorrealização das previsões deixou de jogar contra para jogar a favor do Fed. E, assim sendo, talvez uma nova alta de 0,75 ponto seja a mais indicada no próximo dia 27.
Recessão nos EUA
O risco de recessão nos Estados Unidos continua vivo. Mas ainda mais estaria se viesse uma alta de 1 ponto nos juros. Não vindo, os demais países do mundo terão de lidar primeiro com a desaceleração na Europa, já mais acentuada. A contribuição americana para a perda de tração generalizada ficaria para depois.
Em paralelo, de quebra, notícias vindas da China ajudaram acalmar corações neste primeiro pregão da semana. O vai-e-volta de lockdowns não acabou. Mas, por outro lado, segue o presidente Xi Jinping garantindo que dará estímulos o quanto necessários forem para manter viva a atividade econômica local. Que pode até não crescer o colosso com o qual o mundo estava acostumado. Mas ainda deve se manter em níveis acima dos apresentados pelas outras principais potências do mundo.
Preços de commodities
Sob esse pano de fundo, os preços do minério de ferro podem até ter continuado aos níveis mais baixos de preço em sete meses. Mas as ações da mineradora Vale reagiram com alta de 0,53%. Os preços do petróleo, esses sim, reagiram com força. Alta de mais de 5%% em Londres, a US$ 106. As ações ordinárias (ON, com direito a voto em assembleias) da Petrobras foram atrás, subindo 3,33%. Preferenciais (PN, com preferência por dividendos), 2,29%. Ações dos bancões, que também vinham sendo amassada pela perspectiva de recessão global, reagiram. Nenhuma mais que as do Itaú , com 1,33%. Esses 43% de Ibovespa ocupados por esses papéis foi fundamental para o resultado positivo do dia.
O que diz o Boletim Focus
Os cerca de 100 analistas consultados pelo Banco Central (BC) na pesquisa Focus, em sua maioria, puxaram para cima a aposta de crescimento do Brasil neste ano, de 1,59% para 1,75%, e reduziram a de inflação, de 7,67% para 7,54%. No entanto, para 2023, as projeções seguem ruins. Ficou mantida a aposta para o PIB, de avanço de 0,50%. Já para a inflação, a expectativa segue ampliando o descolamento em relação às metas do BC. Subiu de 5,09% para 5,20%, sendo o teto da meta de 4,25%.
É bom lembrar, 2022 pouco importa no frigir dos ovos ao mercado. É mirando 2023 que o rumo dos juros estão se desenhando. Por sinal, nos dados deste ano mora o perigo. Se haverá mais crescimento e menor inflação agora, será à custa de maior risco fiscal. O que, por sua vez, pode exigir ainda mais juros. E daí a paradeira prevista em meio à tentativa da Selic de domar o ritmo dos preços à altura mais civilizada.
“O Brasil não está nada preparado para o momento de estagflação que vai se desenhando na economia global para 2023”, disse o economista e consultor financeiro Alvaro Bandeira no programa Abrindo os Trabalhos, do Valor Investe.
“O que temos visto são medidas eleitoreiras do governo. Medidas de curto prazo, que vão durar segundo o governo até o fim do ano, mas com muita cara de muita coisa vai ter de ser prorrogada. Em especial, o Auxílio Brasil de R$ 600, que traz muita inconsistência para as contas públicas até 2024”, diz Bandeira. “As contas públicas estão melhorando um pouco, mas muito por causa de receitas extraordinárias e inflação ajudando a aumentar arrecadação de impostos. Mas é situação é muito problemática para 2023 em diante. O teto de gastos, já corrompido desde o ano passado, certamente terá de ser ampliado novamente para abrir espaço a investimentos públicos.”
Marcela Kawauti, economista-chefe da Prada Assessoria, também na live, lembrou que é indiscutível a necessidade de se remediar a fome com as novas transferências de renda arrancadas pelo governo com a PEC Kamikaze.
“O problema é a PEC acontecer no fim de um mandato, o governo decidir fazer algo só às vésperas da eleição. E não necessariamente o dinheiro vai para quem mais precisa, mas para setores específicos, como caminhoneiros e taxistas”, diz. “Não temos nenhum programa que de fato busque endereçar o problema da miséria. Temos medidas atabalhoadas a três meses da eleição, com objetivo claro de conseguir votos. Temos PIB maior neste ano, mas pior no ano que vem. Temos contas públicas piorando e, portanto, juros mais altos por mais tempo para controlar a alta do dólar e a inflação.”
Das 90 ações, 56 caíram
Das 90 ações do Ibovespa, 56 caíram nesta segunda. A carteira teórica mais famosa do Brasil girou R$ 14 bilhões.
Na curva de juros futuros, em linha com as taxas americanas e com as perspectivas de incerteza locais, alta de ponta a ponta:
- Prêmios em contratos de mais curto prazo estão mais ligados às expectativas de investidores para a Selic. Taxas de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 subiram de 13,88% a 13,92%;
- Já para janeiro de 2033, de 13,17% a 13,41%. Quão mais o longo prazo, maior a influência do cheiro de calote do governo (“risco fiscal”, se preferir).
O dólar à vista subiu 0,37%, a R$ 5,42. No mês, a alta parcial é de 3,67%. No ano, queda de 2,69%.
Por Gustavo Ferreira
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