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Sócio torcedor x season ticket: qual modelo é o mais eficiente?
Uma das boas criações do futebol brasileiro foram os projetos de sócios torcedores. Juntar a arquibancada ao clube, chamá-lo de sócio, antecipar receitas de vendas de ingressos foi uma grande sacada. Mas como se comparam com o que se faz no futebol europeu? Vamos tratar disso na coluna de hoje.
Sócio torcedor x season ticket
Primeiro ponto é separar os modelos brasileiros e de clubes europeus. No Brasil, vendemos o conceito de sociedade, onde o torcedor paga uma mensalidade para ter direito a uma possível troca de ingressos ao longo da temporada. Já na Europa – e nos EUA também – o que se faz é a venda do “season ticket”, que são todos os jogos da temporada disputados em casa.
Ou seja, enquanto no Brasil vendemos o direito a tentar comprar o ingresso, na Europa vende-se o assento para todos os jogos.
Essa diferença nasce por dois motivos principais: os usuais problemas de calendário no Brasil, que no passado eram mais comuns e havia mudança de horário e dia de jogos o tempo todo, e a nossa incapacidade de respeitar o número de assento comprado.
Hoje o calendário brasileiro é mais previsível, ainda que nem sempre tenhamos a tabela toda apresentada e definida no início da competição, e nos programas de sócios torcedores já conseguimos maior respeito à marcação dos assentos, principalmente nas áreas premium.
Sócio torcedor x season ticket
A diferença dos modelos de sócio torcedor e season ticket é importante.
Isso porque enquanto a assinatura da season ticket na Europa costuma dar direito aos bilhetes pelos jogos da liga, descontos em artigos dos clubes e prioridade na compra de ingresso para competições continentais, no Brasil o modelo permite benefícios em todas as partidas. E dá ainda alguns benefícios, como alguns brindes na assinatura – nem sempre de grande valia, mas vá lá – e benefícios semelhantes a programas de relacionamento tradicionais, com descontos em vários parceiros comerciais.
Um exemplo de sucesso recente foi a criação da wallet de pagamento Palmeiras Pay, que já rende cerca de R$ 13 milhões de receitas em 2023.
Exemplos de sócios torcedores
Há ainda casos como o Internacional e o Grêmio, que garantem presença na vida política do clube, como parte do processo eleitoral, direta ou indiretamente.
O programa de sócio torcedor no Brasil, portanto, é mais amplo que o equivalente europeu, ainda que o acesso aos ingressos tenha cláusulas de barreira, como prioridade a quem comparece mais aos jogos. Parte do processo.
Qual modelo é o mais caro: sócio torcedor ou season ticket?
Mas quanto custa isso, comparativamente? Pagamos muito ou pouco?
Vamos a alguns dados, como os apresentados no gráfico abaixo:
No gráfico acima temos a média de público na Série A dos principais clubes em receitas de sócios torcedores em 2023. Junto, pegamos o valor médio que os sócios torcedores pagam anualmente aos clubes – obtidos através da divisão entre as receitas com sócios torcedores e o número médio de sócios adimplentes informados recentemente numa matéria do portal GE – e dividimos por 19 partidas, que são as jogadas em casa no campeonato brasileiro. Daí, chegamos no que seria supostamente o ticket médio por jogo.
Aqui há uma certa inconsistência na análise, porque os sócios torcedores podem ir a qualquer jogo, e no caso do Fluminense é possível que os valores estejam impactados pela performance na Libertadores do ano passado. Ainda assim, é uma referência, pois esses valores permitiriam ir a todos os jogos do campeonato brasileiro.
Vamos então comparar esses números com alguns clubes europeus, cujos dados foram fornecidos pelo site Calcio & Finanza. Os valores são em reais:
Naturalmente os clubes brasileiros operam com valores inferiores aos europeus. Na amostra, o menor europeu fica 25% acima do maior brasileiro. Novamente, referência de amostra para termos uma sensibilidade sobre o tema. Chama a atenção o número do Arsenal, bastante superior ao do Manchester City.
Novamente, as comparações não são perfeitas, seja pela quantidade de jogas que os programas de sócio torcedores abrangem, seja porque algumas categorias obtêm descontos e não entrada “gratuita”, enquanto no season ticket é o valor efetivo por partida.
Ainda assim, vale observar que em termos de valores ambos operam num intervalo próximo.
Comparação nas ligas
E quando ampliamos para as ligas? Como elas se comportam, na média, e onde o campeonato brasileiro se insere? Vamos ao gráfico abaixo, referente às temporada 2023 (Brasil) e 23/23 (Europa):
O que chama a atenção é a natural distância nominal entre as ligas, mas especialmente a representatividade em relação à renda média anual do país.
Obviamente que num país grande e desigual como o Brasil, calcular a representatividade pela média de renda nacional – em 2023 de R$ 1.848 mensais segundo o IBGE – causa distorções, ainda mais quando há concentração de clubes da Série A nas regiões Sul e Sudeste, de renda média superior às demais regiões, mas essa também é uma realidade de outros países, como a Itália e a Espanha, de renda média concentrada no norte e nas principais cidades. Ainda assim, se fizermos o cálculo pela média entre Sul e Sudeste (R$ 2.202 mensais), a participação seria de 1,8%, semelhante à da Premier League.
Avaliações gerais
O programa de sócio torcedor é uma boa estratégia criado pelos clubes brasileiros. Consegue receitas interessantes, antecipa vendas e ocupação dos estádios, e está cada vez mais buscando formas de rentabilizar a relação com o torcedor.
Entretanto, comparativamente aos clubes europeus, o sistema é caro e compromete mais da renda do torcedor brasileiro que o equivalente gringo. O exercício de comparação nos mostra a realidade que nos separa do mundo rico do futebol.
Aqui dá para falar mais sobre uma série de temas associados: gestão mais eficiente dos custos do futebol, que permita reduzir a necessidade de receitas; evolução no trabalho de busca de mais receitas comerciais; transformação das categorias de base em unidade de negócio, que traga mais atletas e dinheiro; organização para reformar o produto e aumentar seu valor.
Tudo isso e mais um pouco é possível, e necessário. Só precisamos fazer.
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