Petrobras (PETR4) fecha em queda firme e mercado pergunta: como vai ficar a política de preços se o petróleo disparar?

Analistas apontam os riscos na mudança de estratégia e cobram mais explicações

Refinaria da Petrobras (PETR3; PETR4). Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Refinaria da Petrobras (PETR3; PETR4). Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

A Petrobras (PETR3; PETR4) reforçou sua responsabilidade no fornecimento de combustível no Brasil e deve aumentar sua participação de importações com a nova estratégia de preços anunciada na terça-feira (16), diz o UBS BB em relatório.

Nesta quarta-feira (16), os papéis recuaram 2,43%, a R$ 25,66.

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Os analistas Luiz Carvalho, Matheus Enfeldt e Tasso Vasconcellos participaram de uma reunião da diretoria da empresa com bancos e a companhia reiterou que vai manter os preços em uma faixa entre a paridade internacional e o valor marginal da companhia.

O banco destaca que a definição do que é esse custo marginal ainda não está claro, se inclui ou não custos integrados e de refino, mas a companhia afirmou que inclui margem de lucro e expectativa de retorno.

Após os comentários da companhia, eles notam que enquanto o cenário macroeconômico estiver sobre controle, com câmbio e barril do petróleo em baixa, os riscos envolvendo a nova estratégia de preços são baixas.

No entanto, no cenário em que a Petrobras precise aumentar os preços dos combustíveis, há menos mecanismos claros, o que pode levar a companhia a represar reajustes, comprometendo margens.

“Se os preços internacionais subirem e a Petrobras permanecer estruturalmente abaixo da paridade, a companhia vai precisar importar combustível para assegurar a oferta do mercado”, comentam.

O UBS BB tem recomendação de venda para Petrobras, com preço-alvo em R$ 20 para as ações preferenciais (PETR4).

Mais explicações

A Petrobras não conseguiu responder adequadamente a questões de analistas sobre qual o valor marginal da companhia na formulação dos preços da sua nova estratégia de preços divulgada na terça-feira, diz a XP.

Os analistas André Vidal e Helena Kelm escrevem que durante teleconferência com o diretor financeiro, Sergio Leite, o executivo afirmou que o indicador inclui uma soma de custo, margem e taxa de retorno sem dar muitos detalhes quantitativos.

“Também não explicou, por exemplo, se esse valor marginal inclui a opção alternativa de vender o petróleo diretamente ao mercado interno ou internacional ao invés de refiná-lo”, comentam.

A corretora mantém a visão que pouco deve mudar na prática do que era feito na política de paridade internacional (PPI), mas que o processo agora tornou-se muito mais complexo de ser auditado tanto internamente quanto pelo mercado.

Caso os preços do petróleo dispare, os analistas temem que a atual gestão sofra pressão política e fique tentada a explorar quais são os limites da nova estratégia de preços frente às restrições estatutárias da Petrobras.

A XP tem recomendação de compra para Petrobras, com preço-alvo em R$ 35,50 para as ações preferenciais.

Mais clareza

O anúncio da Petrobras de uma nova estratégia de precificação de diesel e da gasolina, substituindo a política atual de baseada na paridade de preços de importação, representa uma redução importante de risco na tese de investimento, se seguida corretamente, avalia o Itaú BBA, em relatório.

Os analistas Monique Greco, Bruna Amorim e Eric de Mello escrevem que o anúncio, embora não traga muita clareza sobre os parâmetros e a periodicidade dos ajustes, descarta os piores cenários e considera uma abordagem técnica razoável como alternativa à paridade de preços de importação com base nos valores marginais dos produtos para a Petrobras.

Segundo eles, este valor marginal é uma saída do modelo de otimização linear que funciona bem como um “proxy” (referência) para o custo de oportunidade da empresa para seus produtos e pode indicar diferentes referências de preço em regiões que podem variar entre as alternativas de exportação e importação para a produção de combustível da empresa.

“Vemos o valor marginal funcionando como um preço mínimo de referência para a empresa definir preços competitivos para gasolina e diesel em cada região do país, considerando níveis desejados de participação de mercado e utilização da refinaria”, dizem.

Além disso, o anúncio parece ter sido bem recebido pelos membros do governo, dizem os analistas, o que pode ajudar a aliviar a pressão associada sobre a empresa.

Eles ressaltam que ainda há dúvidas sobre como a empresa conseguirá evitar o repasse da volatilidade aos preços domésticos se os preços internacionais ou as taxas de câmbio dispararem novamente, forçando os custos de oportunidade significativamente para cima.

Por fim, os analistas destacam que os números da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) indicam um prêmio à paridade de 15% para gasolina e 9% para diesel, e considerando que a Petrobras anunciou redução de preço de 12% para a gasolina e 13% para o diesel, pode sugerir que já está buscando uma estratégia comercial para ser mais competitiva no diesel, dada a maior entrada de diesel importado nas últimas semanas.

O Itaú BBA tem recomendação neutra para as ações preferenciais da Petrobras, com preço-alvo de R$ 27.

Cenário pessimista menos provável

A nova estratégia de precificação do diesel e da gasolina anunciada pela Petrobras, que mantém os princípios de mercado, reduz a percepção de risco e contribui para a visão de que um cenário pessimista para a Petrobras agora parece improvável, diz o BTG Pactual, em relatório.

Os analistas Pedro Soares e Thiago Duarte escrevem que o anúncio remove temores relacionados a potenciais subsídios aos preços dos combustíveis no Brasil ou mesmo importações de combustível.

Segundo eles, a nova política indica uma postura mais agressiva da nova gestão e provavelmente margens mais baixas no negócio de refino na tentativa de aumentar volumes, mas não deve ter impactos significativos no curto prazo.

Os analistas dizem que grande parte dos resultados da Petrobras são impulsionados pelas operações de produção e exploração, e assim pequenos ajustes na política de preços de combustíveis não devem gerar revisões significativas para as estimativas.

Eles assumem Brent em US$ 80 por barril e estimam queda de apenas 2% no lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) para cada redução de US$ 5 por barril nos “crack spreads”.

Os analistas dizem ainda que, apesar do sentimento melhorado, esperam que a administração dê mais clareza quanto à política de dividendos da Petrobras.

O BTG Pactual tem recomendação neutra para os recibos de ações (ADRs) da Petrobras negociados na Bolsa de Nova York, com preço-alvo de US$ 14.

Perfil de crédito em risco

A nova estratégia de preços divulgada pela Petrobras traz incertezas sobre a continuidade na paridade com os preços internacionais do petróleo, o que pode causar perdas para a companhia caso essa diferença não seja repassada, prejudicando seu perfil de crédito, diz a Moody’s.

Os analistas Carolina Chimenti, Danilo Arashiro e Marcos Schmidt não acreditam que a companhia vai desviar materialmente os preços da gasolina e do diesel do petróleo internacional para evitar assimetrias e possível desabastecimento no mercado doméstico.

No entanto, a agência de classificação de riscos afirma que no médio prazo os preços do barril do petróleo devem ficar na parte de cima ou excedendo a faixa entre US$ 55 e US$ 75, abaixo dos patamares vistos em 2022, mas ainda assim podendo forçar a Petrobras a represar preços e incorrer em perdas.

Eles notam que as métricas de crédito e liquidez da Petrobras atualmente são robustas, com baixa alavancagem, caixa de R$ 13,2 bilhões ao fim de março e expectativa de geração de US$ 40 bilhões neste ano.

No entanto, mudanças na política de preços podem causar deterioração na qualidade desses indicadores.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


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