O foco da incorporadora Tenda em 2025 será no ganho de margem e não no crescimento ou na velocidade de venda. A informação foi transmitida pelos executivos da companhia a investidores, em evento nesta terça-feira (17).
A empresa divulgou, na noite de segunda (16), guidance para as suas operações. É esperada uma margem bruta ajustada de 34% a 36%, ante 34,1% do terceiro trimestre deste ano.
As vendas líquidas devem alcançar de R$ 3,8 bilhões a R$ 4 bilhões, ante R$ 4 bilhões no acumulado dos últimos 12 meses. O último guidance da empresa era de R$ 4,1 bilhões a R$ 4,4 bilhões para 2024.
Segundo Renan Sanches, diretor de operações da Tenda, a empresa já evoluiu de uma produção anual de 15 mil unidades em 2023 para 20 mil em 2024. “O risco operacional de crescer demais não seria sustentável.”
Dos lançamentos da empresa, 53,3% estão na faixa 1 do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), para famílias que ganham até R$ 2.640 ao mês, e 46,7%, na faixa 2, para rendas de até R$ 4.400. A Tenda quer manter essa distribuição, a não ser que aumentos de custo a forcem a aumentar o valor da unidade acima do que as famílias da faixa 1 conseguem pagar. Programas estaduais e municipais de habitação ajudam a evitar isso, concedendo cheques que facilitam o pagamento da entrada desses clientes.
Sanches também reforçou que a empresa tem conseguido manter um custo de obra abaixo do INCC, o índice de inflação da construção, tanto em mão de obra quanto em materiais. “Ao longo do tempo, a Tenda vai aumentar o preço dos materiais, como outros empresas, mas isso salva duas safras.”
A Tenda teve problemas com estouro de custo de obra durante a pandemia e tem se recuperado disso nos últimos trimestres. A empresa elevou seu preço médio nominal das unidades em 4,6% neste ano, mas o preço por metro quadrado subiu mais, em 8,5%, para R$ 5.691. Isso foi causado pela diminuição do tamanho médio das unidades, que passou de 39 metros quadrados para 37,6 metros quadrados.
Rodrigo Osmo, CEO da Tenda, afirma que esse já é o limite inferior no qual a empresa pode atuar, ou seja, novos ganhos de rentabilidade não devem vir de mais diminuições de área. A companhia tem apostado em mudanças no mix de produtos, como a conversão da janela da sala do imóvel em sacada, que aumentam o valor percebido para a unidade.
Distribuição de dividendos
Perguntado sobre distribuição de dividendos, Luiz Mauricio Garcia, diretor financeiro, afirmou que a empresa deve distribuir em 2025 apenas o valor obrigatório, de 25% do lucro de 2024. A Tenda voltou a distribuir dividendos neste ano, pela primeira vez desde 2021. Segundo ele, uma distribuição maior pode ser possível a partir de 2026, já que a companhia estará mais desalavancada.
Na manhã desta terça, a incorporadora anunciou uma operação de derivativos, de R$ 2,26 milhões com suas ações. Como explica Garcia, diretor financeiro, é uma alternativa a um programa de recompra de ações. “Para fazer do jeito tradicional, teria que ter reserva de lucro, e a nossa é pequena, por conta do prejuízo que demos no passado.”
Logo após o meio-dia, a ação da Tenda subia 3,19%, para R$ 12,94. Além do guidance, a valorização está relacionada com o anúncio de venda de participação na Alea, sua subsidiária que faz casas em wood-frame, método de construção industrializada em madeira.
Sócio na Alea
O anúncio da chegada de um novo sócio na Alea foi feito na noite de segunda (16), em comunicado da companhia. O fundo GK (Good Karma Partners) vai adquirir 6,97% do capital social da empresa, por R$ 80 milhões, o que resulta em um valuation de R$ 1,09 bilhão para a Alea, 55% do valor atual da Tenda, como destacaram analistas em relatórios após a divulgação do acordo.
Segundo Osmo, a operação é “uma forma clara de precificar o ativo”. Havia a percepção, por parte da Tenda, de que o valor da Alea não era percebido pelo mercado. A operação da subsidiária registra prejuízo líquido no acumulado deste ano, até setembro, de R$ 50,9 milhões. No evento com analistas, os executivos afirmaram que 2024 deve ser o último ano com prejuízo na Alea. O guidance da empresa para 2025 é ficar entre a neutralidade e um lucro líquido de R$ 20 milhões.
De acordo com Osmo, a empresa também não tem conseguido se aproveitar dos benefícios ambientais que o método construtivo da Alea possibilita. O fundo GK, por ser focado em negócios de impacto, conseguiria direcionar melhor esse valor. “Nos alavancamos muito pouco nisso. Eles vão nos ajudar a conseguir articular um discurso mais redondo para a Alea, nesse sentido.”
Reforma tributária e “incentivos perversos”
A perspectiva para a Alea também é positiva por causa da reforma tributária, que, segundo o CEO, deve tirar “incentivos perversos” para a construção civil atualmente. “Certamente o ‘offsite’ vai ganhar representatividade”, diz.
Com a operação da Alea, o executivo destacou que o mercado vai precisar mudar sua percepção sobre a Tenda. “Esse não é mais um ativo de risco”, disse. Ainda de acordo com ele, a Alea tem maior possibilidade de crescimento e menos concorrentes no mercado.
A venda de participação para o GK prevê uma saída do sócio caso a Alea não faça um IPO (oferta pública de ações, na sigla em inglês) em até seis anos.
*Com informações do Valor Econômico
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