O impacto do dólar, da China e de Trump nos resultados de Klabin e Suzano

Analisa-se o cenário complexo que as maiores empresas de celulose do Brasil, Klabin e Suzano, enfrentarão em 2025, considerando a volatilidade cambial, a situação na China e o retorno de Trump à presidência dos EUA.

Câmbio, preços da celulose, economia brasileira e a volta de Donald Trump à Casa Branca compõem o cenário complexo que Suzano e Klabin devem navegar em 2025.

Cada um desses elementos influencia os resultados e as estratégias das duas maiores empresas do setor no Brasil de maneiras distintas, resta entender como.

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Dólar: vilão e herói nos resultados

Se Klabin e Suzano fossem clubes de futebol e o câmbio um de seus jogadores, poderíamos dizer que, no mesmo jogo, ele fez um pênalti no adversário e o gol da vitória.

No quarto trimestre, as receitas das duas papeleiras foram ajudadas pela valorização da moeda americana frente ao real em função das exportações.

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Por outro lado, o dólar forte puxa para cima as dívidas em moeda estrangeira, além de alguns custos, tendo impacto negativo nos resultados.

Ainda que os passivos não estejam no vencimento, as empresas têm de ajustar seu valor à moeda do balanço, de acordo com a cotação no fechamento.

Na Klabin, a valorização do dólar ajudou a elevar a receita do negócio de celulose em 20% de outubro a dezembro ante o trimestre anterior, mais que compensando a queda de volume no período.

O efeito foi parecido no negócio de papéis, que cresceu 19% no mesmo intervalo.

Já nos custos, a história foi outra.

No quarto trimestre, o custo caixa total por tonelada cresceu 13%, totalizando R$ 3.402, basicamente pela variação do câmbio.

O efeito foi parecido no endividamento bruto, que teve um aumento de R$ 3,8 bilhões, saltando para R$ 40,8 bilhões.

A Suzano mantém aproximadamente 95% de sua dívida denominada em dólar, uma estratégia que faz sentido considerando que cerca de 85% de suas receitas também são dolarizadas, criando um hedge natural.

No entanto, essa exposição amplifica o efeito contábil da variação cambial nos resultados trimestrais.

No quarto trimestre, a maior produtora de celulose do mundo reverteu o lucro de um ano antes e teve prejuízo de R$ 6,74 bilhões.

No intervalo, o resultado financeiro líquido foi negativo em R$ 15,55 bilhões, ante resultado positivo de R$ 2,27 bilhões no mesmo trimestre do ano anterior.

Desse valor, R$ 8,93 bilhões foram perdas decorrentes de variações cambiais e monetárias.

A expectativa é que a volatilidade cambial, influenciada pela política monetária americana e incertezas fiscais domésticas, continue ao longo desse ano.

Sustentando a pressão da moeda sobre os resultados contábeis, enquanto mantém a competitividade das exportações brasileiras no cenário internacional.

Celulose surpreende positivamente

A celulose de eucalipto (fibra curta) começou o ano com preços melhores do que o esperado.

A explicação está na paralisação da Chenming, uma grande papeleira chinesa, que gerou demanda adicional não prevista e criou um ambiente favorável para os preços da matéria-prima.

Até o momento, não existe muita clareza sobre quando a situação será resolvida.

Em teleconferência, na quinta-feira (27), o comando da Klabin disse que não há expectativa de que essa retomada aconteça antes de abril.

Ainda que ajude no preço, o cenário momentâneo aumenta a pressão sobre a oferta.

No caso da Suzano, além de estar com estoques mais baixos, em função do bom desempenho de vendas no fim do ano, o primeiro trimestre concentra paradas de manutenção programadas, reduzindo o volume disponível.

Em linha com essas mudanças, Suzano e Klabin anunciaram três aumentos consecutivos para janeiro, fevereiro e março.

Desaceleração econômica à vista?

No mercado doméstico, os últimos meses mostraram o avanço de um cenário mais desafiador, com juros e inflação voltando a subir e o dólar em patamares elevados, pressionando o consumo.

No caso da Klabin, que tem dois terços de sua receita atrelada aos segmentos de papel e embalagem, o desempenho da economia é um fator bastante relevante.

Afinal, muitos de seus produtos são vendidos para empresas de bens não duráveis, como alimentos.

Na leitura da companhia, o momento atual ainda é positivo, mas caso uma desaceleração ocorra, a empresa entende que estará protegida por seu portfólio diversificado.

E Trump?

Desde que Donald Trump voltou à Casa Branca, o mundo tem acompanhado atentamente as políticas adotadas pelo republicano.

Os anúncios de tarifas adicionais sobre as importações aumentam a incerteza para os exportadores brasileiros.

Embora o setor de celulose tenha características específicas que podem mitigar esses riscos.

Os Estados Unidos importam aproximadamente 6 milhões de toneladas de celulose anualmente, com o Brasil respondendo por cerca de 20% desse volume.

Embora os americanos sejam grandes produtores da matéria-prima, o país depende das importações de celulose para suprir suas necessidades, o que reduz o receio de tarifas direcionadas ao produto.

Além de um mercado consumidor importante, os EUA se tornaram foco de investimentos da Suzano nos últimos anos.

Em meados do ano passado, a companhia adquiriu duas fábricas da Pactiv Evergreen, onde são produzidos papel cartão para embalagens de líquidos e copos de papel.

Apesar das incertezas, o comando da empresa disse que a agenda de Trump não muda a estratégia de alocação de capital no país.

Com foco em reduzir o endividamento, a Klabin não prevê um grande investimento pelos próximos dois anos, mas diz que os movimentos geopolíticos recentes exigem mais reflexão sobre eventuais aquisições.

*Com informações do Valor Econômico

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


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