Mercado cripto vive dança das cadeiras e vai atrás de profissionais da Faria Lima

A adesão por parte de players tradicionais e a iminência da regulamentação das corretoras especializadas esquentaram o fluxo de contratações no mercado cripto no Brasil.
Nos últimos meses, a dança das cadeiras atingiu praticamente todas as empresas do ramo, das nativas às neófitas em matéria de ativos digitais, como os grandes bancos.
Segundo executivos do ramo, o movimento já é forte, mas promete crescer ao longo de 2025, na medida em que as diretrizes para atuação das corretoras de criptomoedas sejam publicadas pelo Banco Central (BC).
A autarquia tem um projeto de marco legal para a atuação das empresas de intermediação de ativos digitais praticamente pronto. Sobretudo na parte em que equipara as empresas do ramo às instituições de pagamento.
A expectativa do mercado é de que essas novas regras vigorem no segundo semestre deste ano.
Sarrafo vai subir
O marco legal das corretoras elevará o sarrafo do mercado cripto, com a necessidade das empresas, que geralmente operam do exterior, se instalarem fisicamente no Brasil. Assim, precisarão definir diretorias estatutárias e equipes de compliance à exemplo do setor bancário.
Especialistas comparam o setor de criptomoedas hoje em dia ao que era o ambiente das apostas on-line, as bets, antes de 2025.
O mercado de apostas de quota fixa era até então concentrada em um sem-número de sites, boa parte deles registrados no exterior, e que operavam no Brasil sem nenhum controle por parte do governo.
Com a regulamentação, foram desligados a maior parte dessas bets e o setor passou a operar dentro de um conjunto de regras, com regime de tributação específico.
“Como foram com as bets, o mercado cripto vai mudar muito”, afirma Emília Campos, do escritório Malgueiro Campos Advocacia.
Ela conta que, hoje, as corretoras de cripto estão sediadas em paraísos fiscais, como Ilhas Jersey ou Dubai. E operam de lá sites traduzidos em língua portuguesa. Geralmente contam com um ou outro colaborador brasileiro, mas com mandato exclusivamente comercial.
“A regulamentação deve acontecer neste ano. Mas ela vai exigir um nível de profissionalização que obriga que as empresas já comecem a se movimentar. Por isso o mercado de trabalho esquentou”, diz.
Redução de empresas do mercado cripto
Emilia Campos diz que, desde o começo do ano, vem sendo semanalmente procurada por empresas de intermediação de criptomoedas estrangeiras, as chamadas exchanges. Elas buscam informações sobre as regras que estão sendo compiladas pelo BC.
“A grande mudança é que o setor vai se equiparar as exigências das instituições de pagamento. Isso fará com empresas invistam em pessoal e estrutura”, diz.
“Na verdade, vai haver uma redução de empresas. As que imediatamente vão desaparecer são as com faturamento médio de R$ 1 milhão por mês. Depois, muitas estrangeiras não deverão se encaixar ao modelo”, conta a especialista.
Na prática, as empresas estrangeiras estão em busca de diretores estatutários, que possam responder pelas operações no Brasil. A oferta geralmente envolve salários a partir de R$ 1 milhão ao ano.
“Mas a bucha é muito grande. Esses profissionais vão responder na física por eventuais problemas da empresa, mesmo que da matriz”, afirma um executivo empregado em empresa de infraestrutura cripto, mas que vem sendo procurando para a função.
Também há postos de executivos comerciais. E, principalmente nos bancos, cargos técnicos em mesas de compra e venda de ativos. Nesses dois últimos casos, a reportagem apurou que os salários vão de R$ 28 mil a R$ 40 mil.
Mercado cripto esquentou
Hoje, o mercado de intermediação cripto é formado por empresas locais, internacionais e os bancos. As brasileiras mais conhecidas datam das origens do setor, como Foxbit e Mercado Bitcoin.
Mas boa parte do fluxo de criptos acontece dentro das exchanges internacionais. Elas movimentam bilhões de dólares em criptomoedas por dia. A maior, então, é a Binance, com cerca de 80% do fluxo do setor. Mas há também marcas como a Coinbase, que tem capital aberto nos Estados Unidos, Bybit e Bitget.
Correndo por fora, os bancões. Itaú, Bradesco, Santander, BTG, Nubank e Inter estão neste momento estruturando ou ampliando mesas de ativos de digitais.
Bancos de olho no mercado cripto
Todos os bancos estão monitorando o mercado para engrossar as equipes neste momento. Oficialmente, quem têm vagas em aberto na área é o Santander. Lá, a operação cripto é chefiada por Evandro Vieira. O banco foi buscá-lo na americana Chainanalysis, empresa de análises de blockchain.
O último a montar sua operação de ativos digitais foi o Bradesco. O banco passou todo o segundo semestre de 2024 batendo nas principais corretoras atrás de um gerente sênior.
Em janeiro, o Bradesco contratou Courtnay Guimarães, um experiente executivo, com perfil técnico. O job description do executivo tem duas grandes funções. A primeira, e mais importante, explicar ao board da instituição porque investir nesse mercado.
A segunda, desenhar produtos para competir em pé de igualdade com as demais instituições. Principalmente na área de remessas de dinheiro por meio de stablecoins. São moedas digitais estáveis, pareadas em ativos fiduciários, como o real. Esse tipo de operação é de longe o maior fluxo da blockchain hoje no mundo.
Setor deve dominar mercado cripto
Os bancos hoje representam uma pequena parte das intermediações do setor de criptomoedas. Mas ninguém duvida que, em pouco tempo, eles devem abocanhar a principal fatia no setor
“Hoje o mercado está pulverizado. Mas os bancos deverão dominar”, diz Fabrício Tota, diretor de novos negócios do Mercado Bitcoin.
“Com a regulamentação, que vai chegar, é muito mais simples uma pessoa abrir o aplicativo do banco e fazer a compra do cripto. Mais simples do que abrir uma conta em uma corretora”, diz Guilherme Prado, que recentemente deixou a Bybit para assumir a operação da Bitget no Brasil.
Na Faria Lima, uma fonte conta que mesmo que neste momento os bancos não faturem com o filão, eles estão de olho no impacto que o ativo digital gera no relacionamento com o cliente. Quem investe em cripto entra mais vezes no aplicativo do banco. “A memecoin do Trump gerou o maior fluxo da história na plataforma da Bybit. E isso num domingo”, diz a empresa, em nota.
Mercado está de olho na Faria Lima
Por falar em Faria Lima, a região tem tudo para ser a principal fornecedora de mão de obra para as empresas que estão contratando. “Esse pessoal vai vir dos bancos de investimento”, conta Tota, do Mercado Bitcoin.
Para ele, o mercado conseguiu até aqui suprir as novas posições com contratações entre os chamados nativos de cripto, aqueles profissionais que já atuam dentro do segmento. Mas a tendência é que, daqui pra frente, as empresas recorrerão aos profissionais que atuam em setores tradicionais, da Faria Lima.
“Essa dança das cadeiras na verdade mal começou. Além de profissionais, a regulamentação vai forçar muitas aquisições. Nós mesmo estamos de olho no mercado”, conta Tota.
Há três anos, o Mercado Bitcoin vendeu uma parte da empresa ao Softbank, por US$ 200 milhões. Foi mais ou menos por essa época que os executivos negociaram uma consolidação com a americana Coinbase. O negócio não fechou porque a exchange de Brian Armstrong não aceitou pagar US$ 2,1 bilhões pela brasileira.
Hoje, Tota diz que os ventos mudaram. A empresa está na ponta compradora. E quer aproveitar essa janela da regulamentação para reforçar algumas verticais, principalmente técnicas. “É questão de tempo encontrar um bom negócio”, diz
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