Análise: Equipe de Guedes tem viés de baixa para PIB de 2023, mas vê mercado pessimista demais

Governo avalia que setor de serviços e mercado de trabalho devem ajudar no crescimento mesmo com juros altos, diz Fabrio Graner, do JOTA

Paulo Guedes, ministro da Economia (Foto: Agência Brasil)
Paulo Guedes, ministro da Economia (Foto: Agência Brasil)

A equipe econômica tem um viés de baixa para o cenário de crescimento de 2023, hoje oficialmente projetado em 2,5%. Mas avalia que o mercado financeiro mais uma vez está subestimando o desempenho futuro da atividade produtiva do país, como tem ocorrido sistematicamente desde 2020.

Na visão do governo, a leitura (que por razões óbvias considera a manutenção do atual governo e do regime de política econômica) é de que os analistas ainda não estão incorporando adequadamente o ciclo de investimentos em curso.

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Além disso, a área econômica entende que o setor de serviços e o mercado de trabalho devem ajudar no crescimento, mesmo em um ambiente de juros mais altos. E isso tudo, avaliam, complementado por investimentos estrangeiros, que trocariam o ambiente recessivo/estagflacionário dos países avançados por economias com inflação estabilizada e demanda em alta – e que, para o time de Paulo Guedes, seria o caso do Brasil.

Já o mercado financeiro tem reduzido suas projeções para o PIB de 2023, diante do acúmulo de incertezas em várias frentes (externas e domésticas) e do processo de aperto monetário que está próximo do fim, mas ainda segue em curso. Atualmente, o crescimento econômico esperado para o próximo ano é de 0,4%, na mediana dos analistas consultados pelo BC.

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Aliás, em uma breve digressão que tem tudo a ver com esse tema, o Banco Central elevou nesta quarta-feira (3) a taxa básica de juros para 13,75% e indicou que pode chegar a 14% para fazer a inflação convergir à meta no primeiro trimestre de 2024, criando uma espécie de horizonte ajustado para a meta de inflação, algo incomum na história recente da política monetária e cujas repercussões ainda são incertas.

Nos bastidores da campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera as pesquisas para o pleito de outubro, o cenário para 2023 está mais próximo do apresentado pelo mercado do que do visto pelo governo. Sem falar em números, interlocutores destacam a recessão internacional (que nos Estados Unidos já começa a aparecer nos dados) e a forte alta de juros em curso lá fora para apontar que o primeiro ano do próximo governo será bastante difícil.

Esse cenário “sombrio” é apontado como uma das justificativas para os sinais dados na direção de uma postura mais expansionista na política fiscal em 2023, caso Lula vença. A ideia na campanha seria, com política social e mais investimentos públicos, ativar a atividade econômica no primeiro ano de governo, enquanto o arcabouço fiscal de longo prazo é desenhado e negociado com o Congresso.

Nessa guerra de previsões, a única coisa que é indiscutível é que o cenário de 2023 está com uma incerteza muito alta, acima do normal. Essa tem sido a tônica nos últimos dois anos marcados pela pandemia e suas consequências, mas agora isso é agravado pelo ciclo eleitoral.

De fato, o mundo está numa rota de perda de vigor que ninguém sabe realmente onde vai parar, especialmente porque o Federal Reserve claramente ainda está definindo até onde vai com sua política monetária. Além disso, há também um ambiente geopolítico que segue se deteriorando e que pode ter múltiplos impactos.

No front doméstico, há relevantes dúvidas sobre como a inflação vai se comportar e quanto à eficácia do Banco Central em seu combate. E na política fiscal, as dúvidas são ainda maiores. Seja Bolsonaro ou Lula o vencedor da eleição, os sinais são de expansão fiscal para 2023, mas a dosagem é desconhecida, e o arcabouço de longo prazo ainda mais incerto, tanto em um caso como no outro (embora sob Bolsonaro a tendência seja um pouco mais do mesmo que se tem visto desde o ano passado, com o teto sendo furado conforme a conveniência do governo e do Congresso). E isso em um ambiente de custo mais alto para a dívida pública.

Os elementos de incerteza não se esgotam nos citados acima. Mas eles já são suficientes para servir de alerta para que se tenha cautela com discursos muito convictos sobre o que vem por aí. O governo até andou ganhando a queda de braço com o mercado sobre o nível de atividade nos últimos anos, é preciso reconhecer, mas ainda é cedo para jogar todas as fichas de que estará certo de novo. A hora é de ponderação.

(Por Fabio Graner, analista de economia do JOTA em Brasília)
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