Agora é momento de ser agressivo, diz fundo de gestora do Vale do Silício

Boas startups sempre terão capital disponível, mesmo em cenários de turbulência, afirma fundador da Riverwood

O argentino Francisco Alvarez-Demalde fundou a gestora Riverwood Capital em Melon Park, no Vale do Silício (Califórnia), em 2008, após sair da KKR, onde já atuava no segmento de “growth” – empresas com modelo já comprovado e que começam a ganhar escala. Mesmo localizado no centro do furacão recente surgido ali com a quebra do Silicon Valley Bank, ele diz que boas startups sempre terão capital disponível e que o momento é de ser agressivo nos negócios. Com foco nos EUA e América Latina, a gestora administra US$ 5,9 bilhões em ativos, já teve entre suas investidas nomes como 99, Globant, Netshoes e Technisys, e seu portfólio atual inclui Dock, Petlove, QuintoAndar e VTEX, entre outras.

Demalde esteve no Brasil na semana passada, poucos dias após a eclosão do caso SVB. Ele admite que algumas de suas investidas tinham dinheiro no banco, mas que os valores eram muito pequenos, e prefere não entrar em detalhes sobre os saques. Para ele, a turbulência entre os bancos regionais nos EUA, o “inverno” cripto e a extinção de unicórnios (startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão) são todos reflexos do movimento de alta de juros pelo Federal Reserve e outros bancos centrais desenvolvidos. Ele não acredita que a economia americana viva o início de uma crise bancária, mas reconhece que nem todos os efeitos do aperto monetário já foram sentidos.

“No caso do SVB eu não estava preocupado com as minhas companhias, mas com as possíveis ramificações entre clientes, fornecedores, toda a cadeia. Se uma parte grande do mercado financeiro congela, isso gera um efeito cascata. As autoridades americanas foram rápidas e tomaram ações decisivas para tentar minimizar o contágio. Elas aprenderam a lição com a crise de 2008”, afirma. Ele aponta que, ao longo de seus 15 anos, a Riverwood já investiu em 28 companhias da América Latina, que têm uma média de expansão anual de 15% na receita, mesmo em meio a sucessivas crises no mundo e na região. “Os empreendedores da América Latina são especialistas em volatilidade, somos construídos para isso, para lidar com uma necessidade de execução intensa, ter resiliência.”

Nesse sentido, ele acredita que o momento é ótimo para investir, com muitas oportunidades surgindo. Os “valuations” estão mais racionais, está mais fácil contratar talentos e, sem a distração de levantar capital a todo momento, os empreendedores podem focar no negócio, em melhorar a eficiência. “Quem oferece um bom serviço vai se dar bem. Mas é claro que negócios extremamente arriscados, que levariam muito tempo para se provar, vão ter dificuldade de encontrar capital.”

Ele afirma ainda que o momento é propício para uma onda de fusões e aquisições (M&A), que deve começar a ganhar tração. “Eu falo para os empreendedores que esse é o melhor momento para fazer aquisições, consolidar o negócio, testar novos produtos. É a hora de ser agressivo”, diz. Ainda assim, pondera que muitas empresas terão de tirar o pé do acelerador, priorizando um pouco mais a rentabilização em detrimento do crescimento.

Demalde reconhece que, para as gestoras, desde o ano passado está mais difícil sair de um investimento, seja via oferta inicial (IPO) ou vendas privadas, mas alega que isso faz parte do ciclo. “Alguns anos atrás, quando havia um excesso de liquidez, fizemos muitas saídas. É claro que em 2022 e 2023 teremos menos saídas. Agora que o mercado de IPO fechou, fica mais difícil monetizar, mas no fim do dia, olhando os ciclos como um todo, as oportunidades valem a pena. As boas companhias sempre terão bons compradores.” Para comprovar o argumento, ele cita a venda da Technisys para a SoFi, no ano passado, por US$ 1,1 bilhão, mesmo em meio à volatilidade do mercado.

Por Álvaro Campos

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