Marca Daslu é leiloada por R$ 10,5 milhões

Por décadas, a Daslu foi sinônimo de luxo no Brasil, mas a varejista de roupas acabou trocando os editoriais de moda pelas páginas policiais

Loja da Daslu, que ocupava um espaço de 20 mil metros quadrados, no bairro Vila Olímpia, em São Paulo — Foto: Wikipédia
Loja da Daslu, que ocupava um espaço de 20 mil metros quadrados, no bairro Vila Olímpia, em São Paulo — Foto: Wikipédia

A marca Daslu, sinônimo de luxo no país até entrar em dificuldades financeiras, foi leiloada nesta terça-feira por R$ 10,5 milhões, considerando também os 5% de comissão ao leiloeiro responsável, a empresa Sodré Santoro. O valor mínimo era de R$ 1,41 milhão e foi disputado por 32 lances no certame. O recurso vai para a massa falida da empresa. O processo foi encerrado e cabe agora ao comprador contactar a justiça e proceder com o pagamento. Ainda não há informações sobre o grupo vencedor no certame. Esta foi a segunda tentativa de vender a marca.

Por décadas, a Daslu foi sinônimo de luxo no Brasil, mas a varejista de roupas acabou trocando os editoriais de moda pelas páginas policiais. A marca que foi epicentro de um escândalo de sonegação de impostos — e nunca voltou a ser o frisson que era.

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A história da Daslu começa no fim dos anos 1950 com as socialites Lucia Piva Albuquerque e Lourdes Aranha. Elas passavam as tardes com as amigas da alta sociedade conversando e tomando café em uma casa da Vila Nova Conceição, enquanto apreciavam as coleções mais exclusivas de marcas nacionais. Desses encontros surgiu a loja que se tornou referência no mercado de luxo.

Foi somente em 1990 que a Daslu passou a comercializar marcas estrangeiras, já sob a gestão de Eliana Piva de Albuquerque Tranchesi, que ficou à frente dos negócios após o falecimento de Lucia, sua mãe, na década de 1980. Tranchesi trazia para o país criações exclusivas de Paris e Milão, os polos da moda na Europa. No auge, a marca chegou a movimentar R$ 400 milhões por ano, segundo informações do blog Etiqueta Única.

Tranchesi também foi a responsável por criar a marca própria da Daslu, que contava com roupas, acessórios e sapatos, e por ampliar o leque de produtos vendidos no multimarcas: com cosméticos, lanchas e até helicópteros. Foi ela também que transformou a varejista em um suntuoso templo do luxo, em uma loja de 20 mil metros quadrados no bairro Vila Olímpia, em São Paulo. Na época, a obra custou R$ 100 milhões.

A reviravolta dessa história de luxo e poder aconteceu em 2005, quando a Polícia Federal, em parceria com a Receita Federal e o Ministério Público, deflagrou uma operação para apurar crimes de sonegação de impostos cometidos pelos proprietários da Daslu.

Tranchesi e seu irmão Antônio Carlos Piva, na época diretor financeiro da loja, foram detidos. Eles foram condenados a uma pena de 94 anos pelos crimes de formação de quadrilha, fraude em importações e falsificação de documentos. Ficou provado que por muito tempo os sócios subfaturaram notas fiscais dos produtos vendidos.

Apesar da sentença, a empresária deixou a penitenciária um dia depois de ser presa, pois fazia tratamento quimioterápico contra câncer. Ela faleceu em 2012 da doença.

Com o escândalo, a companhia entrou em recuperação judicial, com dívidas de R$ 80 milhões em 2010. No ano seguinte, a marca acabou sendo vendida por cerca de R$ 65 milhões para o investidor Marcus Elias, do fundo Laep Investments, que também foi dono da Parmalat no país.

A butique ainda atendeu os clientes até 2016 no Shopping JK Iguatemi, quando o Tribunal de Justiça de São Paulo determinou o despejo da loja, devido a uma dívida de R$ 3 milhões em alugueis. Na época, o jornal Estado de S.Paulo chegou a noticiar que a empresa também estaria enfrentando dificuldades para pagar salários de funcionários e teria dívida superior a R$ 100 milhões.

No mesmo ano, o empresário Crezo Suerdieck, dono do DX Group, especialista na aquisição de ativos em dificuldades, tentou assumir a gestão da empresa com um aumento de capital de R$ 11 milhões. Mas a Justiça cancelou a operação.

No mais recente capítulo dessa história de império em ruínas, Antônio Carlos Piva de Albuquerque foi preso pela Polícia Militar, em São Paulo, na última segunda-feira (30 de maio), condenado a 7 anos e 8 meses de prisão, em regime fechado, por crimes contra a ordem tributária.

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