Margem Equatorial testa Magda Chambriard a frente da Petrobras
Executiva disse ser essencial explorar petróleo em novas áreas e que o Ministério do Meio Ambiente precisa ser mais esclarecido sobre a necessidade do país e da empresa de perfurar poços na Margem Equatorial
O tom conciliador adotado pela nova presidente da Petrobras, Magda Chambriard, em sua primeira entrevista coletiva esconde as dificuldades que ela terá para atender a interesses distintos entre acionistas, bem como entre alas do próprio governo, apontam especialistas ouvidos pelo Valor.
Um exemplo é a exploração e produção de petróleo na Margem Equatorial, especialmente na costa do Amapá, que vem à tona um ano após o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) negar a licença para perfuração de um poço na região. A empresa recorreu. O ex-presidente da estatal Jean Paul Prates enfrentou dificuldades que devem prosseguir na gestão de Chambriard, avaliam.
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A executiva reiterou o que Prates vinha dizendo à frente da estatal: a Petrobras precisa repor reservas por causa do declínio do pré-sal a partir do início da próxima década. Ela disse ser essencial explorar petróleo em novas áreas e que o Ministério do Meio Ambiente (MMA) precisa ser mais esclarecido sobre a necessidade do país e da empresa de perfurar poços na Margem Equatorial. Como a Petrobras destravará a licença ainda é uma incógnita para o mercado.
Viabilidade da exploração
Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, avalia que a fala de Chambriard sobre a região entre o Amapá e o Rio Grande do Norte deixa dúvidas sobre como negociará o sinal verde do Ibama. “A presidente fala sobre viabilizar conversas sobre a exploração na Foz, mas precisa de licença. Como isso poderá ser feito?”, disse.
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Na visão de um especialista da indústria, a nova presidente da Petrobras tem experiência suficiente para saber como se desvencilhar das pressões contrárias que ocorrerão quando se trata da Margem Equatorial.
Ele também considera que as exigências do mercado financeiro sobre a política de dividendos serão mais difíceis de serem atendidas pela executiva.
Nessa linha, o BB Investimentos defende ser importante ter mais clareza sobre os dividendos, pois se a empresa adotar o pagamento mínimo obrigatório de 25% do lucro líquido, em vez de 45% do fluxo de caixa livre, o resultado será uma redução da ordem de 32% no montante previsto para ser pago em 2024.
O modelo atual do banco prevê distribuição de R$ 3,09 por ação ante projeção de R$ 2,11 por ação, caso a empresa opte pelo mínimo obrigatório por lei.
Chambriard: tom mais sóbrio
As falas de Chambriard, por sinal, assemelharam-se em muitos pontos com o discurso de Prates, diferenciando-se pelo tom, mais sóbrio frente a seu antecessor, mais comunicativo, observou um executivo do setor. Não houve surpresas em geral, mas um dos itens de atenção deve ser a relação da CEO com a política. A semelhança nos discursos, diz o executivo, deixa mais claro que o motivo da saída de Prates foi a série de embates com alas do Planalto.
Chambriard disse que o plano dela é colocar a empresa à disposição dos interesses dos acionistas, respeitando a lógica empresarial, destacando que, para cumprir essa tarefa, a palavra-chave é “conversa”. A avaliação é de que pouco mudará no dia a dia da estatal. Todos os projetos em análise na companhia passam por vários “portões” de governança, que envolvem desde gerentes e gerentes-executivos até o conselho de administração. Em todos, a aprovação exige “o CPF” dos gestores, o que em tese dificulta decisões comprometedoras de investimentos.
“As decisões estratégicas na companhia não podem ser tomadas sozinhas [por uma pessoa só] e precisam ter aderência ao plano estratégico”, disse o diretor de governança e conformidade da Petrobras, Mario Spinelli, em evento sobre ESG do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), nesta terça-feira (28).
“Compliance exagerado”
Chambriard defendeu também a atual estrutura de governança da Petrobras, mas disse que a empresa não poder ter “um compliance exagerado” que imponha imobilismo. Spinelli afirmou que as regras de governança da companhia devem contribuir com o processo de decisão e mitigar “qualquer assimetria entre os acionistas”.
Para um analista do mercado financeiro, não houve surpresas no discurso de Chambriard: “O discurso vale pouco. Precisamos ver as ações.” Para ele, a área mais sensível é sobre os planos de investimentos da estatal, ainda sem clareza sobre se haverá alguma mudança no que a empresa já havia anunciado.
Arbetman, da Ativa Investimentos, salientou: “Não há dúvidas de que haverá um aumento, o próprio Prates fez um aumento no plano estratégico. Mas ainda falta saber quanto. Faltou definição de temporalidade e o quanto essas mudanças que levaram ela a assumir essa cadeira vão representar diferença.”
Além disso, dois analistas que acompanham o mercado destacaram que a executiva deu a entender que não mudará a política de preços de combustíveis, o que, na visão deles, é positivo. A Guide Investimentos sintetizou: “Continuamos com nossa visão de que os investimentos devem alterar, os dividendos devem diminuir e a política de preços se manterá inalterada.” (Colaborou Ana Beatriz Bartolo, de São Paulo)
Com informações do Valor Econômico.