Liga de clubes no Brasil: a hora de fazer acontecer
Técnicos que entendem da indústria deveriam construir um modelo que funcione para todos

Resolvido o problema dos contratos de direitos de transmissão do futebol brasileiro, agora os clubes resolvem levantar a bandeira branca e trazer o espírito da pacificação para a mesa. Está criado o ambiente para que possamos finalmente criar uma liga de clubes, e tratar o futebol brasileiro de forma corporativa.
Seria fácil, se fosse fácil.
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Para que serve uma liga de clubes?
Os possíveis benefícios de uma liga de clubes já foram debatidos ao longo dos últimos anos, mas não custo relembrá-los: criação de um produto, que esteja acima dos clubes, que permita um calendário adequado, melhore as infraestruturas (especialmente o gramado), que atue de forma mais próxima junto à arbitragem, desenvolvendo um sistema de controle financeiro – fair play financeiro – que evite problemas estruturais de atrasos e dívidas impagáveis, e que na maturidade possa trazer mais receitas.
Tudo isso foi pensado lá atrás, quando as primeiras reuniões envolvendo os clubes das séries A e B ocorreram.
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Consultores levaram ideias, dirigentes divergiram de muita coisa, outros consultores ficaram na espreita apenas esperando a estrutura rachar para ocuparem seus espaços. E, bingo!, resolveram colocar o carro na frente dos bois e discutir primeiro a venda dos direitos de transmissão e uma venda de parte da liga.
A história conta que a partir daí começaram as discussões, a cisão da Libra em Liga Forte Futebol e Grupo União, que depois se juntaram e criaram a Liga Forte União (LFU).
Cada um com seus assessores, seus parceiros, questionando os parceiros do grupo “co-irmão”, e assim é o futebol brasileiro desde sempre.
Adversários de campo, que por vezes se transformam em inimigos, e ignoram que são parte da mesma indústria e são interdependentes: não há o clube grande sem que haja o outro clube grande, o médio, o regional o pequeno.
Errado não está
Passado este primeiro período de turbulência, que resultou nas negociações separadas dos direitos, que no final possuem características parecidas e poucas arestas a serem aparadas, muitos acreditam que agora temos condições de uma união para, finalmente, formarmos a liga de clubes.
Acho que sim, mas também acho que não. Como diria um sticker de app de mensagem que circula por aí: “Está certo? Não. Mas também não está errado”.
Porque agora começam as discussões técnicas e os temas menos entusiasmantes que falar em dinheiro. Começa a parte burocrática, de construção de estruturas, políticas, modelos de negócios, o que cabe à liga, à CBF e às federações.
O que falta resolver
Partes espinhosas como direito de voto e quórum mínimo de aprovação, e a partir daí só piora. Quer ver?
Calendário
Parece óbvio que precisamos de um calendário nacional mais esticado, de forma que as datas-FIFA não apertem as rodadas ao longo do ano.
E, para isso, precisamos falar nos Estaduais, que não podem ocupar 3 meses do calendário, mas precisam existir como forma de fomentar o futebol regional.
Quem vai colocar essa pauta debaixo do braço, quando os clubes grandes de São Paulo fazem cerca de R$ 40 milhões com a cota de participação, e os menores colocam perto de R$ 10 milhões no caixa? Dinheiro igual ao que recebem em 7 meses de Séries B e C.
Arbitragem
Quem vai mexer nesse vespeiro, que já que hoje temos uma situação cômoda na qual os clubes reclamam, mas a responsabilidade não é deles.
Gramados
Quem vai tratar o tema, fundamental para o desenvolvimento do jogo, quando a facilidade faz com que vários utilizem gramados sintéticos, abolidos de competições na Europa?
Fair Play Financeiro
Ah, este é um tema que podemos chamar de Dia da Marmota, porque vira e mexe todos pedem sua implantação, para no dia seguinte anunciarem a contratação que vai custar mais de R$ 20 milhões anuais aos cofres do clube, que já tem bilhão em dívidas, prejuízos e ainda deve dinheiro a outros clubes. Faça o que eu falo, mas não faça o que eu faço.
Técnicos isentos
Vou falar o óbvio: não deveriam ser os dirigentes a tratar disso, nem indicados dos clubes, mas sim técnicos que entendem da indústria, trabalham de forma isenta e independente, que não prestem serviços a clubes, e que possam construir um modelo que funcione para todos.
E, sinto informar, mas “funcionar para todos” significa que todos sairão descontentes em relação a algum tempo, mas é parte do processo de formação de um grupo.
Deveríamos estar dispostos a dar esse passo. Ainda que haja uma expectativa superestimada dos efeitos da liga, ela é fundamental para organizarmos o futebol no Brasil. No longo prazo seu efeito é altamente benéfico, e cuja tradução disse é “ter mais dinheiro”.
Os clubes optaram por seguirem por caminhos diferentes lá atrás, mas aconteceu o que se imaginava: as estradas se cruzaram num ponto com outras duas direções. Está na hora de tomarmos um rumo na vida. Ou nos contentaremos em ser apenas a Premier League da Shopee.