IPCA acumulado acima de 5% mantém Copom na rota de subir a Selic; mercado discute quando vai ser a hora de parar
A inflação medida pelo IPCA de fevereiro a 5,06% é a maior em 12 meses desde setembro de 2023, quando bateu 5,19%. Desde lá, o índice esteve abaixo de 5%. Com isso, a esperança de uma sinalização do Banco Central (BC), no sentido de baixar a taxa básica de juros (Selic) no curto prazo, fica mais distante.
A taxa de juros está atualmente em 13,25% e o mercado continua prevendo uma nova elevação de 1 ponto percentual, para 14,25%, na reunião deste mês do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), que acontece nos dias 18 e 19 de março.
Para a economista-chefe do Inter, Rafaela Vitoria, o IPCA de fevereiro, o maior para o mês desde 2003, “pode mudar os passos seguintes” do Banco Central.
Por enquanto, a avaliação da economista é que o Copom deve deixar em aberto a sinalização para a taxa de juros na reunião de maio.
Ela diz que o cenário predominante ainda é de uma alta menor dos juros em maio, algo como 50 pontos-base, mas com “incerteza maior no cenário”.
Nesse sentido, Vitoria alerta que o patamar de juros já está “bastante elevado”, o que desencoraja altas acima do esperado para combater a inflação.
Preocupação com possível tom leniente do Copom
Para Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa, há grande expectativa com relação ao tom do comunicado do Copom na semana que vem.
“Se afrouxar a comunicação, o mercado pode intensificar a interpretação de leniência”, diz o economista.
“Por ora, acreditamos que o BC deverá reforçar o compromisso com o regime de metas de inflação”, acrescenta.
Nesse cenário, está praticamente descartada alguma pausa na alta dos juros no curto prazo. A interpretação é do economista André Perfeito.
O mercado enxergava a possibilidade de uma queda para o segundo semestre sinalizada nas próximas reuniões. Agora, o cenário parece mais turvo.
“Dificilmente a autoridade monetária terá espaço para sinalizar um fim de ciclo de alta de juros nas próximas reuniões “, avalia Perfeito.
Inflação acelerando
Para Igor Cadilhac, economista do PicPay, houve um certo alívio nos núcleos, mas insuficiente para dar um tom positivo aos dados. “O resultado foi preocupante, embora dentro do esperado”.
Para o economista, a taxa de 5,06% da inflação registradas nos últimos 12 meses deve piorar ao longo do ano. O Focus projeta o IPCA a 5,68% no fim de 2025.
“Seguimos vendo uma assimetria no balanço de riscos”, afirma Cadilhac.
Alívio sobre grupos importantes pode dar alguma esperança
A inflação em alta é um ponto de atenção para o governo, que está refletida na queda de popularidade de Lula.
Apesar de mais esse salto dos preços, há alguns alentos. Para o economista da Quantitas João Fernandes, “tudo considerado, nada salta aos olhos para pior”. Ou seja, as notícias ruins já estavam no horizonte.
Por outro lado, “a leitura de industriais veio melhor que o esperado, com baixas disseminadas entre categorias”, diz o economista.
Além disso, na parte de serviços, chamou atenção a alta menor que o esperado da alimentação fora do domicílio.
Assim, “os grupos caros para a condução da política monetária estão menos pressionados pontualmente“, diz Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital.
Além disso, “uma série de divulgações expressam o arrefecimento da atividade”, acrescenta.
Entre os vários indicadores que podem dar alguma esperança, destaque para o PIB, divulgado na semana passada, que veio forte, mas com desaceleração notável no último trimestre de 2024, mostrando um arrefecimento da atividade econômica que deve se estender pelo início de 2025.
Com informações do Valor Econômico
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