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O que o Flamengo, Corinthians e o Atlético-MG têm em comum?
Eis que nesta semana tivemos vários temas circulando no mundo do futebol fora de campo. Já abordei alguns aqui e ali, mas nesta coluna acredito que valha à pena fazermos algumas atualizações, para tentar induzirmos à famosa regressão à média. Afinal, o que o Flamengo, Corinthians, o Atlético Mineiro e o Botafogo têm em comum?
Estádio do Flamengo
Há muitas discussões a respeito do estádio do Flamengo. O clube está em processo de eleição, e isto acirra os ânimos e torna os temas mais quentes. Vamos tentar ajustar expectativas aqui.
Primeiro, o estádio do Flamengo, no caso, próprio, é um movimento importante. O Maracanã custa caro, tem dificuldades em separar adequadamente os setores e fazer a melhor gestão da bilheteria, ainda divide o campo com o Fluminense e eventualmente com o Vasco, e isso atrapalha o gramado, sempre em dificuldades.
Estádio próprio permite aumento de receitas diretas e indiretas, e cria o sentimento de “casa própria”. Tudo certo na ideia. Mas, por enquanto o que existe é um terreno. E aí reside o perigo.
A construção de um estádio custa caro. Estrutura grande, relativamente complexa, que para ser mais rentável demanda anexos como lojas, torres comerciais e até residenciais, além das famosas “contrapartidas”, que são melhorias no entorno para adequar a região ao fluxo de pessoas e trânsito no estádio. Inclusive, foi o que encareceu a Arena MRV.
Estádio do Flamengo merece uma análise meticulosa
Com mais de 25 de experiência na área de análise de projetos de grande porte, o que posso dizer é que a realidade é sempre pior, mas muito pior que o business plan, especialmente nos custos.
Por isso a análise do projeto do estádio do Flamengo precisa ser meticulosa, ponderada, sustentada por dados e precauções de todos os tipos, e isso significa ter uma estrutura de financiamento justa, o que inclui capital de terceiros, busca por sócios que banquem parte dos custos, antecipações na medida certa. Sem devaneios nem palavras ao vento. Não precisa nem ser um furação para levá-las para bem longe.
Seria leviano da minha parte apontar qual estrutura que o Flamengo precisa adotar. Não tenho dados, e esses estudos demoram. Mas é possível dizer que se o clube quiser se manter competitivo esportivamente será necessário buscar um sócio para a empreitada.
O Flamengo traz a demanda, e o sócio traz o dinheiro, junto com um financiamento adequado. O resto é conversa de botequim.
A vaquinha do Corinthians
Além do estádio do Flamengo, na semana passada comentei que a estratégia da vaquinha dos torcedores do Corinthians para pagar a Neoquímica Arena é interessante, mas carece de contrapartidas reais para se transformar em algo sólido. E que os torcedores parecem mais lúcidos que os dirigentes.
Mas tem uma coisa que me incomoda nessa conversa: o comportamento do torcedor. Porque o mesmo que agora quer ajudar é o que reclama que os ingressos custam caro, que a camisa oficial custa caro, que reclama que o pay-per-view é caro. Se bem que neste tema deixarão de reclamar, uma vez que optaram por uma estratégia abadá de distribuição e direitos de transmissão.
Mas que agora, como que por mágica, resolveram doar recursos para o clube resolver um problema de R$ 710 milhões, que a cada dia custa um pouco mais em juros.
Alguma coisa não faz sentido nessa conversa.
Como ajudar seu clube
O primeiro passo para ajudar seu clube é consumir produtos e serviços oficiais, aos preços e valores que precisam ser pagos.
Se é verdade que o clube de futebol é uma entidade popular, também é verdade que o torcedor cobra reforços e competitividade, e isso custa cada vez mais caro.
Aliás, é o que leva os clubes à bancarrota.
Qual o sentido em falar que vão ajudar agora, sem contrapartida? E ajudar um negócio que tem donos – os sócios – que são coniventes com a situação, porque votarão e elegeram representantes que trouxeram o clube até este cenário?
Vamos lá, a ideia é bacana, é válida, mas precisamos tratá-la da maneira correta, sem hipocrisia.
Se continuarem comprando produtos da torcida e não do clube, se continuarem querendo pagar menos pelos ingressos, reclamarem dos custos gerais e ainda cobrarem contratações estão apenas enxugando gelo. Porque daqui a uns anos terão de fazer novas vaquinhas. Um pouco de realismo não faz mal a ninguém.
Libertadores: será que teremos duas SAFs nas finais?
E eis que após as primeiras partidas das semifinais da Libertadores temos dois clubes brasileiros com um pé na final, a ser jogada em Buenos aires, no estádio Monumental.
O Atlético-MG fez 3 a 0 no River Plate, em belo Horizonte, e o Botafogo amassou o Peñarol por 5 a 0, no Rio de Janeiro. Ainda temos os jogos de volta, mas é inquestionável que os clubes brasileiros estão bem posicionados para fazerem a final inédita.
Agora vem a parte curiosa: muitos dirão que esta pode ser a final que marca o início do domínio das SAFs no futebol brasileiro, que agora os clubes são profissionais e conseguem sucesso esportivo. Calma. Menos, bem menos.
Nova gestão no Botafogo
Além do Flamengo, Corinthians e Atlético, há ainda o caso do Botafogo é inegável que a transformação em SAF mudou a gestão do clube em diversas áreas.
A administração mostra-se mais profissional, a área de scouting é claramente melhor. Mas não podemos ignorar que o modelo de negócios tem seus riscos, uma vez que já sabemos que receitas de performance não enchem barriga, pois uma boa parte é direcionada aos atletas.
Ainda não temos dados de 2024 para analisar as finanças do clube, mas precisamos entender se a realidade vai além das falas dos dirigentes. Por enquanto é “all in” que conta com a venda futura de atletas para equacionar as contas.
Galo: mecenas que viraram donos
Já para o do Galo, o clube praticamente repete a gestão pré-SAF, quando era bancado pelos mecenas que viraram donos.
Algumas áreas internas evoluíram? Sim, sem dúvida. O clube é melhor estruturado hoje, passados alguns anos sob a atual gestão. Mas o perfil de gastos segue o mesmo, acima da capacidade de receitas, e esperando pelo título para dizer que deu tudo certo.
Vamos lembrar que em 2021 funcionou, mas depois disso o desempenho foi OK. E os donos estão gastando um bom dinheiro pagando dívidas feitas para alcançar o sucesso daquele ano. Como a situação está evoluindo? Ninguém sabem, ninguém viu, e ainda tem dividas do estádio para pagar.
Concluindo…
… em nenhum dos casos, como os do Flamengo, Corinthians e Atlético, ainda dá para dizer que as gestões são completamente profissionais. São, por enquanto, cartolas donos dos CNPJs.
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