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Análise: Campanha de Lula usa polêmica do “dinheiro vivo” para contra-atacar Bolsonaro
Depois de duas semanas na defensiva, a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) planeja atacar, numa tentativa de manter ou aumentar a taxa de rejeição do rival direto Jair Bolsonaro. O primeiro campo escolhido pelo ex-presidente para o confronto é o da corrupção. A guinada na comunicação deve ser debatida nesta terça-feira (6) em reunião do QG de partidos que integram a coligação lulista.
Auxiliares do petista avaliam que a conduta errática de Lula no primeiro debate na TV quando questionado sobre o assunto por Bolsonaro teve efeito negativo sobre indecisos e eleitores de outros candidatos de centro.
Diante desse diagnóstico, estrategistas lulistas monitoraram durante uma semana os temas mais sensíveis ao bolsonarismo na seara ética e decidiram encampar a tese do “dinheiro vivo”, que obteve alcance fora das bolhas políticas.
A campanha petista produz peças explorando a reportagem do Portal UOL, que apontou a aquisição de 51 imóveis por familiares de Bolsonaro supostamente com pagamentos em espécie, o que denotaria dúvida sobre a origem dos recursos.
Risco calculado
O terreno das acusações de corrupção é movediço para Lula, que foi preso pela operação Lava-Jato e conviveu com escândalos de largas dimensões em seus mandatos, como o Mensalão e o Petrolão.
Operadores políticos do PT acreditam, contudo, que Bolsonaro não pode ser poupado e liberado de dar explicações durante a campanha pelas denúncias de malfeitos do seu entorno familiar. “Deixar o presidente confortável para atacar não me parece a melhor estratégia. Precisamos mostrar ao eleitor que ele também tem problemas e contradições graves nessa área. Não é disputa do bem contra o mal, como ele quer”, afirma ao JOTA uma fonte credenciada da campanha lulista.
O que a equipe de Lula deseja, contudo, é evitar que Bolsonaro tenha sucesso em sua tentativa de expandir a rejeição de Lula até 2 de outubro sem que também exista uma intensificação do desgaste da imagem do presidente. “É uma eleição em que o menos rejeitado vencerá. Não podemos ficar paralisados. Temos de atuar no campo da desconstrução também”, completa essa fonte.
Lavajatismo
No front bolsonarista, a nova investida de Lula reforça a ideia de aproximação da campanha com o eleitorado lavajatista, que apoiou a eleição do presidente em 2018, mas hoje está dividido, sobretudo após a saída do ex-juiz Sergio Moro da disputa.
Emissários de Bolsonaro e Moro têm conversado nas últimas semanas com vistas a um entendimento que poderia ser oficializado em eventual segundo turno.
Com a ofensiva de Lula sobre os imóveis adquiridos pela família Bolsonaro, há quem defenda no QG bolsonarista uma aceleração nas tratativas, o que serviria para trazer ao centro do debate eleitoral os casos do tríplex do Guarujá e do sítio em Atibaia, que ganharam repercussão nacional e serviram para compor o quadro que levou à condenação de Lula em duas instâncias, antes de o STF apontar erro de forma e devolvê-los à estaca zero, liberado o ex-presidente para concorrer ao Planalto.
(Por Fábio Zambeli, analista-chefe do JOTA em São Paulo)
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