“Inteligência financeira é saber projetar o que você deseja no futuro”, diz Walter Schalka, CEO da Suzano (SUZB3)
Executivo fala sobre os bastidores da fusão com a Fibria, a gestão do Santos FC e como ele vê o futuro da companhia
Quem conversa com Walter Schalka, presidente da Suzano (SUZB3), tem a sensação de estar na falando com um executivo diferente, desses que o jargão cunhou como “fora da caixa”. De fala mansa, olhando no olho do interlocutor e o tratando pelo nome (ainda que nunca tenham se visto), Schalka transimite segurança.
Não à toa, ele admira duas personalidades históricas que demonstram bem essa personalidade: o líder pacifista indiano Mahatma Gandhi e Nelson Mandela, ativista contra o apartheid e que se tornou presidente da África do Sul. “Gandhi, pela história que foi transformacional para a Índia, e Mandela, pelo o que ele representou para a África do Sul e pelo combate ao racismo no mundo todo”, disse Schalka com exclusividade ao videocast Visão de Líder, da Inteligência Financeira.
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O caso da fusão com a Fibria
Mas essa calma tem um preço.
Em 2018, a Suzano administrou o processo de fusão com a Fibria, até então controlada pela Votorantim e pelo BNDES. Nascia ali a líder mundial em celulose e papel, avaliada em US$ 14,5 bilhões, com então 14 mil funcionários diretos.
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“Precisamos esperar o momento em que a valorização das empresas estivesse definida, com bom acesso à liquidez e que os acionistas estivessem alinhados. Foram 70 dias trabalhando nessa operação. No dia da assinatura, eu tive pedra no rim. O pessoal celebrava com champagne, e eu com a mão nas costas”, lembra Schalka.
O executivo contou nos contando os bastidores da negociação bilionária:
“Limitamos – e muito – o número de pessoas que iriam participar da negociação. Além do Conselho, só tinham três pessoas participando: o diretor financeiro, o jurídico e eu. O vazamento de informação sempre complica uma negociação. A imprensa todo dia divulgava uma coisa nova. Mas nunca demos esclarecimentos, não tratamos com a imprensa sobre M&A (sigla para “Mergers & Acquisitions”, ou “Fusões e Aquisições”). Eram 20 horas de trabalho por dia”, disse Schalka.
A lição de Schalka sobre erros
Mente quem diz que não erra. Isso vale também para um executivo de alto escalão, C Level, como Walter Schalka, que não só admitiu isso nessa conversa, como deu sua versão sobre o que ele faz quando erra.
“A gente erra todos os dias. Eu já errei muitas vezes. Eu aprendi que a gente precisa errar mais no varejo do que no atacado, porque dá pra arrumar no dia seguinte e ir mudando.”
O que é ter inteligência financeira?
Ao ser questionado sobre o que é ter inteligência financeira, que é o cerne desta plataforma, Schalka não hesitou. “Ter inteligência financeira é reproduzir no mundo financeiro sua própria personalidade. É saber projetar o que você deseja no futuro.” Em uma análise simples, porém nada simplista, o executivo resumiu bem o que nós, da Inteligência Financeira, debatemos por estas páginas.
Os desafios na gestão do Santos Futebol Clube
Schalka já fez parte do comitê de gestão do Santos Futebol Clube por duas vezes. “O futebol é mais difícil do que o mundo corporativo, porque envolve paixão. E futebol tem que ter equilíbrio entre o resultado esportivo e o financeiro. Posso garantir que 99,99% dos torcedores não estão nem aí para a parte financeira. Eles só querem saber da parte esportiva. É pressão misturada com paixão, porque você também é torcedor.”
O Brasil do futuro passa por reformas estruturais
Neste Visão de Líder, Schalka mostrou uma visão diferente sobre o Brasil. Em geral, os executivos de alto escalão se dizem otimistas com o país e apontam seus motivos. Todos fazem sentido. Mas o presidente da Suzano foi além. “Não sou otimista nem pessimista. Eu sou reformista. O Brasil precisa passar por reformas estruturais, como a administrativa, tributária, política e educacional. Precisamos de um plano de longo prazo. Quando você lidera uma empresa, a primeira coisa que você faz é um planejamento de longo prazo. Qual é o planejamento do Brasil?” Boa pergunta, Schalka.
O novo papel das árvores
Não podemos deixar de citar a velocidade com que o mundo corre em direção à tecnologia. Em um caminho sem volta, o papel, que é o grande insumo produzido pela Suzano, estaria em decadência? “O número de livros vendidos neste ano aumentou 30%. Mas vamos ter mais movimento digital, sim. Nossa ideia é que da árvore vamos tirar tecido, bio-óleo (combustível renovável cuja matéria-prima é de origem orgânica), embalagem para substituir os plásticos. Vamos transformar a sociedade a partir da árvore. A Suzano vem há décadas com inovação e sustentabilidade. Criamos a inovabilidade. Já atingimos 2 bilhões de pessoas. Queremos chegar em 8 bilhões.”
Você acompanha tudo isso nesta entrevista que o executivo concedeu à Inteligência Financeira, na sede da Suzano, que fica na avenida Faria Lima. Você pode até discordar dele em alguns pontos, concordar em outros. Mas é impossível ignorar um dos executivos mais poderosos – e doces – do Brasil.