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IPCA chega a menor nível desde junho de 2023; mercado vê ‘surpresa positiva’ para cortes de juros
A inflação em março chegou ao menor patamar desde junho de 2023, considerando tanto a variação mensal quanto na média acumulada em 12 meses. O IPCA do mês registrou alta de 0,16% ante 0,83% em fevereiro, ou seja, uma desaceleração dos preços praticados na Economia brasileira.
O mercado financeiro viu o indicador como uma “surpresa positiva” e que pode dar ao Banco Central uma margem maior para realizar mais de um corte de 0,50 ponto percentual na taxa juros básica, a Selic.
Na outra ponta, agentes se preocupam com a inflação do núcleo de serviços subjacentes, usado como justificativa pelo BC para limitar o foward guidance de cortes na Selic na última reunião do Copom (Comitê de de Política Monetária) em março. No entanto, é esperado que esse núcleo acelere ao longo do ano e dificulte previsões da autoridade monetária.
Inflação de alimentos é surpresa positiva do IPCA de março
A inflação caiu pelo sexto mês seguido com a divulgação do IPCA de março. Em 12 meses, o principal índice de preços ao consumidor da economia chega a 3,93%, enquanto a expectativa do mercado era de uma média anualizada de 4,50%.
O consenso do mercado para a inflação do mês passado era de 0,25%, ante a variação de 0,16% divulgada pelo IBGE nesta quarta-feira (10).
A surpresa mais positiva e que contribuiu para a inflação baixa se concentrou no grupo de alimentação a domicílio. O núcleo, um dos principais no orçamento das famílias de baixa renda, desacelerou de 1,12% em fevereiro para 0,59% em março.
Foi a principal “surpresa de viés baixista”, diz Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos.
“Em alimentação, o destaque ficou com o recuo de inflação acima do esperado para itens como arroz e leite”, afirma. Especialistas apontam que o fim do fenômeno climático El Niño contribuiu para que hortifruti, grãos e outros insumos alimentares subissem no IPCA de março.
Além disso, houve surpresa positiva para Comunicação e Transportes, diz Andréa. O núcleo de Transportes inverteu o sinal e mostrou uma deflação de 0,33% em comparação com uma inflação de 0,72%. “Os preços de automóveis usados e conserto vieram mais fracos”, destaca a especialista.
O núcleo de Comunicação também passou a gerar deflação para o IPCA de março, indo de um avanço de 1,56% para uma deflação de 0,13%.
O economista Julio Hegedus explica que o preço das passagens aéreas surpreendeu positivamente entre fevereiro e março. O custo dos combustíveis, por sua vez, saiu de uma inflação de 2,93% registrada em fevereiro para 0,21% em março.
Alerta para inflação de serviços subjacentes continua aceso
O núcleo de serviços subjacentes era o mais aguardado por economistas em março. Fontes ouvidas pela Inteligência Financeira ressaltaram a importância dos preços praticados neste núcleo como crucial para o futuro da política monetária em 2024.
O núcleo de serviços subjacentes registrou inflação de 0,45% no IPCA de março. Em fevereiro, o núcleo teve variação de 0,46%.
A inflação dos serviços subjacentes veio dentro do esperado pelo mercado, afirma Laiz Carvalho, economista do BNP Paribas. Ela explica que há “uma certa estabilidade” para preços de serviços menos voláteis no momento.
E isso é uma boa notícia, de acordo com Laiz. “O mais importante é, no momento, o núcleo dos serviços subjacentes. Devemos continuar com uma certa estabilidade dentro desses serviços, entre 0,40% a 0,45%”, diz.
Mas Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo, explica que a dinâmica de serviços subjacentes foi “negativa”. Na leitura do economista pressões em preços de aluguéis, restaurantes e serviços de trabalho intensivo, que fazem parte do núcleo, “reforçam a avaliação do BC que o mercado de trabalho segue aquecido e pressionam a inflação”.
A Warren estima que a inflação de serviços deve voltar a subir em maio, “deixando risco de encerrar em 6%” até o final deste ano.
IPCA de março aumenta chance de um corte de 0,50 p.p. na Selic?
Na avaliação de alguns dos economistas ouvidos pela reportagem, a surpresa positiva nos núcleos do IPCA de março aumenta a chance de que o Banco Central realize mais de um corte de 0,50 ponto percentual na Selic até julho.
Assim, desde que a inflação permanece mais amena que o esperado, o IPCA “continua a corroborar com o ciclo de corte de juros”, afirma Cristian Pelizza, economista-chefe da Nippur Finance. “O IPCA positivo reforça o corte de juros de 0,50 ponto percentual na Selic na reunião do Copom para maio”.
Já Leonardo Costa, economista da ASA Investments, vai além: “Acho que fortalece a aposta de um corte de 50 pontos-base em maio e aumenta a probabilidade de um corte da mesma magnitude em junho.”
Hegedus faz coro aos especialistas e explica que, pela “dinâmica mais positiva do IPCA de março”, é difícil o BC não manter a magnitude de cortes de 50 bps pelo menos até junho. A partir daí, o BC deve desacelerar o ritmo para baixar a Selic em 25 bps até a taxa terminal do Boletim Focus de 9% ao ano, reafirma o economista.
Mas Laiz Carvalho, do BNP Paribas, discorda. A especialista pontua que a inflação positiva não trouxe mudanças significativas ao cenário de corte de juros. Nesse sentido, o indicador “não muda o cenário do BC, olhando mercado de trabalho subjacente. Prevemos um corte de 0,50 p.p. na Selic agora em maio e 0,25 p.p a partir de junho”, conforme a explicação da economista.
O BNP Paribas mantém uma previsão de 9% para a Selic até o final de 2024.
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