Aviões da Boeing proibidos pela China podem ir para empresas aéreas da Índia
A guerra comercial entre EUA e China pode levar a Boeing a redirecionar aviões para a Índia, onde há grande demanda e atrasos nas entregas. A decisão impactará o mercado de aviação global

A escalada da guerra comercial entre Pequim e Washington pode levar a Boeing a direcionar aviões destinados à China para a Índia, onde empresas aéreas estão reclamando de atrasos nas entregas de aeronaves.
Pequim instruiu as companhias aéreas locais a suspender o recebimento de aeronaves Boeing, bem como a interromper a aquisição de peças e componentes de empresas americanas.
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A China Southern anunciou que suspenderá uma compra planejada de aviões da Boeing devido às consequências esperadas da guerra comercial, que levou os Estados Unidos a imporem uma tarifa de 145% sobre as importações chinesas. Pequim retaliou com tarifas de 125%.
De acordo com a Boeing, a empresa ainda tem a entregar 130 jatos para as companhias aéreas chinesas. Entre eles, 96 unidades do 737 MAX encomendadas por companhias aéreas como a China Southern Airlines e a Ruili Airlines. Há uma entrega de seis aviões 787-9 pendente para a Ruili. Esses são os mesmos tipos de aeronaves encomendados pelas companhias aéreas indianas Air India e Akasa Air.
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Por que a Índia pode absorver essa produção?
Especialistas afirmam que alguns desses jatos podem chegar à Índia.
“Há uma grave escassez de aeronaves na Índia e as companhias aéreas estão desesperadas. Então é bem possível que alguns desses aviões destinados à China sejam enviados para a Índia”, disse Mark Martin, executivo-chefe (CEO) da consultoria de aviação Martin Consulting.
Satyendra Pandey, sócio-gerente da consultoria de aviação AT-TV, concordou, observando que a “situação é muito dinâmica”.
“Dada a força do mercado indiano e suas necessidades de capacidade, pode ser uma possibilidade”, disse ele. “Qualquer decisão levará algum tempo e será tomada após a análise de vários cenários.”
A perspectiva de receber aeronaves redirecionadas ganhou ainda mais impulso depois que a Ryan Air, a maior companhia aérea de baixo custo da Europa, alertou esta semana que poderia desistir de aeronaves Boeing se elas se tornarem muito caras devido à guerra tarifária.
A transportadora deve receber 25 jatos Boeing a partir de agosto, mas o presidente, Michael O’Leary, disse ao “Financial Times” que a Ryan Air não precisa deles nos próximos 12 meses.
Boeing já tinha Índia no radar
Se a Boeing eventualmente desviar suprimentos para a Índia, não será a primeira vez. A empresa enviou algumas aeronaves de cauda branca — aquelas fabricadas para outros clientes, mas que acabaram não sendo vendidas — para a Air India, do Grupo Tata, no ano passado.
A Boeing vai se beneficiar do “boom” da aviação na Índia, onde empresas locais, incluindo a maior transportadora da Índia, a Indigo, encomendaram mais de 1.300 jatos desde 2020 da Boeing e de sua rival francesa, a Airbus.
O otimismo decorre do crescimento populacional da Índia, que deve voar com mais frequência à medida que a renda aumenta.
A Air India e a novata Akasa Air encomendaram 446 jatos Boeing no total desde 2021, cerca de metade de todos os pedidos da empresa aeroespacial da Ásia Central, Oriental, Meridional e Sudeste Asiático. A Boeing ainda não entregou 178 aviões para a Air India e mais 199 para a Akasa, segundo a empresa.
Situação atual da Boeing preocupa
As entregas da Boeing foram afetadas por uma greve de trabalhadores de quase dois meses, encerrada em novembro.
O escrutínio regulatório também se intensificou desde um incidente no qual um avião da Boeing operado pela Alaska Airlines perdeu um tampão de porta logo após decolar do Aeroporto Internacional de Portland, no Oregon, em janeiro de 2024.
A reputação da empresa já havia sofrido um sério golpe após a queda de dois de seus aviões em 2018 e 2019, matando quase 350 pessoas no total. A China, em particular, cortou drasticamente os novos pedidos da Boeing após esses acidentes.
“A China e o mundo estão cada vez mais cautelosos com a Boeing por questões de segurança, e a Índia deve estar atenta para não se tornar um depósito de produtos ocidentais de baixa qualidade”, disse Martin. “Esse não é o padrão de aviação de que ela precisa.”
As entregas da Airbus também enfrentaram dificuldades, com atrasos em motores, equipamentos de cabine e outros itens, o que reforça os desafios de fornecimento no setor de aviação.
Os atrasos geraram preocupações entre as companhias aéreas indianas, que apostam na rápida expansão de novos aviões, à medida que a concorrência se intensifica.
O presidente da Air India, Campbell Wilson, havia dito anteriormente que a companhia aérea era “vítima das circunstâncias, assim como todas as outras companhias aéreas” e que os atrasos nas entregas prejudicaram sua capacidade de expansão.
*Com informações do Valor Econômico