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Incertezas em razão de conflitos e juros altos atrapalharam segmento das startups
Especialistas dizem que entre as justificativas para a derrocada nos investimentos em startups no Brasil nos dois últimos estão os juros altos no Brasil e em outros países, as incertezas para a economia mundial em razão da guerra entre Rússia e Ucrânia e, mais recentemente, o conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas.
“Dois mil e vinte e um foi um ano de ouro, estava muito pró- startup, fácil para captar, com muitas empresas virando ‘unicórnio'”, diz João Ventura, fundador e CEO da Sling Hub,plataforma que reúne dados do mercado de startups. “Vai demorar muito para voltarmos aos US$ 11 bilhões investidos naquele ano e, com certeza, não será antes de 2025.”
A Sling já detectou um apetite maior dos investidores após algumas grandes rodadas em 2023, como o acordo entre a fintech Meutudo com o BTG, de US$ 417 milhões, e a compra da Pismo pela Visa.
Ventura, porém, é menos otimista que o mercado e diz acreditar que, neste ano, apenas uma empresa chegará ao status de unicórnio. “Hoje, para virar unicórnio é mais difícil e tem de estar muito mais avançada do que há três anos, quando o cenário era mais fácil.”
Investidor
Fernando Freitas, responsável pela área de inovação do Bradesco – que tem o inovabra ventures como fundo de investimentos em startups -, ressalta que, após os dois anos de “excitação total”, o que se viu foi uma queda importante dos investimentos em venture capital e uma seletividade grande dos investidores.
“O foco, a partir do último biênio, passou a ser em empresas com geração de caixa e não mais em crescimento a qualquer custo.”
Excesso de capital
O setor de startups vinha num crescimento constante e sólido a partir de 2015 até o boom ocorrido em 2020 e 2021, visto como “exceções” pelo diretor do Google for Startups Latam, André Barrence.
O excesso de capital disponível gerou distorções no ecossistema. Em sua opinião, os dois anos seguintes, marcados por fechamento de empresas e demissões, foram períodos de ajustes que devem seguir pelo menos até o primeiro semestre deste ano.
Ele diz acreditar que o ritmo de desenvolvimento mais saudável de antes da euforia de empreendedores e investidores vai ser retomado só a partir da segunda metade do ano.
Para Barrence, este início de ano ainda será complicado e provavelmente algumas empresas não consigam novas rodadas de investimento e tenham de fechar, fazer movimentos forçados de consolidação ou venda.
O vice-presidente da ABStartups, Felipe Mattos, também acredita que em 2024 “o cenário de investimentos terá uma retomada, ainda que leve, recuperando a curva de crescimento dos anos pré-pandemia”.
Até 2019, houve crescimento praticamente contínuo do setor.
O gerente de pesquisas da empresa de inovação Distrito, Eduardo Fuentes, confirma que o ecossistema de startups passou por escassez de investimentos nos últimos 12 a 18 meses, como parte de um ciclo de ajuste necessário após um período de excesso de liquidez que gerou algumas distorções no mercado.
“Agora, com empresas conseguindo se ajustar, somado a uma redução da taxa de juros, o mercado começa a atrair novamente mais investidores.”
Otimismo
“Temos tudo para virar ‘unicórnio’ e acho que, se não formos nós, não vai ter nenhum no segmento de agtechs (as startups de tecnologia para o agronegócio) este ano”, diz Sérgio Rocha, fundador e CEO da Agrotools, considerada uma das maiores empresas no ecossistema de soluções digitais, tecnologia e inteligência para o agronegócio.
Apesar da confiança, ele afirma estar satisfeito com o apelido, recebido recentemente, de camelo, uma alusão ao animal de grande resistência que habita principalmente o deserto.
“Vejo a Agrotools como uma empresa que consegue passar por momentos de adversidade e tirar o melhor desse período”, diz.
Com informações do jornal O Estado de S. Paulo/Estadão Conteúdo
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