Passou do ponto: Minerva (BEEF3) sofre queda de 17%. É exagero ou hora de vender?
Após acordo histórico de compra de 16 plantas da Marfrig, a ação de Minerva (BEEF3) cai quase 18% na bolsa; analistas veem oportunidade
Desde o anúncio de aquisição histórica envolvendo a Minerva e a Marfrig Global Foods, as ações dos dois frigoríficos tiveram trajetórias opostas no Ibovespa. O papel da Minerva (BEEF3), que fechou um acordo com a concorrente para comprar 16 plantas de abate e distribuição de proteína, caiu 17,59%. Por outro lado, o ativo ON de Marfrig (MRFG3) surfou uma alta de mais de 8% com a aquisição. Afinal, está na hora de se desfazer de BEEF3 na carteira?
Não tão rápido. Para analistas do mercado financeiro, a reação da própria Faria Lima com a aquisição “passou do ponto”. Ou seja, no longo prazo, a Minerva tende a ganhar superioridade no mercado de exportação e se valorizar. Mas há cautela com três fatores: o boi, a dívida e os dividendos.
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Minerva fecha negócio histórico com Marfrig
Na última segunda-feira (28), o mercado financeiro foi surpreendido quando a Minerva anunciou a aquisição de 16 plantas da Marfrig na América Latina.
No total, a Minerva comprou 11 unidades no Brasil, uma na Argentina, uma no Chile e três plantas no Uruguai. A operação envolveu o pagamento de R$ 7,5 bilhões, sendo R$ 1,5 bi à vista e mais R$ 6 bi ao final da data de fechamento do negócio. A companhia deve utilizar uma linha de financiamento assegurada pelo J.P. Morgan para quitar o saldo.
Além disso, o acordo com a Marfrig também expande o abate de ovinos da Minerva. A empresa deve aumentar os abates desses animais em mais de 20 mil por dia, em plantas do Chile e da Austrália.
Como isso afeta Minerva (BEEF3)?
Segundo o diretor financeiro da Minerva, Edson Ticle, a aquisição “é quase a totalidade das operações de abate da Marfrig”. Em conferência, o executivo ressaltou que a participação da Minerva na exportação bovina “pode crescer de 20% para 35%” com a conclusão da compra.
O CFO, com base em “estimativas dos ativos” adquiridos, afirma que o negócio pode gerar uma receita líquida de R$ 17 bi a R$ 18 bi. O incremento no Ebitda (Lucro antes de Juros, Impostos, depreciação e Amortizações) deve girar em torno de 8%.
Na visão do Itaú BBA, o movimento “consolida a Minerva como líder em exportação de carne bovina na América do Sul”. Para o banco de investimento, o frigorífico dobra sua aposta em “crescimento de longo prazo não-orgânico”.
“Acreditamos que a aquisição é um ‘ganha-ganha’ para ambas as companhias, que se aproximam de seus guidances de longo termo”, escreve o Itaú BBA em relatório.
Mas se a aquisição é um “ganha-ganha”, por que as ações de Marfrig subiram e as da Minerva desceram?
Mercado se preocupa no curto prazo
A explicação para a queda de Minerva (BEEF3), após o acordo, é dada pelo Santander. Em relatório, analistas frisam que “a interpretação do mercado pode ser mista”. O motivo é o olhar de curto prazo.
“Mesmo com o racional fundamentalista positivo para ambas as companhias, esperamos que o mercado perceba a venda como positiva para a Marfrig e negativa para Minerva.”
Para a Marfrig, a operação é uma saída para diminuir a alavancagem com a compra de 33% das ações da BRF, da qual passou a ser controladora.
Conforme Nicolas Farto, sócio da Vértiq Investimentos, o mercado “deve acompanhar a sinergia de Minerva com os ativos recém-adquiridos nos próximos meses”. “É importante enfatizar que a Minerva ultrapassa a JBS na exportação de bovinos com a aquisição”.
No entanto, a queda de Minerva é vista como exagerada por analistas do mercado financeiro ouvidos por nós da Inteligência Financeira. Especialistas acreditam que esse reajuste negativo não considera o histórico positivo do frigorífico com M&As.
Victor Bueno, analista da Nord Research, destaca que a empresa tem um histórico de mais de 16 aquisições de plantas de abate e distribuição de proteína desde 2016. “Ela tem um histórico muito positivo de incorporação dessas plantas”, completa
Quando avalia a estratégia de crescimento de Minerva, Bueno explica que a companhia se apoia em diversificação geográfica para gerar receitas.
“A compra dessas unidades de abate de Marfrig no Brasil, Chile, Uruguai e Argentina vão trazer ainda mais valor para essa tese da de resiliência que a empresa possui”, comenta Bueno. Conforme sua análise, o mercado comprou a narrativa de que a aquisição é “muito melhor para a Marfrig”, quando na verdade a Minerva é a grande vencedora.
Queda de dividendos
Mas se por um lado a empresa deve colher frutos no longo prazo, por outro os dividendos devem secar. A alavancagem também deve subir. E o mercado considera isso na leitura de curto prazo.
“Nas análises de vendedores da ação, vemos uma preocupação com a empresa não ser mais uma boa pagadora de dividendos”, explica Bueno. No último trimestre, a companhia distribuiu R$ 114 milhões em dividendos. O yield da empresa em 12 meses é de 6,57%.
“Basicamente, a Minerva tem uma política de dividendos muito ligada à sua dívida. Por ter uma alavancagem equivalente a duas vezes e meia o Ebitda, ela costuma pagar pelo menos 50% do lucro líquido aos acionistas. É uma tese na qual muitos investidores confiam.”
A Nord observa que a dívida deve aumentar e engolir a margem de dividendos, no curto prazo.
É hora de comprar ou vender Minerva ON (BEEF3)?
Devido a queda, analistas ouvidos por nós recomendam a compra das ações da Minerva (BEEF3).
Mesmo antes do M&A, a Minerva tem histórico positivos em resultados trimestrais dentro do setor de frigoríficos, destaca Flávio Conde, analista da Levante Investimento. Inclusive em comparação com as rivais JBS (JBSS3) e Marfrig (MRFG3).
O especialista vê a aquisição das plantas de abate como uma oportunidade para entrar no papel. Para ele, a empresa deve se beneficiar de perspectiva de crescimento de exportações de gado para a China no segundo semestre.
“A aquisição foi uma oportunidade única para Minerva crescer na capacidade de abates. Nestes últimos 12 meses, a situação piorou no mercado bovino e suíno nos Estados Unidos, onde Marfrig e JBS atuam, e melhorou na China, para onde a Minerva destina 40% de sua produção.”
Em comparação, Conde acredita que “se tivesse Marfrig (MRFG3) na carteira, venderia para comprar Minerva (BEEF3)”.
A Nord Research também recomenda a compra de Minerva. Mesmo com aumento de dívida no curto prazo, a casa de análises vê um processo de desalavancagem no longo prazo a partir de 2024, quando a sinergia com as novas plantas estiver completa. Os dividendos podem voltar ao patamar de 50% do lucro líquido do frigorífico.
Nicolas Farto, da Vertiq, afirma que a Minerva deve permanecer uma boa pagadora de dividendos.
Além de dividendos e dívida, boi traz risco para empresa
Por fim, o terceiro risco para as ações da Minerva na bolsa é o próprio ciclo do boi no Brasil. Isso porque o mercado teme que a tese de valorização do gado para abate nos próximos meses caia, o que faz peso sobre as ações e também explica parte da queda nos papéis.
“Um ponto de atenção é que estamos no meio do ciclo do gado. A empresa pode se colocar em situação preocupante porque uma queda em produção deverá resultar na piora do Ebitda daqui para frente”, destaca Guilherme Lavega, sócio da Arkad Invest. Ou seja, há uma janela para a Minerva fazer valer a aquisição.
“Se o mercado piorar e o Ebitda cair 50%, a alavancagem pode subir para quase cinco vezes”, calcula. Ele prevê uma piora no preço do boi a partir de 2026.
O Itaú BBA analisa que o movimento é uma aposta de alta no ciclo do boi. “Se o Ebitda de Minerva crescer como esperado, vemos a transição gerando valor de um múltiplo de cinco vezes o EV/Ebitda”, dizem analistas do banco.