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Gustavo Pimenta assume como CEO da Vale nesta terça-feira (1º), em um contexto positivo após o pacote de estímulos econômicos da China. A ação da Vale subiu 11,53% na última semana. No cenário doméstico, a perspectiva de um acordo sobre a tragédia de Mariana também é favorável. Pimenta enfrenta desafios, incluindo pressões políticas e a necessidade de reduzir custos. Eleito por unanimidade, Pimenta deve promover mudanças no comitê-executivo e criar uma vice-presidência de relações institucionais e comunicação.
O novo presidente da Vale, Gustavo Pimenta, toma posse nesta terça-feira (1º). Ele assume em um contexto relativamente positivo para a companhia, depois do pacote de estímulos econômicos anunciado, na semana passada, pelo governo da China. O país asiático é o principal mercado da mineradora.
Na sexta-feira (27), a ação da Vale fechou a R$ 63,96, alta de 11,53% sobre o dia 20, quando as medidas chinesas ainda não eram conhecidas.
No cenário doméstico, a perspectiva de um acordo final sobre a tragédia de Mariana (MG) também contribui para que o CEO comece a gestão “limpando” a mesa. Mas apesar da situação favorável, Pimenta assume com uma série de desafios. Chega em um ambiente em que as pressões políticas sobre a Vale, que marcaram todo o processo sucessório ao longo do ano, devem continuar a existir.
Gustavo Pimenta
Eleito por unanimidade pelo conselho de administração da Vale em 26 de agosto, Pimenta chega ao cargo para cumprir mandato de três anos.
Embora jovem, tem 46 anos, é um executivo experiente, com carreira no Brasil e no exterior.
“A eleição por unanimidade dá a Pimenta um começo menos apertado (em termos de pressões) e alarga a margem dele para se movimentar”, disse um interlocutor próximo da companhia.
Um dos primeiros trabalhos de Pimenta será avaliar mudanças no comitê-executivo, que abriga os vice-presidentes da Vale.
São nove executivos, incluindo o CEO. É esperado que o novo presidente promova de três a quatro mudanças nesses cargos.
Pressões políticas
Embora a Vale tenha um processo organizado de recrutamento de executivos, há receios de novas pressões políticas de Brasília para fazer indicações. Assim como se viu quando o Planalto tentou fazer o ex-ministro Guido Mantega e outros candidatos como presidente da empresa.
“A maior ameaça à Vale é a política, uma vez que a empresa depende de licenças e concessões em um ambiente de governo marcado pelo intervencionismo (na economia)”, diz uma fonte.
A alta administração da Vale nega que vá existir pressão política pelas eventuais cadeiras de vice-presidentes que ficarem livres. “Não tem pressão”, rebateu outra fonte. O objetivo de Pimenta seria ter um comitê-executivo de classe mundial.
Gustavo Pimenta e a criação de nova vice-presidência
Também se espera a criação de uma vice-presidência de relações institucionais e de comunicação. O tema, então, virou um mantra na Vale ao longo do conturbado processo sucessório. Isso, uma vez que o colegiado da mineradora entende que a empresa precisa se comunicar melhor com os públicos de interesse (stakeholders). Incluindo assim comunidades, fornecedores e governo, entre outros.
Relação tensa
Como detentora de direitos minerários, que pertencem à União, e concessionária de portos e ferrovias, a Vale tem direitos e obrigações com o Estado brasileiro.
Pelo tamanho e abrangência geográfica, a empresa registra, historicamente, uma relação tensa não só com a União mas com os Estados onde opera (MG, ES, RJ, PA e MA).
Gestores municipais e estaduais vêm na Vale uma fonte para suprir carências que muitas vezes teriam que ser sanadas pelo Estado. Muito embora, claro, a empresa tenha que prestar contrapartidas. Isso ficou ainda mais evidente após as tragédias de Mariana, em 2015, e de Brumadinho, em 2019.
Brumadinho e Mariana
Depois dos dois desastres socioambientais, que estão entre os piores da história do país, a Vale enfrentou dificuldades. Não só para retomar volumes de produção de minério de ferro, o principal produto da empresa. Mas também para conseguir novas licenças.
A empresa, que antes perseguia a marca de produzir 400 milhões de toneladas de minério de ferro por ano, não fixou mais prazos assim.
Este mês, em visita de analistas de bancos a Carajás (PA), principal reserva de minério de ferro da companhia, a Vale aumentou a meta de produção para o ano. Subiu para um intervalo entre 323 milhões e 330 milhões de toneladas (o número anterior era 310 milhões a 320 milhões).
A estratégia da Vale, há um bom tempo, tem sido privilegiar a qualidade do minério de ferro produzido e não mais os volumes.
A companhia entende que produtos com alto teor de ferro têm prêmios de preço e novos desenvolvimentos e inovação podem ajudar a descarbonizar a indústria siderúrgica.
Missão de Gustavo Pimenta
Mas há um dever de casa que Gustavo Pimenta terá por fazer. Oassa pela contínua redução de custos e pela garantia de um arcabouço regulatório sobre como tratar as chamadas ‘cavidades’.
O tema envolve cavernas em áreas ricas em minérios que precisam ser licenciadas. O licenciamento ambiental aplicado à mineração continuará assim a ser um dos principais temas na agenda da Vale. Agora sob a nova gestão.
É inegável que Gustavo Pimenta assume a mineradora em um ambiente melhor do que o seu antecessor e atual CEO, Eduardo Bartolomeo. Esse, chegou à empresa em 2019, ainda em meio à tragédia de Brumadinho.
Um longo trabalho de recuperação da empresa foi feito, incluindo a venda de ativos, e a transformação da segurança em principal bandeira. Mas, mesmo assim, esse é um desafio que precisará ser mantido no topo das prioridades de Pimenta.