7 de setembro: mercado vê baixo risco de avanço de Bolsonaro contra as instituições

Mesmo que Bolsonaro repita o tom das manifestações de 2021, golpismo não deve avançar, dizem analistas

Presidente Jair Bolsonaro em discurso na avenida Paulista, em São Paulo. Foto: Isac Nóbrega/PR
Presidente Jair Bolsonaro em discurso na avenida Paulista, em São Paulo. Foto: Isac Nóbrega/PR

A proximidade das manifestações marcadas para esta quarta-feira, 7 de setembro, em apoio a Jair Bolsonaro pode até repetir o tom bélico do ano passado, mas os efeitos sobre o mercado e investidores seriam mínimos, avaliam os analistas.

Em 2021, Bolsonaro recrudesceu seu discurso contra o sistema eleitoral brasileiro e atacou o Supremo Tribunal Federal, em especial, o ministro Alexandre de Moraes, o que ampliou os temores de um golpe de estado apoiado pelas Forças Armadas.

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Nesta quarta, Bolsonaro estará novamente acompanhado de militares e seu aparato bélico. Apesar do cenário, a expectativa é a de que o presidente não cruze nenhuma linha que já não tenha atravessado anteriormente, o que não causaria grandes solavancos no mundo dos investimentos.  

Para André Perfeito, sócio da plataforma de investimentos Necton, uma eventual reprodução do discurso bélico não teria efeitos sobre o mercado. “Não acho que vai ter nenhum impacto”, avalia.

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Para o analista, uma reação mais forte dos investidores só deve acontecer no caso de um tumulto tamanho que venha a colocar em risco a realização das eleições. “Mas não acho que isso seja possível”, avalia.  “Uma ruptura clara, não acho provável. Me preocupa mais, neste momento, a crise do gás na Europa que os fatores domésticos”, afirma.

O Economista-chefe da Planner, Ricardo Martins, também vê uma reação amena do mercado e não trabalha com a hipótese de altos riscos ou fortes movimentações.

Martins confia na capacidade do mercado de se antecipar aos fatos. Para ele, se houvesse chance de uma ofensa mais grave às instituições, o mercado já teria precificado.

“Os investidores já teriam exigido taxas de retornos maiores nos recentes leilões de infraestrutura, o CDS já estaria muito mais alto, o câmbio já refletiria negócios muito mais nervosos com cotação mais alta e refluxo de parte do capital do investidor estrangeiro”, diz o economista da Planner.

Discurso beligerante é “estratégia de campanha”

Bruce Barbosa, sócio da casa de análise Nord Research, avalia que a chance de um avanço para um golpe institucional é “muito baixa” e a repetição de um eventual discurso beligerante será encarado com naturalidade pelo mercado.

“Não espero uma reação forte”, diz o analista. “Trata-se de estratégia de campanha, arrumar um inimigo para bater, e depois apertam-se as mãos”, avalia.

Mesmo eventuais ofensas a poderes e ameaça de golpes não é uma preocupação. “Já aconteceu tanto que o mercado se acostumou. Isso vem desde o começo da pandemia, lá atrás. O mercado já nem presta mais atenção”, diz Barbosa.

“Mais ruído do que sinal”

Para Matheus Spiess, analista de investimentos da Empiricus Research, um discurso mais duro do presidente contra as instituições, como no ano passado, deve ser visto “mais como ruído do que como sinal”.

“Não entendo que um tom bélico seja utilizado. Eventualmente, um tom mais agressivo pode ser, sim, observado, mas um tom belicoso não acho que seja o caso, até porque o momento é diferente do de setembro do ano passado”, afirma o analista da Empiricus.

Os riscos envolvidos, segundo Spiess, estão relacionados ao pós-eleição, diante de uma eventual ofensa às bandeiras defendidas pelo mercado, como a responsabilidade fiscal e reformas estruturantes, e, principalmente, a contestação do resultado eleitoral e questionamento das instituições.

Se o improvável acontecer…

Embora um avanço da instabilidade na direção de um golpe de estado seja improvável, se isso acontecer, o mercado deve, sim, ter alguma reação, diz Martins, da Planner.

Qualquer indício de apoio das forças armadas a um eventual aprofundamento da crise institucional deve trazer uma “forte volatilidade na bolsa, câmbio e juros, com valuations sendo revistos e exigindo-se prêmio de risco soberano muito maior, CDS subindo rapidamente e câmbio fortemente pressionado”, avalia.

Mas a tendência, segundo o economista, é que o mercado se estabilize com o tempo. “Posteriormente, o mercado reavaliaria e tenderia à calmaria, diz Martins.

Pessimismo com a eleição

Se o discurso beligerante não causa arrepios no mercado, a proximidade das eleições, sim, avalia Bruce, da Nord Research.

“O mercado está com medo das eleições e ficou pessimista demais, mas não por causa disso (do tom beligerante de Bolsonaro)”, afirma Barbosa. O temor, para o analista, está relacionado mais às promessas de campanha dos candidatos que lideram as pesquisas, Bolsonaro e Lula.

“Os dois principais candidatos querem furar o teto (de gastos), querem gastar mais. Então, o mercado colocou isso como risco, e ano que vem vamos ter um gasto bem maior que não vai caber no teto. Está todo mundo tentando fazer a conta”, arremata.

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