Investidor quer saber impacto do seu dinheiro, diz CEO da Vox Capital

Para Daniel Izzo, novas gerações aproximam mundo real e financeiro

A pandemia fez o investidor do mercado brasileiro olhar mais atentamente para investimentos de impacto – aqueles que, de saída, definem que o retorno financeiro deve estar atrelado a um efeito positivo na sociedade ou no meio ambiente. “Houve uma aceleração da consciência na pandemia, que essa crise de agora com a guerra da Ucrânia também acaba levantando”, avalia Daniel Izzo, sócio e CEO da gestora especializada Vox Capital. Izzo participou ontem da “Live do Valor”.

Ele cita os dois acontecimentos recentes como geradores de desigualdade social, que provocam ondas de doações e apoio. Do ponto de vista dos investimentos financeiros, a volatilidade que geram faz investidores buscarem opções tradicionais no curto prazo, mas abrem espaço para outro tipo de demanda de médio e longo e prazo, oriunda dessas reflexões mais filosóficas. “Os consumidores estão cada vez mais ativistas, querendo saber se seus hábitos são parte do problema ou da solução; os talentos deixam companhias que passam por algum escândalo ou que tenham efeito negativo na sociedade, buscando também propósito; e há cada vez mais fundos que exigem essa filosofia”, afirma.

Isso vem também das mudanças a cada geração. “As gerações anteriores dissociavam o mundo financeiro do mundo real. Hoje, se a Amazônia está pegando fogo ou há uma crise sanitária, as pessoas querem saber se o dinheiro delas está contribuindo problema ou sendo parte da solução”, avalia. “Temos uma crença forte na Vox de que todo dinheiro deveria saber o impacto que causa.”

Já é possível ver nos números desse mercado esse maior interesse citado por Izzo. Em 2019, o censo sobre esses investimentos no Brasil apontava para um volume de R$ 300 milhões sob gestão, cita. No mais recente, divulgado este ano, passamos de R$ 3 bilhões no mercado nacional. No mundo, onde a discussão já estava mais acelerada, o volume era de US$ 40 bilhões em 2014 e, em 2020, passou de US$ 1 trilhão.

São números relativamente modestos ainda no mercado nacional quando comparados à avalanche de recursos que tem sido destinada ao tema ESG. Mas impacto e ESG não tratam da mesma coisa? “Não são iguais mas são complementares. O impacto olha ‘o que’ e o ESG olha o ‘como’”, explica Izzo. “Dá para ser uma empresa ótima em ESG, que segue padrões de governança, que se preocupa com a diversidade da equipe, em fazer melhor ambientalmente, cujo produto não faz tão bem para o mundo.”

No investimento de impacto, a intenção precede a produção. O nome surgiu em 2010, num relatório do J.P.Morgan que definia investimento de impacto como uma nova classe de ativos. A expansão nos anos seguintes fez mais gestores definirem como uma filosofia que pode ser aplicada às outras classes de ativos – um fundo de crédito de impacto, por exemplo.

Izzo garante que não é necessário abrir mão de retorno para investir com impacto: o segundo fundo da Vox deu retorno anual de 74%. A casa já investiu, por exemplo, na Magnamed, fabricante dos respiradores do SUS, e na Celcoin, fintech de correspondentes bancários que visa facilitar pagamentos de boletos em áreas pouco bancarizadas.

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