Mercado opera em banho-maria na expectativa de votação da reforma tributária
Investidores devem manter agenda de realização de lucros dado ambiente externo de aversão ao risco
Há certa apreensão no mercado com o imbróglio em torno do texto final da reforma tributária e do projeto que retoma o voto de qualidade nas decisões do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). Na quarta-feira (5), o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), admitiu, em entrevista a GloboNews, que o marco fiscal está em terceiro lugar na agenda da casa. Lira disse também que a ideia é votar a reforma tributária no plenário da Câmara nesta quinta-feira.
Com isso, o investidor local opera nesta quinta-feira, como fez na quarta, em banho-maria – isto é, sem tomar grandes risco, buscando apenas ajustar a carteira, de olho na cena local e no mercado externo. No exterior, o ambiente é de aversão ao risco, após dados fracos de atividade na Europa e na China e ata do Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos) ter confirmado, na quarta (5), a percepção de que a autoridade monetária americana deve voltar a subir os juros na reunião de julho.
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Os dirigentes do Fed disseram ter permanecido extremamente atentos aos riscos de inflação que se manteve elevada. Reconheceram que a inflação diminuiu desde meados do ano passado, mas leituras recentes para o núcleo da inflação de preços do índice de gastos de consumo (PCE, na sigla em inglês) pouco mudaram. Além disso, o documento revelou que alguns dirigentes indicaram que eram a favor de aumentar a taxa de juros em 25 pontos base na última reunião.
“Olhando a ata, são mais duas altas de juros nos Estados Unidos. Pelas falas recentes de Powell, será só mais uma”, afirma a economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese, referindo-se ao presidente do Fed, Jerome Powell.
Na XP Investimentos, o economista Francisco Nobre afirma que a ata não alterou o quadro geral que aponta que o fim do ciclo de aperto se aproxima, “embora a política monetária deva permanecer restritiva por mais tempo em meio à inflação persistentemente alta e mercado de trabalho apertado”. “Uma nova alta de juros não mudará significativamente a trajetória da economia americana ou dos preços dos ativos”, comentou, em relatório.
Mercado ontem
Na contramão do sinal moderadamente negativo na retomada dos negócios em Wall Street, o Ibovespa chegou a acentuar ganhos ao longo da tarde de quarta e a retomar a marca dos 120 mil pontos, em região de resistência importante para que dê prosseguimento à recuperação que ganhou impulso em junho, com o avanço de 9% no mês – salto que pode favorecer pausa, para consolidação, nesta virada para julho.
Assim, o Ibovespa tem alternado perdas e ganhos a cada sessão desde o último dia 28, em que tocou a mínima recente, aos 116,6 mil pontos, concluindo então três recuos diários seguidos.
No fechamento desta quarta-feira, o índice de referência da B3 mostrou alta de 0,40%, aos 119.549,21 pontos, entre mínima de 118.688,39 e máxima de 120.199,87, saindo da abertura aos 119.072,03 pontos. Moderado, o giro financeiro ficou em R$ 23,3 bilhões na sessão. Nesta primeira semana de julho, o Ibovespa ganha 1,24%, colocando a 8,94% a alta acumulada no ano.
Petrobras: política de remuneração aos acionistas
A Petrobras informou na quarta-feira que o conselho de administração, em reunião realizada em 11 de maio, determinou que a diretoria executiva elaborasse uma proposta de aperfeiçoamento da política de remuneração aos acionistas, incluindo a possibilidade de recompra de ações. E ressaltou que os estudos para o aperfeiçoamento da política de remuneração continuam em andamento, sem ainda qualquer decisão da diretoria executiva ou deliberação do conselho. “Dessa forma, a Companhia entende que as informações relevantes foram devidamente divulgadas ao mercado, não havendo fato novo a ser reportado”, afirma a estatal.
Bolsas NY
As bolsas de Nova York fecharam em baixa, com o apetite por risco reduzido após ata da reunião de junho do Fed e índices de gerentes de compras (PMIs, na sigla em inglês) da Europa e da Ásia sugerirem desaceleração do setor de serviços.
O índice Dow Jones fechou em queda de 0,38%; o S&P 500 recuou 0,20%; e o Nasdaq perdeu 0,18%, a 13.791,65. Sete dos 11 setores do S&P 500 fecharam em queda na quarta-feira. Tecnologia foi o terceiro com o pior desempenho (-0,56%), atrás apenas de materiais e industriais.
Em destaque, a Meta (dona do Facebook) subiu 2,92%, na expectativa pelo lançamento de uma nova rede social para competir com o Twitter, que o mercado especula que pode ocorrer nesta quinta-feira (6).
Dólar
Na quarta, a moeda operou em alta ao longo da sessão e chegou a ultrapassar R$ 4,87 na máxima (R$ 4,8706). No fim do dia, o dólar subia 0,20%, cotado a R$ 4,8503 – maior valor de fechamento desde 13 de junho (R$ 4,8624). No acumulado das três últimas sessões, até quarta (5), o dólar à vista subiu 1,27%.
Passada a euforia com revisão da perspectiva do rating do Brasil pela S&P Global e a decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) de manter a meta de inflação em 3% para 2024, 2025 e 2026, investidores adotaram postura mais defensiva de olho no quadro político.
Juros: Taxas sobem alinhadas à curva dos EUA
Os juro futuros fecharam em alta, estimulados pelo exterior enquanto o mercado aguardava o desenrolar das pautas econômicas na Câmara. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou na máxima de 12,82%, de 12,783% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 avançou de 10,70% para 10,78%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 10,23%, de 10,07%, e o DI para janeiro de 2029, com taxa de 10,59%, de 10,42%.
De acordo com Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos, o mercado de DI no Brasil acompanhou a reação dos ativos lá fora, “até porque não tivemos nada de concreto por aqui”. “A curva tem ainda espaço para alguma correção, mas segue precificando expectativa de corte expressivo da Selic”, disse.
Com informações do Estadão Conteúdo