Como Antonio Carlos Pipponzi vê o futuro da Raia Drogasil após troca de CEO

Saiba o que está por trás da maior mudança em cargos em mais de uma década na rede de farmácias

Com mudanças no alto escalão, a RD (Raia Drogasil) quer avançar na estratégia de ser uma varejista de farmácias com foco em serviços e orientada para melhorar a saúde e o bem-estar das pessoas. Foto: Divulgação
Com mudanças no alto escalão, a RD (Raia Drogasil) quer avançar na estratégia de ser uma varejista de farmácias com foco em serviços e orientada para melhorar a saúde e o bem-estar das pessoas. Foto: Divulgação

Quando Arturo Pipponzi, o homem que ajudou a construir a rede de farmácias Raia, estava hospitalizado, em 2004, dias antes de falecer, o filho Antonio Carlos Pipponzi ia visitá-lo e aproveitava para levar os formulários contínuos de vendas diárias das lojas da família.

“Ele já havia passado a empresa para o nosso nome, mas ali, mesmo na cama de hospital, ainda queria ver a vendas das lojas dia a dia”, diz Antonio Carlos, atual presidente do conselho de administração da RD (Raia Drogasil), em entrevista sobre as mudanças anunciadas nesta terça-feira (6), no alto escalão pelo grupo.

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Pipponzi traz o assunto do pai para reforçar o ponto da necessidade de executivos e controladores mudarem seus papéis dentro do grupo, se quiserem realmente tornar a companhia perene. Em 1966, aos 21 anos, o pai de Pipponzi comprou a Droga Raia, fundada pelo sogro, João Baptista Raia, em 1905. Quarenta e cinco anos depois, Raia e Drogasil se uniram, formando a maior varejista de farmácias do país.

Por dentro das mudanças na RADL3

Na manhã de terça-feira, a RD (Raia Drogasil) anunciou a saída, a partir 1º de janeiro de 2025, de Marcílio Pousada do cargo de CEO, e a sua migração para a presidência do conselho de administração, cadeira hoje de Pipponzi, que passa a ser membro dos controladores no “board”.

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Seria um anúncio planejado para o fim do dia, apurou o Valor, mas uma volatilidade recente das ações da rede teria acelerado o processo.

Renato Raduan, até então vice-presidente de operações, se tornará CEO. E como chefe da área de operações (COO) entra o atual vice-presidente comercial e de marketing, Marcello De Zagottis, sobrinho de Pipponzi. Marcello De Zaggotis responderá a Raduan.

É a maior reorganização de cargos do grupo desde a entrada de Pousada na empresa como CEO, há mais de uma década, em 2013, e a intenção, nos próximos dez anos, é fortalecer essa consolidação e aprimorar a sua força como uma rede digitalizada voltada para a saúde e o bem-estar.

O novo papel Pipponzi na RD

“Quando mudei de CEO para ‘chairman’ [presidente do conselho] foi uma mudança profunda, porque sentia que tinham tirado algo de mim. Aí fui percebendo que o caminho era contribuir de outro jeito, e isso é eterno. É algo que existe desde 1905, quando o sogro do meu pai tinha uma lojinha em Araraquara e limpava os vidrinhos de medicamento. Isso é servir, é atendimento, e isso é do DNA e continua”, diz Pipponzi.

“Minha função agora é dar esse espaço ao Marcílio, continuar a apoiar no conselho no sentido estratégico e na expansão na busca de lojas, que é minha paixão. E ‘puxar’ sem interferir, para perenizar a cultura, e aquilo que são as nossas bases, nossas forças”, diz Pipponzi, aos 72 anos.

É a primeira vez que a empresa terá um presidente do conselho fora da família de controladores, já que Pipponzi ocupava essa função desde a fusão das redes. A intenção, com as trocas de cargos, é ir abrindo espaço na estrutura e ir oxigenando a empresa, para que executivos da família e diretores possam ir subindo dentro da hierarquia.

Para o mercado, a presença da família na condução da empresa sempre foi bem vista, pelos números que a RD entregava, e pelos raros solavancos que a companhia enfrentou após a fusão.

Sobre isso, Pipponzi diz que continuará fazendo o que faz, diz até que sua dificuldade “é ser menos intenso no trabalho”, mas sinaliza que pode diminuir o ritmo.

“Hoje, eu acordo e já vou ver desempenho de venda, não consigo não olhar, então metade de meu tempo é no trabalho, e acho que agora, vai ficar menos da metade, porque tenho filhos, sobrinhos na empresa e minha outra atuação com mentorias e nos institutos”.

Pipponzi diz que Pousada entra no “board”, em parte, para ajudar numa “governança menos demandante”.

“Nossa governança é pesada, e demanda muito, o que consome tempo das pessoas, e ele vai ajudar a gente nisso, a fazer com que a gente não fique discutindo balanço, ou outras coisas, mas com que a gente se planeje estrategicamente, e gaste menos tempo no que não é foco”. As famílias Galvão, Pires Oliveira Dias e Pipponzi, sócios controladoras da RD, têm cerca de 25% do capital da empresa.

Renato Raduan e Marcelo De Zagottis

Foi uma reorganização que começou a tomar corpo cerca de cinco a seis anos atrás, quando a RD passou a fortalecer mais os níveis um e dois, de vice-presidências e diretoria, como forma de abrir espaço para que se pensasse em sucessão de cargos. E para que isso pudesse gerar uma transição mais “soft” agora.

Consultorias foram contratadas na época e o trabalho passou a ser montar um programa de “assessment” a partir de 2018, elaborado para apontar tendências de comportamento e desempenho dos potenciais candidatos ao novo ciclo, anunciado na manhã de hoje.

Na prática, era preciso identificar quem tinha força para liderar a empresa e fazendo o quê exatamente. A partir daí, surgiram os nomes de Renato Raduan, executivo da casa, chefe de operações, na rede desde 2013, e de Marcelo De Zagottis, da família de controladores da Raia.

De Zagottis é mais estratégico e Raduan tem perfil de gestor, algo que cabe dentro do papel de CEO que a empresa precisa neste momento, numa continuidade do que Pousada tem feito.

Em linhas gerais, a partir das próximas semanas, é hora de acomodar eventuais ruídos daqueles que não foram promovidos, algo que sempre surge em mudanças desse peso, e consolidar essa fase com possíveis novas mudanças internas, no nível dois, de diretoria.

São 53 executivos que lideram a empresa abaixo da presidência, e que também são acionistas da rede.

“A cadeira de Marcelo cresce porque ele pega a operação e fica mais robusta, e as outras áreas vão se reorganizar para que Raduan tenha ascendência sobre elas”, diz Pousada. O mercado já espera novas mexidas nas próximas semanas, e menciona a questão em relatório publicados na terça.

Sobre esse assunto, Pipponzi diz que o mercado não deve esperar rupturas. “Não vamos trazer ninguém de fora e é preciso ficar claro que Marcelo fica abaixo de Raduan. Os papéis estão claros”.

Nesse movimento, a reorganização surge também como forma de dar outro passo na nova “cara” da RD, construída na gestão de Pousada, de uma varejista de farmácias com foco em serviços e orientada para melhorar a saúde e o bem-estar das pessoas — e não uma rede que vende medicamentos para quem está doente.

‘Cultura dos donos’

Pipponzi é uma das referência do varejo nacional, ao lado de nomes como Abilio Diniz, Luiza Helena Trajano e José Galló. A família Birman, da Arezzo, tem recorrido a ele, e bebido na fonte da criação da RD, e de sua estrutura de governança, para tentar montar um modelo junto ao grupo Soma que escape das armadilhas das fusões do setor.

Muitos negócios após integrados perderam a cultura dos donos, o crescimento acelerado encolheu eficiência e o lucro, e a busca de resultados de curto prazo se sobrepôs aos princípios de longo prazo.

Nesse processo, a RD seguiu outra trilha: deu um salto em vendas e lucro uma década e meia após a fusão, e a Drogarias Pacheco São Paulo (DPSP) — que se formou no mesmo mês em que a RD anunciou o acordo, em 2011 — ficou mais distante da líder. Agora, por coincidência, a mudança na RD é anunciada dias após uma troca no comando da DPSP.

No fim de julho, a DPSP informou os funcionários que o presidente Jonas Laurindvicius estava deixando a empresa, e seu sucessor é Marcos Colares, diretor comercial do grupo.

Laurindvicius ficou apenas três anos no cargo, abaixo da média de CEOs do setor de varejo, e segundo apurou o Valor, a necessidade de acelerar resultados mais rapidamente, num cenário de competição mais forte em São Paulo e no Rio de Janeiro, motivou a troca.

Com informações do Valor Econômico

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